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Saneamento Água potável para todos

Trabalho realizado na Engenharia Química cria sistema para tratamento de água

No Brasil, 35 milhões de pessoas não têm acesso ao abastecimento de água tratada, de acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) do Ministério das Cidades, em 2016. Em Minas Gerais, são quase quatro milhões de habitantes que não dispõem desse acesso. Pensando nas pessoas sem sistema de tratamento em casa, as ex-alunas do Curso de Engenharia Química Helen Oliveira Loureiro, Laura Guimarães Soares e Rana Gabriela Lacerda Santos desenvolveram um sistema alternativo para tratamento de água, como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), apresentado em dezembro de 2017.

O interesse na temática surgiu a partir da ideia de criar um projeto que contribuísse de alguma forma com a sociedade. Assim, as ex-alunas buscaram por cidades próximas a Belo Horizonte nas quais pudessem identificar algum problema com a oferta de água, como, por exemplo, municípios que consomem água da chuva e de poço artesiano, e pesquisaram qual seria o melhor sistema de tratamento para o local.

A cidade escolhida foi Funilândia, localizada a 80 km da capital, onde fizeram oito coletas de água nas comunidades no entorno da cidade e analisaram cinco amostras no Laboratório de Microbiologia dos campi Coração Eucarístico e Betim. Elas constataram que todos os materiais estavam contaminados com coliformes fecais e coliformes totais. “Na saída da bomba que leva a água do posto para a caixa d’água central da comunidade, que é distribuída para a população, é obrigatório ter tratamento com flúor e cloro segundo o Ministério da Saúde. De acordo com a prefeitura, existe o tratamento, mas mesmo assim os resultados apontaram que a água estava contaminada”, diz Laura.

As ex-alunas contam que a partir das análises e pesquisas, construíram uma Estação de Tratamento de Água (ETA) para quem não tem acesso e recurso, buscando materiais de baixo custo e de fácil manuseio. A partir disso, construíram um filtro usando dois canos PVC, areia e brita, e um sistema de desinfecção com garrafas PET transparente e uma telha de zinco. “Montamos um filtro em que o tratamento se dá pela decomposição de matéria orgânica por meio das bactérias retidas no recipiente ou que vem com a água, o que ajuda na purificação. Depois dessa filtração, pensamos na desinfecção solar, usando materiais que possibilitam a luz refletir em várias angulações e aumentar a temperatura. Com isso, conseguimos a remoção de mais de 99% das impurezas da água”, conta Laura.

Por ser um procedimento simples, para tratar 40 litros de água, o suficiente para uma pessoa por três dias, o sistema precisa de 72 horas para filtrar e desinfetar o líquido. “Para casas com mais de um morador, é necessário aumentar o número de filtros e garrafas PET”, comenta Rana. De acordo com o grupo, o sistema montado custou, ao todo, R$ 152,40, e pode ser utilizado em qualquer casa.

A manutenção também é bem simples. Basta retirar e substituir uma pequena camada de areia quando ela ficar suja. “A taxa de filtração é muito lenta, por isso, quando entram as bactérias no filtro, elas começam a se multiplicar, formando uma superfície. A eficiência da filtração está justamente nessa camada, mas chega uma hora em que ela fica muito grande, então tem que fazer uma raspagem superficial e repor a areia”, diz Laura.

Texto
Júlia Mascarenhas
Foto
Raphael Calixto
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