Afeto atravessa telas

Idosos superam o sedentarismo e a exclusão digital em atividades do projeto Acolher, do Curso de Fisioterapia em Poços de Caldas
A professora Maria Imaculada (à direita), coordenadora do projeto Acolher, diz que a iniciativa foi concebida a partir de vivências prévias em cuidados com idosos | Foto: Fernanda Garcia
A professora Maria Imaculada (à direita), coordenadora do projeto Acolher, diz que a iniciativa foi concebida a partir de vivências prévias em cuidados com idosos | Foto: Fernanda Garcia

Não é à toa que alguns dicionários atribuem ao verbo acolher o significado de oferecer abrigo, agasalhar. Gestos acolhedores são justamente aqueles que, em linguagem popular, deixam o coração quentinho. É o efeito de ações que reforçam laços com pessoas que, muitas vezes, sentem o frio da desconexão com o mundo por estarem à margem de certas dinâmicas e contextos sociais.

Tal estado tem sido flagrante na terceira idade ao longo do período pandêmico. O cotidiano restrito às paredes da própria casa, a impossibilidade de manter um convívio próximo com os familiares, a perda de condicionamento físico e a dificuldade em manusear as ferramentas tecnológicas usadas no contato a distância são alguns dos fatores que têm comprometido a saúde física e mental deste grupo tão vulnerável.

Pensando nisso, professores e alunos do Curso de Fisioterapia da PUC Minas Poços de Caldas têm desenvolvido, desde o início de 2021, o projeto de extensão Acolher – Uma Visão Humanizada do Envelhecimento. A iniciativa viabiliza uma série de ações pautadas nas demandas atuais da terceira idade, incentivando a prática de exercícios físicos no ambiente domiciliar e orientando pessoas idosas no processo de inclusão digital.

O projeto é coordenado pela professora Maria Imaculada Ferreira Moreira e conta com cerca de 20 estudantes de Fisioterapia do Campus, entre voluntários e bolsistas. A atuação consiste, principalmente, na produção de conteúdo para perfis em redes sociais e na realização de encontros online sobre temas variados, sempre conduzidos por especialistas. As reuniões criam um espaço fértil para o diálogo entre gerações, graças à união dos universitários com os “veteranos da vida”.

Vozes da experiência

O estudante Matheus Milani Muniz de Souza, que está no sétimo período de Fisioterapia, conta que o projeto tem lhe proporcionado aprendizados muito valiosos | Foto: Fernanda Garcia

A professora Maria Imaculada conta que o projeto Acolher foi concebido a partir de vivências prévias nos cuidados com idosos, como trabalhos sobre disfunções cardiorrespiratórias e um projeto de extensão chamado Respirações, voltado à promoção do envelhecimento ativo para pessoas com fatores de risco. Outra motivação veio de uma parceira do projeto, a professora Teresa Cristina Alvisi, que coordena o Curso de Fisioterapia do Campus Poços de Caldas e acumula experiências acadêmicas e extensionistas ligadas à terceira idade. Universidade Aberta é o nome de uma das iniciativas mais bem-sucedidas neste campo.

Dados de participantes dos projetos anteriores ajudaram a formar uma base para divulgação das ações vinculadas ao Acolher. Os conteúdos são distribuídos em diferentes redes sociais, como Instagram, Facebook, YouTube e WhatsApp. Já os encontros ao vivo, chamados Noites Acolhedoras, ocorrem por meio da plataforma Google Meet. Em reuniões quinzenais, já foram abordados assuntos como técnicas de respiração e meditação, convivência entre gerações, saúde mental e espiritualidade.

“O que temos percebido ao longo dos encontros é que o público entra e se sente à vontade para participar. Já ouvimos relatos de pessoas que estavam felizes por conseguir acompanhar uma live ou entrar em uma reunião online. Nosso objetivo é acolhê-las neste momento em que, apesar de fisicamente distantes, podemos estar mais próximos por meio das plataformas digitais”, ressalta a professora Maria Imaculada.

Caminhos e travessias

Para os alunos, o Acolher tem permitido ampliar horizontes profissionais. É o caso do estudante Matheus Milani Muniz de Souza, que está no sétimo período de Fisioterapia e atua como bolsista de extensão no projeto. Ele conta que o campo da geriatria não estava em seus principais planos, mas tem proporcionado aprendizados muito valiosos. Como exemplo, ele destaca uma das Noites Acolhedoras que tratou da intergeracionalidade, a qual, em sua visão, foi um dos melhores encontros, graças à ampla participação e ao compartilhamento de vivências que incitaram reflexões profundas para todos os grupos, dos mais novos aos mais velhos.

Matheus não planeja atuar profissionalmente com foco na área geriátrica, pois seu objetivo maior está ligado ao esporte. Ainda assim, ele pretende aplicar junto aos atletas os conhecimentos que tem adquirido na lida com a terceira idade. Na sua avaliação, a prática esportiva pode contribuir para um envelhecimento com mais qualidade.

Após um longo período de dinâmicas exclusivamente remotas, com a flexibilização de atividades práticas na Universidade, reuniões de planejamento e alguns atendimentos passaram a ocorrer presencialmente desde meados de agosto. Os esforços atuais estão direcionados às novas atividades, vislumbrando a ampliação do público. A professora Maria Imaculada demonstra, por exemplo, a vontade de que o Acolher seja incorporado a uma instituição de longa permanência para idosos. Seja qual for o rumo do projeto, ele já provou ter a força de quebrar barreiras, superando a frieza das telas para aquecer corações.

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