Tecnologia Acessibilidade sob controle
Protótipo facilita embarque e desembarque de cadeira de rodas em veículos
No Brasil, 46 milhões de pessoas são diagnosticadas com as mais diversas limitações físicas e psicológicas. Desses, cerca de 7% apresentam mobilidade reduzida, enfrentando os mais diversos desafios no que se refere à acessibilidade.
Para facilitar o dia a dia de quem tem dificuldades de locomoção, alunos da Engenharia Eletrônica e de Telecomunicação desenvolveram um mecanismo inovador. A melhoria nas condições para pessoas com deficiência também está em pauta no mestrado de Engenharia Mecânica.
Movidos pelo pedido de uma cadeirante ao professor Mário Buratto, cinco alunos da graduação produziram um dispositivo que permite o controle da cadeira de rodas a distância, a partir de notebooks, tablets ou celulares, facilitando o manejo do equipamento quando não estiver próximo ao usuário. “Às vezes, a pessoa com deficiência tem que guardar uma cadeira de rodas, movimentá-la sem estar sentado nela, e isso interfere na independência dessas pessoas, que querem o conforto de se virar sozinhas”, explica Buratto.
Para elaborar a Spadam, nome dado à Solução para deficientes automatizados, os autores do projeto não interferiram na estrutura do equipamento. Adotando um modelo motorizado para fazer o protótipo, os pesquisadores inseriram uma chave para transferir o controle da cadeira para a plataforma digital (tablets, celulares, notebooks), conectando as partes por meio de um modem, também instalado na cadeira. “Ao virar a chave, uma página de comando, semelhante a uma página de internet, se abrirá no tablet, notebook ou celular. O hardware que elaboramos e instalamos na cadeira, emite valores de tensão correspondentes aos movimentos da cadeira, de forma que ela possa se mover a distância. O cadeirante também poderá visualizar na tela do tablet os movimentos do equipamento, acompanhados por microcâmeras instaladas na própria cadeira”, detalha Bruno Martins de Araújo, um dos alunos que participaram do projeto.
Para Margarida Lages, que apontou a necessidade de se criar um mecanismo de movimentação da cadeira de rodas a distância, o desenvolvimento do estudo é muito importante para encontrar um novo meio de facilitar a própria vida e de muitas outras pessoas com deficiência. “O mecanismo é muito útil, pois nunca se pensou até hoje no embarque da cadeira motorizada para o cadeirante que dirige. O cadeirante é sempre visto como passageiro. No entanto, muitos buscam veículos adaptados e sofrem com a dificuldade de guardar o equipamento depois de estacionar o carro. Esta novidade vai reafirmar nossa independência e vai ser a solução do meu problema”, conta.
Segundo o professor Mário Buratto, a ideia é promover melhorias no protótipo, convidando outros alunos para aprimorar a interface digital e os sensores. “Nossa ideia é elaborar um produto à prova d’água, com sensores melhores, garantindo mais segurança e praticidade para os usuários”, esclarece.
Produto desenvolvido também no mestrado
A melhoria nas condições para os cadeirantes também está em pauta no mestrado de Engenharia Mecânica da Universidade. A partir de uma ideia que surgiu na época da graduação, os alunos Gabriel Goulart Mendes e Rodrigo Bruck Cunha desenvolveram o projeto de um kit adaptável para transformar uma cadeira de rodas comum em uma cadeira motorizada.
Formado por um motor acoplável à roda, movido à bateria recarregável, e por um guidão que direciona a cadeira, o kit desenvolvido pelos alunos aprimora uma alternativa existente no mercado para adaptação da cadeira de rodas, de forma que sua remoção e desmontagem são facilitadas. “A versão do kit disponível no mercado é difícil de ser retirada e, caso acabe a bateria do motor ou se o cadeirante preferir, em um dado momento, utilizar a cadeira em seu formato tradicional, existe uma grande dificuldade. Estamos estudando a ergonomia e analisando a estrutura da cadeira para alcançar resultados significativos com este projeto”, conta Gabriel Goulart.
Os estudantes, que finalizam o projeto em dezembro próximo, explicam que o dimensionamento do mecanismo segue a NR 17, Norma Regulamentadora de Ergonomia, a fim de garantir que o kit seja funcional e proporcione mais conforto com segurança para os cadeirantes que desejarem testar a novidade. A redução de custo para quem deseja ter essa cadeira motorizada deve ultrapassar 50% do valor base da cadeira motorizada tradicional. “Uma cadeira motorizada tradicional custa entre R$6 mil e R$ 7 mil, enquanto o kit , se for à venda, sairá por menos da metade deste preço”, explica Rodrigo Bruck, que pretende avançar com o projeto após a construção do protótipo.