Reabilitação pós-Covid

Por meio da fisioterapia respiratória, projeto de extensão auxilia a comunidade
As alunas Rafaela Audina e Ingryd Diniz criaram o projeto ReabilitAR junto com as professoras Isabela Sclauser e Gisele Diniz | Foto: Raphael Calixto
As alunas Rafaela Audina e Ingryd Diniz criaram o projeto ReabilitAR junto com as professoras Isabela Sclauser e Gisele Diniz | Foto: Raphael Calixto

Desde fevereiro de 2020 – mês em que o primeiro caso de Covid-19 foi confirmado no Brasil – até hoje, cerca de 25 milhões de pessoas contraíram a infecção e se recuperaram no país. Receber a notícia de que se está livre do vírus é, com certeza, motivo de alívio. Contudo, o processo para uma recuperação completa pode estar apenas começando.

O motivo é a chamada Covid Longa, patologia que atinge cerca de 10% a 20% dos recuperados da Covid no mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Mesmo após a recuperação da doença inicial, alguns sintomas como sensação de fadiga e cansaço, tosse seca, fraqueza, dores articulares, queda de cabelo, perda de olfato e paladar podem ser identificados no paciente e perdurarem por semanas ou até mesmo, meses.

Pensando na crescente demanda desses pacientes, e buscando oferecer uma opção de atendimento qualificado, as professoras Isabela Sclauser e Gisele Diniz, junto às alunas Ingryd Diniz e Rafaela Audina Rosa, do Curso de Fisioterapia da PUC Minas Betim, criaram, no segundo semestre de 2021, o Projeto ReabilitAR – Superando os impactos da Covid-19.

“Vários pacientes, especialmente aqueles que tiveram a forma mais grave da doença e precisaram de internação hospitalar, apresentam sequelas pulmonares ou extrapulmonares que, em conjunto, impactam negativamente na qualidade de vida e na capacidade funcional, requerendo a fisioterapia respiratória. A ideia da criação do projeto veio dessa demanda por reabilitação pulmonar dos pacientes que ficaram com sequelas após a Covid-19, na intenção de ajudar as pessoas que não têm condições financeiras para pagar por esse processo de reabilitação”, conta a professora e coordenadora do projeto Isabela Sclauser.

Atualmente com 10 alunas extensionistas, o projeto realiza, por meio de atendimentos online, sessões de fisioterapia respiratória. O nome ReabilitAR, com as duas letras finais em maiúsculo, não veio por acaso. Segundo a professora Isabela, a ideia retoma a missão do projeto: “A fisioterapia respiratória devolve a facilidade da respiração ao paciente, tornando-a mais fácil e com menos esforço. Conseguimos isso ao ensinarmos uma variedade de exercícios respiratórios com o objetivo de aumentar a ventilação de diferentes regiões pulmonares. Deve-se ressaltar que o projeto ReabilitAR promove saúde através da reabilitação pulmonar, cardiovascular e osteomuscular dos pacientes com sequelas da Covid-19. Ou seja, ele auxilia o paciente a recuperar, de fato, o ar, e, principalmente, a funcionalidade”, explica.

Por meio dos atendimentos, o projeto ReabilitAR vai além da recuperação do sistema respiratório. Para a professora Isabela, os resultados obtidos com as sessões de teleatendimento promovem uma melhor qualidade de vida ao paciente, que tem naquele tratamento a oportunidade para voltar a viver normalmente.

“É inquestionável a importância deste projeto, pois ele possibilita a recuperação do paciente para que ele possa retornar à sociedade o quanto antes, e, assim, voltar a viver com qualidade de vida. Muitas vezes esse paciente pós-Covid não consegue fazer simples atividades do cotidiano, como tomar banho em pé ou arrumar uma casa e o objetivo do projeto é que ele recupere essa funcionalidade o mais rápido possível”, alega a professora Isabela.

Para a co-coordenadora do projeto, professora Gisele Diniz, o ReabilitAR promove um ganho tanto para os alunos extensionistas, quanto para a comunidade que está sendo assistida. “O projeto provocou nas alunas extensionistas um grande empenho na busca de novos conhecimentos para melhor atenderem os pacientes envolvidos no projeto, bem como para desenvolverem ações preventivas interessantes e motivadoras direcionadas a diferentes públicos. Consequentemente, todo o público atendido teve acesso a um cuidado global muito especial e direcionado a cada situação”, conta.

Uma das pacientes atendidas pelo projeto é a auxiliar de limpeza Ana Maria Diniz, de 59 anos. Ela conta que contraiu a Covid-19 em maio de 2021, e, devido a complicações da doença, precisou ser intubada, estado em que permaneceu por 38 dias. “Tive uma evolução do quadro grave da doença, e ainda estou em fase de recuperação”, conta Ana Maria.

Mesmo passada a infecção, Ana Maria continuou apresentando sintomas como a tosse e arritmia cardíaca, o que perdurou por alguns meses até que, por meio de uma sobrinha, ela conheceu o projeto ReabilitAR. “Fiquei dois meses em tratamento com o ReabilitAR e, desde então, já venho percebendo melhoras no desenvolvimento da minha respiração e também do meu sistema motor”, relata. Ela fala ainda sobre a importância do projeto para sua recuperação, e conta que pretende continuar com os atendimentos em 2022: “O projeto tem me ajudado bastante e gostaria de continuar no programa para o meu melhor desenvolvimento”, conclui.

Oportunidade de aprendizado

Para Juanette da Silva Carriço, a opção de ser atendida em casa foi um ponto positivo do projeto ReabilitAR | Foto: Raphael Calixto

Por conta da necessidade de distanciamento social imposta pela pandemia, os primeiros atendimentos realizados no projeto foram online. O que, contudo, não apresentou ser uma barreira aos atendimentos, mas, sim, um facilitador.

“Os atendimentos online funcionam como uma oportunidade de aprendizado. Ele pode ser um pouco complicado no início, mas em nosso caso deu muito certo, porque nenhum paciente apresentou dificuldades de acesso, ou chegou a desistir do atendimento por conta desse fator”, explica a aluna e integrante do projeto, Rafaela Audina, que atualmente cursa o 10º período de Fisioterapia na PUC Minas Betim.
Pelo contrário, o que os atendimentos online proporcionaram foi um maior alcance do projeto, que conseguiu atender apenas no segundo semestre de 2021, 17 pessoas que apresentavam sintomas da Covid Longa, em um total de 77 sessões. A aluna Ingryd Diniz, também do 10º período do Curso de Fisioterapia, explica que todo o processo de atendimento, desde o primeiro contato com o paciente, até o momento em que ele era liberado das sessões, funcionou muito bem no modelo digital.

“Quando o paciente entrava em contato conosco, nós marcávamos o primeiro atendimento, que poderia ser pelo modelo de videoconferência que ele tivesse mais facilidade. Os teleatendimentos duravam cerca de 30 minutos, e durante esse tempo nós demonstrávamos ao paciente como realizar o exercício, pedíamos que ele posicionasse a câmera de um modo que nós pudéssemos vê-lo melhor, e ele fazia da forma que havíamos mostrado”, conta.

Para a cozinheira Juanette da Silva Carriço, que também foi atendida pelo ReabilitAR, a opção de ser atendida em casa foi um ponto positivo.
“O fato de que nós estamos sendo atendidos dentro de casa é muito cômodo, e já nos ajuda bastante. Além disso, todo o tratamento que eu recebi no ReabilitAR funcionou muito bem para mim”, relata.

Juanette contraiu a Covid-19 ainda em julho de 2020, e necessitou ser intubada por 12 dias, totalizando 23 dias de internação hospitalar. Ela conta que após esse período, por conta da perda de massa, precisou fazer um intenso processo de fisioterapia muscular. Porém, foi apenas com o ReabilitAR que ela pôde, também, ter acesso à fisioterapia respiratória.

“Eu fiquei muito fraca e também com dificuldades para respirar, então o tratamento no ReabilitAR me ajudou muito. Esse foi o único momento em que eu tive a oportunidade de fazer a fisioterapia respiratória, e para mim foi essencial. Mesmo eu tendo plano de saúde, não tinha acesso a esse tipo de tratamento, e com a PUC todo o processo de atendimento foi ótimo. A aluna que me atendeu o fez com muito cuidado e atenção, e os resultados obtidos com o tratamento vêm me ajudando muito a respirar melhor e com mais facilidade”, conta.

Além dos atendimentos, o projeto realiza também um importante trabalho de conscientização acerca dos cuidados com a Covid-19 por meio de palestras e ações junto à comunidade. Para a extensionista Rafaela Audina, essa postura reafirma o objetivo do projeto de promover um empoderamento da comunidade que está sendo atendida. “O processo de reabilitação que buscávamos realizar vai além do melhoramento físico, ele promove também o empoderamento do paciente enquanto pessoa, para que possa aprender a se cuidar. Nas nossas ações, tentávamos levar educação e mudança de comportamento em relação à pandemia”, relata.

Atendimento contínuo

Além dos atendimentos promovidos pelo ReabilitAR, a PUC Minas também realiza assistência a pacientes pós-Covid por meio das Clínicas de Fisioterapia de seus campi. Atualmente, o Campus Coração Eucarístico, em Belo Horizonte, e também os campi de Betim e Poços de Caldas realizam esses atendimentos via encaminhamento pelo SUS.

Com o retorno das atividades presenciais na PUC Betim, o projeto ReabilitAR está, a partir deste primeiro semestre de 2022, atendendo de modo híbrido, com sessões presenciais e online. Os interessados em participar dos atendimentos podem entrar em contato por meio do perfil do projeto no Instagram, em @reabilitarprojeto ou por meio da Clínica de Fisioterapia da PUC Betim, no telefone (31) 3539-6834.

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