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Genética Vendendo gato por lebre

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O professor Daniel Carvalho, com a ex-aluna Adriana Pereira: a forma como peixes são comercializados, como filés ou postas, dificulta a identificação

Pesquisa realizada por alunos de Ciências Biológicas comprova fraude na comercialização de peixes

“Vender gato por lebre” não é uma prática incomum em alguns estabelecimentos comerciais brasileiros, que lucram enganando o consumidor. Pesquisa realizada por alunos do Curso de Ciências Biológicas do campus Coração Eucarístico, em Belo Horizonte, comprovou a veracidade dessa expressão popular ao apontar fraude na comercialização de peixes. Espécies de baixo valor comercial estavam sendo vendidas como surubim, merluza, bacalhau, entre outras, com maior valor de mercado. O trabalho foi coordenado pelo professor Daniel Carvalho.

Durante quatro semestres, os alunos do 5º período, da disciplina de genética, ministrada pelo professor, coletaram várias espécies de peixes para identificar o DNA de cada uma delas. Segundo ele, que possui trabalhos reconhecidos na detecção de fraude por meio da identificação molecular, cada espécie possui uma sequência de DNA única, que já está catalogada, e, dessa forma, os alunos conseguem verificar se o peixe coletado é o mesmo que está sendo vendido. A compilação dos resultados da pesquisa, concluída no final do ano passado, comprovou fraude em 16,4% das 51 amostras colhidas. Os estudantes foram orientados pela ex-aluna Adriana Heloísa Pereira, que, na época, cursava Ciências Biológicas na Universidade e também participou das análises.

De acordo com Adriana, as substituições mais comuns de espécies foram de surubim por bagre, jaú ou dourada; merluza por escamudo-do-alasca; bacalhau por escamudo; e surubim pintado por tambaqui. “As trocas normalmente são feitas por produtos de maior disponibilidade e menor valor comercial. Além disso, as espécies jaú, tambaqui e dourada estão ameaçadas de extinção pela pesca excessiva”, afirmou.

Surubim é a espécie mais fraudada

A escolha do pescado para análise não foi aleatória, pois, de acordo com o professor, é uma fraude muito comum. “O número de espécies é tão grande que facilita enganar o consumidor. Além disso, a forma como eles são comercializados, muitas vezes como filés ou postas, dificulta a identificação, e a maioria das pessoas não conhece as espécies para diferenciá-las”, afirma o professor, relatando que a espécie mais fraudada é o surubim.

Para ele, isso se deve ao fato de essa espécie ser uma das mais conhecidas pelos mineiros. “Muitos comerciantes colocam nomes de peixes que as pessoas conhecem, mas, em muitos casos, são espécies marinhas ou até mesmo ameaçadas de extinção. É comum a substituição por espécies pouco conhecidas, que não possuem nome comercial forte. Essa substituição é claramente de ganho econômico ou quando não se pode comercializar uma espécie”, apontou Daniel.

Segundo o Procon Assembleia, não houve, nos últimos anos, registro de denúncia de fraudes na comercialização de peixes por espécies mais baratas e atribui como possível causa a dificuldade dos consumidores em detectar com precisão determinadas espécies. A Vigilância Sanitária de Belo Horizonte orienta que os consumidores optem por estabelecimentos comerciais que possuam o alvará de Autorização Sanitária atualizado e, nos casos de produtos embalados, que possuam os selos do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) ou do Serviço de Inspeção Federal (SIF).

Texto
Tereza Xavier
Foto
Marcos Figueiredo
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