revista puc minas

Diálogos Humildade contra a intolerância

Dom-Walmor

“É indispensável superar preconceitos e reconhecer a importância das diferenças para fazer crescer a fraternidade solidária no mundo”

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Grão-chanceler da PUC Minas Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte
Presidente da Sociedade Mineira de Cultura

Quando indivíduos não reconhecem qualquer norma acima de si e pautam a conduta pessoal somente a partir dos próprios parâmetros, cria-se campo fértil para a manifestação das muitas formas de intolerância. Esse modo de agir está na contramão da ética e é raiz do caos moral, que prejudica muito a vida em sociedade. Revela a principal forma de indiferença, conforme indicação do Papa Francisco: a que ocorre em relação a Deus. Na mensagem para o Dia Mundial da Paz 2016, Francisco diz que a indiferença em relação a Deus desdobra-se em descaso na relação com o próximo e com a criação.

Trata-se, conforme define o Papa, de grave efeito de um falso humanismo e do materialismo prático, combinados com um pensamento relativista e niilista. “O homem pensa que é o autor de si mesmo, da sua vida e da sociedade; sente-se autossuficiente e visa não só a ocupar o lugar de Deus, mas prescindir completamente d’Ele; consequentemente, pensa que não deve nada a ninguém, exceto a si mesmo, e pretende ter apenas direitos”, diz. Essa convicção faz o indivíduo acreditar que suas próprias razões constituem a absoluta verdade. Assim surgem relativismos, fundamentalismos religiosos e outras práticas que são fonte de intolerância.

Gera-se a inflexibilidade que compromete o tecido social, inviabiliza a convivência e contribui para o aumento da violência. Oportuno é sempre lembrar que a tolerância é fundamental no âmbito religioso, bem como na esfera governamental, no convívio social e familiar. Por isso, é indispensável superar preconceitos e reconhecer a importância das diferenças para fazer crescer a fraternidade solidária no mundo.

Para trilhar esse caminho, todos são convocados a entender que há um exigente percurso a ser seguido com o objetivo de se aproximar da verdade. Ninguém dela é dono ou a possui na sua inesgotável inteireza. Afastar-se desse entendimento é alimentar abomináveis gestos de intolerância e a incapacidade para o diálogo, fundamental para que cada pessoa possa crescer, aprender, se desenvolver. Importa, assim, investir no exercício de reconhecer a dignidade de cada pessoa como filhos e filhas de Deus, investir nas relações interpessoais, pela proximidade e escuta, sem preconceitos, de qualquer matiz, no esforço de se colocar como ouvinte. Isso exige, de todos, humildade, virtude que permite enxergar a importância do outro.

Para vencer a intolerância, oportuno é fazer chegar ao coração o que ensina a Palavra de Deus, na Carta de São Paulo aos Romanos: “Busque um bom entendimento uns com os outros; não sejais pretenciosos, mas acomodai-vos às coisas humildes. Não vos considereis sábios aos próprios olhos.” (Rm 12,16). A humildade é, certamente, indispensável para que todos sejam capazes de escutar e conviver, vencendo as muitas formas de intolerância.

Texto
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Grão-chanceler da PUC Minas Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, presidente da CNBB
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