Artigo
Globalização, cooperação acadêmica internacional e o desafio para as universidades
Uma reflexão sobre a resposta estratégica da PUC Minas
A cooperação acadêmica internacional é uma prática que pertence a esferas que a abrigam, antecedem e que lhe são, ao mesmo tempo, fronteiriças, como a política externa e a cooperação em seu sentido mais amplo. Não é possível entendê-la dissociada dessas duas dimensões. E nem do período histórico em que ela ocorre.
Dadas essas considerações, é inegável que a forma de cooperar, decidida pelos tomadores de decisão, também são mandatórias para a construção de um arcabouço institucional que rege a cooperação acadêmica de um país na escolha de seus parceiros preferenciais. Entretanto, esta cooperação não se dá, apenas e tão somente, como fruto do esforço governamental e por consequência da alocação de recursos de mobilidade, pesquisa e transferência de tecnologia. Instituições privadas de ensino, em todos os países, podem e escolhem com quem querem cooperar, mas é forçoso reconhecer que diretrizes do Estado, nesse sentido, têm sempre um forte impacto e poder de ditar a agenda da cooperação acadêmica internacional de cada país.
Frequentemente, é a cooperação econômica e política que traz, a reboque, tipos de cooperação como a relacionada a acordos universitários e culturais, entre outros. E cooperação, na acepção legítima do termo, tem um componente que pressupõe a existência de troca, do que quer que seja, nesse caso, do conhecimento, ainda que de maneira assimétrica.
O lugar da cooperação acadêmica internacional é, obviamente, a universidade e os orgãos que compõem a mobilidade de docentes e discentes em todo o mundo. Se realizarmos um breve histórico da cooperação acadêmica internacional, veremos que as universitas são uma importante invenção da Idade Média. Embora controverso, o ranking oficial das instituições mais antigas aponta para a do Marrocos e do Cairo como as mais velhas de que se tem registro, por volta de 990 D.C. Na China também há relatos de espaços dedicados à disseminação do conhecimento, contemporâneos a essas datas. Entretanto, Bolonha é considerada a pioneira no formato típico de universidade que conhecemos hoje. Foi criada em 1088 e era, então, composta por uma comunidade de estudantes e mestres de todos os quadrantes do Velho Continente. Ou seja, desde o seu surgimento já nasceu como uma instituição de caráter internacional.
As universidades se dedicavam a analisar a universalidade do conhecimento e de todo tipo de saberes. A presença de estudantes estrangeiros, cujo status era equivalente ao dos estudantes nativos, garantia prestígio às instituições, notadamente às italianas e, em menor escala, às francesas.
O que movia o fluxo migratório de acadêmicos para o centro da Europa, além do desejo pelo conhecimento, era a experiência existencial que ele promovia. Como pano de fundo havia, também, o descobrimento de outras terras e povos, tempo que se convencionou chamar de Era das Navegações/Descobrimento. Guardadas as devidas proporções, uma espécie de pré-globalização.
Fazendo um grande salto cronológico e intencional nesta contextualização, e transportando a análise para os dias atuais, pode-se ver, inegavelmente, que o fenômeno denominado globalização, cujo viés econômico é o mais percebido nas últimas décadas do século passado e início do atual, impactou profundamente as universidades no mundo inteiro. A centralidade do conhecimento, e a eliminação das fronteiras para a sua disseminação, promovida pelo aparato comunicacional e tecnológico, exigiram das universidades um reposicionamento estratégico para fazer face aos novos tempos.
As universidades foram impelidas a criar condições para que seus alunos e egressos contassem com as competências essenciais, acadêmicas e profissionais que lhes permitissem interagir numa sociedade cada vez mais multicultural e internacional. Viram-se obrigadas, assim, seja por demanda interna ou por pressões externas, a buscar a cooperação acadêmica internacional.
De lá para cá, incontáveis organismos nacionais e internacionais se dedicaram a promover a mobilidade acadêmica, que é condição primordial da internacionalização do conhecimento. As universidades criaram estruturas internas, quase sempre denominadas assessorias de relações internacionais, para operacionalizarem as atividades voltadas para a prospecção e administração das parcerias com congêneres estrangeiras para a troca de estudantes e docentes.
A PUC Minas promoveu muitos esforços nessa direção, a partir de 2008, quando a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Institucional (Seplan) assumiu a Assessoria de Relações Internacionais e se preparou para enfrentar esse desafio. O investimento inicial foi na criação de vagas para a mobilidade de seus alunos, processo que já se encontra muito amadurecido. A Universidade oferta cerca de 700 vagas gratuitas em mais de 170 universidades parceiras, em todos os continentes (informações no facebook.com/PUCMinasARI/ ou pela página portal.pucminas.br/ari ). E aumentou substancialmente o recebimento de alunos estrangeiros.
Num processo que envolveu vários setores e consulta sistemática à Pró-Reitoria de Graduação, ao Setor de Estágio, ao Centro de Registros Acadêmicos (CRA), à Pró-Reitoria de Pós-graduação, além da criação de um conselho de internacionalização e o estabelecimento de um elenco de docentes representantes de cursos, departamentos e faculdades junto à Seplan/Assessoria de Relações Internacionais, inaugura-se uma outra etapa: a de internacionalização dos cursos através da adoção de medidas como duplas diplomações, cotutelas, estágios internacionais, professores visitantes e a oferta de disciplinas em outros idiomas, notadamente o inglês. Essa última iniciativa é a mais desafiadora, e os cursos, através do esforço dos coordenadores e docentes, começam a desenhar o melhor caminho para que se implantem essas disciplinas. Sem isso não há como atingir um dos maiores indicadores de internacionalização considerados pelos mais prestigiosos rankings como QS e Times Higher Education, que fazem a avaliação das universidades quer elas queiram ou não. Criar uma cultura de internacionalização, dar visibilidade interna e externa à mesma, proporcionar os meios para se alcançar esses objetivos são esforços que seguem juntos nessa política implementada pela PUC Minas. Sabemos o caminho, tanto que estamos presentes na diretoria dos mais importantes fóruns e redes brasileiras bem como participamos dos principais eventos onde as parcerias são construídas. A PUC Minas, através do seu corpo de professores, alunos e funcionários, saberá reagir, estrategicamente, a mais um dos incontáveis desafios que uma instituição privada de ensino superior precisa enfrentar nos tempos que correm.