Medicina Veterinária Mais qualidade e produtividade
Pesquisas aliam sustentabilidade e inovação, garantindo recorde na produção de leite na Fazenda Experimental
O leite figura entre os alimentos mais consumidos e mais importantes para a economia nacional. O agronegócio do produto lácteo e derivados faz girar, em todo o país, mas principalmente nas regiões produtoras, o ciclo econômico que envolve desde a produção da matéria-prima até a distribuição dos derivados. Na Fazenda Experimental da PUC Minas, localizada em Esmeraldas, na região metropolitana de Belo Horizonte, as 120 cabeças de gado que formam o rebanho leiteiro voltaram a registrar recorde na produção de leite, após 12 anos, com animais produzindo entre 33,5 kg e 42 kg de leite por dia, contra a média nacional de 15 kg por dia, de animais da mesma raça.
No início dos anos 2000, a produção do rebanho era de 34 kg de leite por cabeça de gado, tendo sofrido uma queda de mais da metade da produção nos anos subsequentes. Diante disso, desde 2010, a Fazenda Experimental desenvolve pesquisas genéticas e de nutrição animal, além de parcerias com empresas, a fim de garantir a qualidade na reprodução do rebanho e consequente aumento na produção do insumo. “Quarenta e cinco por cento do rebanho em lactação são de primeiro parto, ou seja, rebanho jovem e muito produtivo, reflexo da genética trabalhada nos últimos anos”, explica o professor do Curso de Medicina Veterinária Hudson Nunes da Costa, que coordena pesquisas com bovinos na PUC Minas.
De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (United States Department of Agriculture – USDA), o Brasil é um dos cinco maiores produtores de leite do mundo e, no país, Minas Gerais figura como o maior produtor nacional, sendo responsável por 77% de toda a produção da Região Sudeste e por 26,6% do total da produção brasileira, segundo dados do Censo do IBGE, de 2014.
Além da alta produtividade, o leite produzido na Fazenda Experimental apresenta hoje uma altíssima qualidade, recebendo 100% de bônus pela indústria. “Normalmente, uma vaca produz em média de cinco a 15 kg de leite por dia. Em cinco anos, a meta da fazenda é chegar a 42 kg de leite diariamente, em todo o rebanho, resultado da estrutura física e técnica de excelência, marca da PUC Minas”, afirma o professor Rogério Carvalho de Sousa, coordenador da Fazenda Experimental da Universidade.
Pesquisa garante melhor alimento para o rebanho
Para se chegar a recordes de produção, é necessário que o alimento fornecido aos animais seja também de alta qualidade. Entre as pesquisas desenvolvidas na fazenda, entre agosto de 2015 e março de 2016, em parceria com empresas que fornecem híbridos de milho, principal matéria-prima para o alimento dos animais do rebanho, professores e estudantes ranquearam os cerais fornecidos, de acordo com suas características nutritivas e produtivas. A pesquisa elencou os híbridos a partir de dados de adaptação às condições ambientais do local, a fim de reduzir custos da produção, garantir mais aproveitamento dos nutrientes dos grãos, mais saúde para o rebanho e, finalmente, leite de maior qualidade, que é vendido a cooperativas e utilizado para fabricar doces, queijos e outros derivados.
O rebanho da fazenda consome 700 toneladas de forragem de milho por ano e a qualidade no insumo garante a qualidade do produto final, como explica o professor Francisco Veriano, um dos coordenadores da pesquisa. “Quanto mais qualidade nutricional houver no híbrido, mais será aproveitado pelos animais e convertido em leite. Assim, menos rejeitos serão gerados, o que contribui para diminuição da emissão de gases na atmosfera”, justifica.
Na Fazenda Experimental, além de outras atividades desenvolvidas por professores e alunos, 18 hectares são destinados ao cultivo do milho. Aumentar a produtividade e qualidade nutricional do cereal foi, então, uma demanda natural para garantir maior aproveitamento dos insumos disponíveis. De início, foram definidos os tipos de híbridos que melhor se adaptam às condições ambientais da área em que está localizada a fazenda, como tipo de solo, quantidade de precipitação, lençóis freáticos, área cultivada, finalidade do produto, clima, temperatura, entre outras. Ao final da pesquisa, dois tipos de híbridos apresentaram melhor resultado, tanto no que diz respeito à produtividade quanto à qualidade nutricional do alimento. Isso gera benefícios que extrapolam as cercas da fazenda, pois os dados são importantes, também, para pequenos produtores rurais da microrregião analisada e para os fornecedores de insumos. “Conseguimos produzir dados inéditos para a região em termos de melhor aproveitamento do solo e qualidade do alimento produzido. Para as empresas que fornecem o insumo, o dado também é importante, pois, assim, poderão comercializar produtos que se adaptam melhor à região”, salienta o professor Francisco.
Para chegar a este resultado, os dez tipos de híbridos analisados passaram por testes de produtividade por planta e por área, possíveis doenças e nutritividade da planta. Além disso, a colheita e o preparo da silagem também devem obedecer a regras para que o mínimo se perca desde o plantio, passando pela colheita, a alimentação do gado até a ordenha e produção dos derivados do leite. É o que explica o professor Hudson Nunes da Costa, que também coordenou a pesquisa. “A melhor planta é a que fornece mais nutrientes para o gado. A quantidade de água, proteínas, carboidratos, lipídios e minerais, além do tamanho da espiga, quantidade e tamanho dos grãos definem a qualidade do insumo e, consequentemente, a qualidade do leite produzido”, aponta o professor Hudson, acrescentando que quanto mais energia tem a planta, mais dessa forragem o animal consome e menos ração, que é comprada, é utilizada, o que reduz o custo de produção e o risco de doenças no rebanho. Ou seja, mais saudável fica a dieta do rebanho e mais barata fica a alimentação do gado leiteiro. “Avaliamos as variáveis do produto para que seja mais bem aproveitado, desde o plantio até o produto final, apontando as potencialidades de cada empresa fornecedora e garantindo saúde para o rebanho”, completa o professor Francisco.