Coleta seletiva solidária

Extensionistas e alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo atuam em iniciativa de destinação correta do lixo
A extensionista Cecília Moutinho Silva e a professora Viviane Zerlotini: uma nova visão de mundo proporcionada pelo projeto Prosa | Foto: Raphael Calixto
A extensionista Cecília Moutinho Silva e a professora Viviane Zerlotini: uma nova visão de mundo proporcionada pelo projeto Prosa | Foto: Raphael Calixto

Uma iniciativa de coleta seletiva solidária no bairro Santa Tereza, região Leste de Belo Horizonte, que funciona de forma autogestionada e comunitária, chamou a atenção de professores do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Campus Coração Eucarístico da PUC Minas. Atentos a oportunidades para incrementar a formação dos alunos, os professores Viviane Zerlotini, Tiago Castelo Branco e Eduardo Bittencourt trouxeram essa experiência para os seus respectivos projetos de extensão universitária e para dentro da sala de aula – atualmente de forma remota, por conta da pandemia. A destinação inadequada do lixo pode gerar graves problemas e é alvo de estudos em diversas áreas do conhecimento. Entre 2010 e 2019, a geração de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) no Brasil registrou considerável incremento, passando de 67 milhões para 79 milhões de toneladas por ano, apontam dados do relatório Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2020, elaborado pela Abelpre, uma associação civil sem fins lucrativos.

A Rede Lixo Zero Santa Tereza, que tem como um de seus operadores a Cooperativa Solidária dos Trabalhadores Grupo Produtivo da Região Leste (Coopesoleste), é uma das três frentes de atuação da disciplina Prática Profissional – Processos Colaborativos, do 8º período do curso, em que são realizadas práticas extensionistas desde 2018. As outras frentes de atuação da disciplina no primeiro semestre de 2021 são: sistemas de tratamento de esgoto (wetland) e produção de brinquedos infantis para áreas de ocupação. A cooperativa reúne 31 catadores de material reciclável e está localizada no bairro Granja de Freitas. “Com forte natureza extensionista, por sua abordagem eminentemente prática, entendemos que os alunos deveriam colaborar em processos de assessoria técnica que estavam em curso, sob minha coordenação”, conta a professora Viviane, que ministra a referida disciplina e coordena, pelo projeto Prosa, a assessoria técnica junto à cooperativa. O projeto de extensão consiste em uma escola de formação de autoprodutores em processos socioambientais. A Coopesoleste, por sua vez, é parceira do Lixo Zero Santa Tereza, implantado com o apoio do núcleo alternativas de produção, da UFMG, e parceiro do Prosa. A cooperativa recebe parte dos resíduos sólidos recolhidos pela rede no Núcleo Lixo Zero, localizado na rua Bom Despacho. Os moradores gostaram tanto da iniciativa que outro núcleo está sendo construído na rua Anhanguera.

Com o envolvimento dos alunos da disciplina e extensionistas dos projetos Prosa, Tecnologias de Urbanização Sustentável e Regularização Fundiária Plena foram produzidos, no ano passado, diversos materiais, entre eles sacolas ecológicas (ecobag) contendo informações sobre materiais recicláveis e orientações para separação de resíduos domésticos para a reciclagem. Para municiar os estudantes de informações, foram realizadas várias videoconferências, com participação de lideranças comunitárias e especialistas técnicos. No caso da ecobag, a doutoranda em Engenharia de Produção da UFMG Juliana Gonçalves realizou uma oficina virtual com os alunos sobre a separação de resíduos domésticos. “Essa ecobag foi destinada aos moradores do bairro Santa Tereza com o objetivo de esclarecer suas dúvidas em relação ao material que pode ser separado em suas residências e destinado aos catadores. As orientações na sacola auxiliam no aumento da qualidade e quantidade do material separado pelos moradores, melhorando a efetividade da triagem no galpão da reciclagem”, explica Zerlotini.

Nova visão de mundo

Extensionista do projeto Prosa até o final do ano passado, Cecília Moutinho Silva, 20 anos, conta que se envolveu em diversas atividades, entre elas a articulação entre as ações do projeto e a disciplina profissionalizante. “Foi uma experiência muito particular, uma vez que promoveu uma interação entre múltiplas partes de maneira concentrada, articulando diferentes demandas em conjunto com alunos não extensionistas também”, diz. De acordo com ela, é impossível elencar todos os aprendizados obtidos pela extensão universitária. “A experiência dentro do projeto Prosa me apresentou uma nova visão de mundo, extrapolando os limites da Universidade. Poder vivenciar a experiência da extensão universitária foi uma grande oportunidade e definitivamente vou levar todos os aprendizados para minha futura atuação profissional”.

O pesquisador Marcelo Alves de Souza, do Núcleo Alter-Nativas da UFMG, que também presta assessoria técnica à Coopesoleste e está envolvido com o projeto Lixo Zero Santa Tereza, conta que foi convidado para algumas aulas da disciplina Prática Profissional – Processos Colaborativos. A ideia, segundo ele, foi trazer informações sobre como os estudantes poderiam contribuir com os processos e projetos que vinham sendo desenvolvidos pela cooperativa. Ele comenta a importância do trabalho extensionista: “Permite primeiro que os alunos tenham contato com essas experiências, saibam da existência delas e aprendam com elas também. Do ponto de vista pedagógico, é super importante, pois dá a oportunidade de os alunos terem contato com uma experiência em um contexto que não necessariamente teriam se não fosse o projeto de extensão”.

Credibilidade

Para Vilma da Silva Estavam, fundadora da Coopesoleste, o envolvimento da PUC Minas trouxe credibilidade ao trabalho desenvolvido pela cooperativa | Foto: Raphael Calixto

A presidenta e fundadora da Coopesoleste, Vilma da Silva Estavam, destaca que o envolvimento da PUC Minas trouxe credibilidade ao trabalho desenvolvido pela cooperativa. “As pessoas têm visto o nosso trabalho com outros olhos, porque até então a gente não tinha essa visão que temos hoje, que é essa visão de organização, de buscar as alternativas, de trazer soluções juntos para os problemas, isso tem sido muito importante”, afirma. Ela conta que a PUC Minas e a UFMG têm apoiado não só com as ações dos projetos, mas também com levantamentos, diagnósticos, que permtiram a eles conhecer melhor o bairro Santa Tereza, onde atuam junto à Rede Lixo Zero. Ela também considera muito importante o apoio financeiro que tem recebido com a venda das sacolas ecológicas pela cooperativa.

Uma das voluntárias da Rede Lixo Zero Santa Tereza é a consultora ambiental Miriam Luttgen Ribeiro Rodrigues, 47, moradora do bairro há 20 anos. Nascida e criada na Alemanha, ela conta que mora com o marido mineiro e que vem de uma família com valores ambientais “muito enraizados”. “Sempretinha pensado numa coisa dessas, e como o projeto é realizado no meu bairro, onde moro, eu posso participar. Então, é um grande presente para mim”, diz Miriam, que, para ajudar o projeto, adquiriu sete ecobags: para ela e a família e para presentear moradores dos apartamentos de seu prédio. “Estamos numa campanha para ver se o prédio como um todo participa da coleta de vizinhança da Coopesol, do projeto Lixo Zero Santa Tereza”, diz.

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