Representação da dor

Simulações com atores profissionais preparam o aluno para o atendimento humanizado
A estudante Clara Bucater, do Curso de Medicina, em simulação de atendimento com os atores Gustavo Pedra e Bárbara Oliveira, funcionários do Centro de Simulação Avançada em Saúde da PUC Minas Betim | Foto: Raphael Calixto
A estudante Clara Bucater, do Curso de Medicina, em simulação de atendimento com os atores Gustavo Pedra e Bárbara Oliveira, funcionários do Centro de Simulação Avançada em Saúde da PUC Minas Betim | Foto: Raphael Calixto

Intervalo entre o primeiro e o segundo horário de aulas do turno da manhã na PUC Minas Betim. No prédio dos laboratórios da área da saúde, os alunos estão em grupos pelos corredores esperando o início da próxima disciplina, quando, sem aviso prévio, uma segurança gestante entra em trabalho de parto.

Essa teria sido, de fato, a situação vivenciada pela turma da estudante Clara Bucater, aluna do 6º período do Curso de Medicina da PUC Minas Betim, se tudo não passasse de uma simulação surpresa. O fato aconteceu em 2019, quando Clara ainda estava no primeiro período do curso, e até hoje ela se recorda, com entusiasmo, da situação.

“Como nós não sabíamos que era uma simulação, ficamos muito assustados e receosos em ajudar, porque estávamos apenas no primeiro período. Alguns alunos se aproximaram dela, e só depois de alguns minutos percebemos que era uma simulação e que isso fazia parte da aula que teríamos naquele horário”, conta.

A atividade inclui o plano de ensino de alguns cursos da PUC Minas Betim, que prevê a simulação de situações com as quais o profissional pode vir a lidar no futuro. Atualmente, os atores Bárbara Oliveira e Gustavo Pedra, funcionários do Centro de Simulação Avançada em Saúde da PUC Betim, realizam as encenações, atendendo aos cursos de Fisioterapia, Enfermagem, Medicina e Psicologia.
As representações são diversas: simulações de parto, trauma e acidentes, imobilização, urgência e emergência, psiquiatria, saúde mental, pediatria, geriatria, ginecologia e saúde da mulher, saúde do trabalho, e outras possíveis situações que o aluno possa vir a enfrentar em sua profissão. O objetivo das simulações é fazer com que a situação seja o mais próximo possível da realidade, de modo que os atores se componham enquanto facilitadores do ensino.

“Nas simulações de trauma com atropelamento, por exemplo, o Gustavo interpreta o paciente gritando, demonstrando que está sentindo dor, se comportando como alguém que acabou de ser atropelado. Os alunos o atendem como se a situação fosse real, realizam a imobilização, colocam na prancha, utilizam os aparelhos específicos, e o trazem para o laboratório, que já está montado como um setor de emergência”, explica a atriz Bárbara Oliveira, funcionária da PUC Betim há quatro anos.

Os atores explicam que a maioria das simulações é feita diretamente com os alunos, para que eles possam aprender, na prática e em um ambiente seguro, como se portar nas mais diferentes situações. “Ali, nós somos a aula prática deles, nós fazemos o papel dos pacientes e familiares, e os alunos nos atendem. Eles é que fazem a anamnese, que é a conversa inicial com os pacientes, prescrevem a receita médica, realizam a consulta completa”, exemplifica o ator Gustavo Pedra.

A fim de atender a demanda de todos os cursos beneficiados pela prática, as simulações acontecem durante todo o semestre. “Toda semana nós temos simulação: temos disciplinas fixas, esporádicas, e aquelas fixas, mas que alternam as semanas. Nós estamos à disposição dos professores para atender às demandas das disciplinas durante todo o semestre, todos os dias”, conta Bárbara. Para os atores, a disponibilidade contínua de simulações realísticas é uma oportunidade de aprendizado para os estudantes: “Eles sempre participam ativamente das simulações, e dizem gostar bastante. Para os alunos é uma oportunidade muito grande, porque não tem isso em todo lugar. Eles estão sempre na expectativa para as próximas simulações. É muito enriquecedor”, avalia Gustavo Pedra.

De fato, para a aluna Clara, a chance de praticar os atendimentos junto aos atores vem sendo um diferencial em sua formação. Ela conta que antes de prestar o vestibular, viu por meio de uma divulgação que no Curso de Medicina da PUC Betim existiam as simulações. “Na época eu fiquei surpresa, porque não conhecia esse tipo de atividade”, diz. Para ela, a simulação é uma chance de aprendizado e prática, o que garante um atendimento qualificado no futuro. “A simulação nos permite um contato inicial com diversas situações, o que nos prepara para quando aquilo acontecer de verdade. Ficamos mais tranquilos, e nos ajuda bastante”, diz a aluna.
Para os professores que utilizam as simulações durante as aulas, o contato que os alunos têm com as situações trazidas pelos atores proporcionam a prática de um atendimento humanizado, que é uma das premissas abarcadas pelos cursos da área da saúde da PUC Minas. De acordo com a professora Patrícia Guimarães, docente no Curso de Medicina, as simulações potencializam o aprendizado adquirido pelos alunos durante as aulas práticas.

“Se eu apenas descrever uma situação de atendimento para os alunos, eu não consigo transmitir a riqueza de detalhes que a prática de simulação é capaz de trazer: a angústia de uma mãe que tem o filho doente ou o paciente que está irritado e com dúvidas. Esse tipo de emoção eu só consigo demonstrar aos alunos por meios dos atores”, comenta a professora Patrícia. “Os atores dão vida às situações, eles aproximam os alunos ao que realmente acontece na prática. Eles trazem os componentes afetivo e social, que estão sempre presentes nos acompanhamentos de saúde”, completa.

Para os atores, a experiência de atuar dentro de uma sala de aula é inovadora e gratificante. “Eu me sinto importante por fazer o que eu faço, por ser algo inovador e de tanta importância. Todas as pessoas com quem eu converso e conto sobre meu trabalho ficam encantadas e surpresas, porque elas não imaginam que esse tipo de abordagem existe em uma universidade”, conta Bárbara.

Simulação a distância

Durante o período de aulas remotas, implantado na Universidade devido a necessidade de distanciamento físico imposto pela pandemia de Covid-19, as simulações continuaram acontecendo, mas, desta vez, a distância. Para a estudante Clara, a opção de adaptar as simulações para o modelo remoto garantiu o exercício da prática aos estudantes, mesmo em um período em que o distanciamento social era necessário.

“Durante as aulas online, as simulações nos ajudaram muito, porque eram os únicos momentos em que tínhamos a oportunidade de atividade prática, o que é essencial em nosso curso”, diz. “Online, as simulações funcionavam como uma teleconsulta: o aluno que iria participar naquele momento ligava a câmera e atendia o paciente que estava sendo representado por um dos atores. Funcionou muito bem!”, conclui.

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