Aprendendo a poupar

Pesquisa avalia planejamento financeiro dos jovens no contexto da reforma previdenciária brasileira
Tatiana Letícia de Souza, autora da pesquisa, acredita que educação financeira deve começar desde a infância | Foto Bruno Timóteo
Tatiana Letícia de Souza, autora da pesquisa, acredita que educação financeira deve começar desde a infância | Foto Bruno Timóteo

Aprovada no mês de novembro de 2019, a reforma da Previdência trouxe muitas mudanças que impactam a vida dos brasileiros, principalmente no que se refere ao planejamento das novas gerações. Novas idades de aposentadoria, mudança no tempo mínimo de contribuição, novas regras para quem já é segurado, novas alíquotas de contribuição para a Previdência, entre outras novidades. Nesse momento, o conhecimento em finanças, aliado às reservas financeiras, além do planejamento para a aposentadoria, podem garantir estabilidade sem a dependência somente da renda disponibilizada pela Previdência Social.

Aluna egressa do Curso de Ciências Contábeis da PUC Minas Barreiro, Tatiana Letícia de Souza desenvolveu pesquisa para Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) com 105 jovens, entre 18 e 28 anos, inseridos ou não no mercado de trabalho, e pertencentes a diferentes classes sociais e níveis intelectuais, por meio de questionário virtual. “A minha ideia foi fazer alguma pesquisa na área de finanças, então, resolvi reunir a previdência, visto que é um assunto polêmico e que os jovens são os mais afetados”, comenta.

A pesquisa Planejamento Financeiro Pessoal: um estudo entre jovens inseridos no contexto da reforma previdenciária brasileira, realizada em dezembro de 2020, analisou o cenário previdenciário brasileiro, bem como as alterações propostas pela reforma aprovada, além de investigar o posicionamento dos jovens no que se refere à prática do planejamento financeiro e o nível de conhecimento quanto ao processo de aposentadoria no Brasil.

De acordo com os resultados, apenas 3% dos entrevistados têm um conhecimento alto relacionado à Previdência Social e 9% consideram que o nível de conhecimento é mais baixo. Em uma escala de 1 a 6, em que 1 representava o nível mais baixo e 6 o mais elevado, houve maior concentração entre os níveis 2, 3 e 4, com respectivamente 22%, 26% e 27%, em níveis de conhecimento. Em relação aos aspectos da reforma previdenciária no Brasil, tendo como referência a mesma escala, foi indicado um nível de preocupação dos jovens que predomina entre 5 e 6, com 31% e 30% do total, respectivamente. Quanto à realização de investimentos ou planos voltados para a aposentadoria, a pesquisa demonstrou que 43% não o fazem, pois não sobram recursos para investir, e 30% não investem pois acreditam ser cedo para se pensar no assunto.

Para Tatiana, esses números mostram que aqueles que não se preocupam ou não fazem investimento têm uma noção muito superficial do impacto que a reforma da previdência tem em suas vidas. “Eu queria saber, de modo geral, se eles têm uma noção sobre os impactos da reforma, mas, apesar de terem respostas falando que sim, acredito que, por essa outra resposta, de que eles não fazem nada, me faz acreditar que não estão se preocupando no momento atual, que eles não têm tanta noção desses impactos”, observa a contadora.

Professor do Curso de Ciências Contábeis e orientador da pesquisa, José Vuotto Nievas explica que os números mostraram que aposentadoria não faz parte da cultura do brasileiro. ”As pessoas se preocupam muito com o ter aqui e agora e não se preocupam em ser feliz lá na frente. A maioria da população tem um conhecimento pequeno ou muito baixo de educação financeira, e a pesquisa nos mostrou isso”, explica.

Além das análises feitas em relação à Previdência, Tatiana buscou também verificar qual o posicionamento dos entrevistados a respeito dos aspectos relacionados ao planejamento financeiro, bem como a realização de outros investimentos. Nesse contexto, 72% do total investigado mostraram que a maioria planeja as suas finanças e 28% indicaram não realizar. Vinte e nove por cento dos jovens destinam as reservas mensais para aquisição de bens, 26% afirmam não possuir aquisição de bens e 24% não têm o hábito de fazer reservas. Os dados ainda demostram que os investimentos já realizados pelo público-alvo se concentram principalmente entre as aplicações em poupança (46%), Certificado de Depósito Bancário (CDB) (15%) e nenhuma realização (12%).

José Vuotto explica que a maioria das pessoas investe em poupança por ser uma das aplicações mais populares (24% dos que responderam a pesquisa disseram que conhecem poupança e 19% conhecem ações, mas apenas 10% investem em ações) “Na pesquisa, 61% dos jovens investem em renda fixa, e isso acontece pela segurança, porque ação é renda variável, então, as pessoas têm medo, porque pode variar para menor. A poupança é segura por ter o fundo garantidor, e o jovem vai investir por isso. Em ações há riscos”, analisa o professor.

Educação financeira é fundamental

Vinicius Coradello, técnico em enfermagem, foi um dos participantes da pesquisa e conta que ao longo dos anos tem tentado evoluir os seus conhecimentos referentes ao planejamento financeiro, no entanto, devido a alguns problemas e dificuldades, não tem conseguido poupar parte da sua renda. “Eu já realizei investimentos na poupança, mas a pesquisa me fez refletir sobre a minha situação financeira atual e principalmente em relação a como eu tenho organizado o meu dinheiro. As questões referentes aos tipos de investimentos e à reforma da Previdência me incentivaram a querer entender um pouco mais sobre o assunto”, explica Vinicius.

Tanto para Tatiana, quanto para José Vuotto, buscar conhecimento e começar o planejamento financeiro desde criança é umas das possibilidades para mudar o quadro que a pesquisa mostrou. “Começa pela educação fundamental, com um cofrinho, ensinando como ele guarda o dinheiro dele. Ele recebeu um dinheiro para a merenda, não gastou tudo e começa a guardar o que sobrou. Ter uma educação básica no ensino fundamental e um pouco mais incisiva no ensino médio”, expõe o professor. Tatiana completa: “Se isso fosse implementado de uma forma atraente nas escolas, talvez com um tipo de dinâmica, mostrando a realidade, pudesse ter um efeito muito bacana na sociedade”, completa.

José Vuotto ainda explica que a importância de se começar a pensar e organizar a aposentadoria e o planejamento financeiro ainda quando se é jovem é por estar em plena força de trabalho. “Eu acho que o ponto fundamental é a qualidade de vida lá no futuro. Porque temos que pensar o seguinte, quando você está em idade ativa, você pode produzir, executar várias tarefas e isso traz a você uma renda. Lá no futuro você começa a ter limitações físicas, psicológicas, e uma série de situações devem ser consideradas porque você não vai ter a mesma energia com 65 anos. Então, estabeleça um limite, nem que seja 5% do que ganha, mas estabeleça um valor e guarde, nem que seja uma moeda por dia. Para quem só pode poupar assim, é porque ganha pouco, mas um real por dia, em um ano, são 365 reais, se você ganha um salário mínimo, você poupou quase a metade dele. Quando se quer fazer um investimento, o importante é traçar metas”, finaliza o professor.

Resultados da Pesquisa

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