Guardiões do patrimônio cultural

Jovens de cidades da RMBH são capacitados na salvaguarda e zelo dos patrimônios materiais e imateriais
Welington Correia explica na ponta da língua as origens portuguesas da Festa do Divino, de Santa Luzia
| Foto: Arquivo pessoal
Welington Correia explica na ponta da língua as origens portuguesas da Festa do Divino, de Santa Luzia | Foto: Arquivo pessoal

Ele sabe na ponta da língua as origens portuguesas da Festa do Divino Espírito Santo, que acontece na cidade de Santa Luzia, tendo atuado na última edição como imperador, que é o conhecido festeiro. Welington Moreira Correia, da comunidade do Santuário Arquidiocesano Santa Luzia, foi um dos jovens capacitados pelo projeto Guardiões do Patrimônio Cultural, em cidades da Região Metropolitana como Caeté, Raposos, Sabará e Santa Luzia. Agora o projeto Guardiões do Patrimônio Cultural está em processo de aprovação e deverá ser estendido a Brumadinho. O projeto tem à frente a PUC Minas, por meio do Grupo de Pesquisa Religião, Patrimônio Cultural e Turismo Religioso – vinculado ao Departamento de Ciências da Religião da PUC Minas, sob a liderança dos professores Josimar Azevedo e Aurino Góis – e a Arquidiocese de Belo Horizonte, por meio do Vicariato Episcopal para a Ação Missionária (Veam), a Pastoral da Cultura, paróquias e o Instituto Casa Comum, através do projeto Uni+ON e o Setor Cultura da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

“As minhas atividades como guardiã começam em salvaguardar, zelar pelos patrimônios materiais e imateriais. Dando suporte e auxiliando para a preservação e mantendo viva a nossa história”, resume a jovem Carolina Assis de Carvalho, 32 anos, da cidade de Raposos e ligada à Paróquia Nossa Senhora da Conceição. Ela chama a atenção para a importância do conhecimento dos jovens sobre o patrimônio histórico-cultural: “Pouco antes do final do curso dos Guardiões do Patrimônio Cultural, fui acionada por um morador para verificar uma obra que estava acontecendo próximo à Matriz. Acionei o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan) e o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) junto ao Memorial da Arquidiocese e conseguimos impedir com que a obra evoluísse mais, prejudicando assim o conjunto arquitetônico da Matriz, que é tombada em nível federal (quando se tem um bem tombado, toda a paisagem ao redor também tem que se manter preservada). Assim impedimos que a nossa Matriz fosse tampada pela construção”, exemplifica. “Conhecimento nunca é demais, é um bem que nunca vão nos tomar. Aprendi e ainda venho aprendendo cada dia mais depois do curso, sem contar o networking e a vontade de aprender cada dia mais”, diz Carolina.

Carolina Carvalho acionou os órgãos competentes, impedindo que obra nova tampasse a Matriz de Raposos | Foto: Arquivo pessoal

Quando se sensibiliza o jovem, ele mobiliza a comunidade, a família, e produz sentimento de pertencimento, podendo ser condutores de turismo, vão se apropriando, ocupando os espaços da cidade, enfatiza o professor Josimar da Silva Azevedo, dizendo que a salvaguarda do patrimônio cultural é o bem mais precioso nesta atividade. “Formação é conservação preventiva, ação de cidadania, engajamento dos jovens da comunidade para reconhecer esse bem imaterial”, observa.

Além de Welington e Carolina, outros 27 jovens a partir de 15 anos se inscreveram para o curso, foram escolhidos pelos respectivos párocos das comunidades e 14 se formaram. Eles receberam o certificado na Assembleia de Minas Gerais, com o intuito de que fosse transformado o curso em política pública, diz o padre Fernando Lopes Gomes, vigário episcopal de Comunicação e Cultura. No curso, os jovens receberam conteúdos como Cultura Cidadã e Patrimônio Cultural; Agentes de Deterioração; Cotidiano e Práticas de Conservação; e Empreendedorismo Social e Cultural, “como agentes transformadores de suas comunidades, por meio de atividades relacionadas à cultura cidadã, turismo, cultura e meio ambiente, com foco em serviços e empreendimento social e cultural relacionado à conservação preventiva do patrimônio cultural”.

“Promover os jovens, oferecendo-lhes oportunidades para o desenvolvimento integral e defender o patrimônio cultural inspirado na religiosidade devem ser compromisso da Igreja, de toda a sociedade”, defende um dos maiores incentivadores do projeto, Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte e membro da Comissão Episcopal de Educação e Cultura da CNBB, na apresentação de cartilha sobre a atividade. “A palavra cuidar é preciosa para todos os cristãos, pois, à luz do Evangelho de Jesus, todos partilham a responsabilidade de proteger o outro, que é irmão, os donos da natureza, obra do Criador, e tudo que integra o bem comum”, diz.

Dener Antonio Chaves, coordenador da especialização em Conservação Preventiva de Bens Culturais Móveis Eclesiásticos, doutorando em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável pela UFMG, ressalta que as discussões em prol do patrimônio cultural tiveram início no GT14 da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião, a Soter, numa aposta proativa da PUC Minas na formação desses jovens. Um seminário em 2017 discutiu os bens materiais móveis da Igreja e o patrimônio cultural; e em 2019 sobre conservação preventiva na Igreja de BH.

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