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Física Astronomia ao alcance de todos

O estagiário do Gaia Elves Moreira, do 7º período do Curso de Física, e a professora Kelly Faêda

Grupo Gaia divulga a ciência e contribui para a formação de alunos

“Se através do ensino não formal o aluno passar a gostar de Física, ele dará mais valor ao ensino formal. Estar em sala de aula gostando de uma disciplina é muito importante.”

Professora Kelly Cristina Faêda

Uma das ciências mais antigas do planeta – iniciada ainda nas culturas pré- históricas – a astronomia vem passando por grandes mudanças após inúmeros avanços tecnológicos, responsáveis por ampliar os conhecimentos no campo astronômico e por provocar a curiosidade do público em geral para compreender o que acontece no espaço. Com a proposta de fomentar uma consciência planetária por meio do ensino da ciência, foi criado, na PUC Minas, o Grupo de Astronomia e Astrofísica (Gaia).

Fundado em 2005, o grupo, cujo nome remete à deusa Terra, da mitologia grega, é composto por estudantes e professores do Departamento de Física e Química. Atualmente, a equipe é formada por nove estudantes, entre voluntários e bolsistas, e três docentes. O grupo conta também com a colaboração de ex-alunos da Universidade que integraram o Gaia e fazem questão de participar das diversas atividades promovidas com o objetivo de disseminar o conhecimento da astronomia e fundamentar uma cultura científica geral. “A premissa básica do Gaia é, através da astronomia, colaborar para a modificação da percepção do mundo, a partir da observação de nosso planeta no contexto do tempo e do espaço”, explica o professor Peter Leroy Faria, fundador e coordenador do grupo.

Sediado no Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, no Campus Coração Eucarístico, o Gaia utiliza a estrutura diferenciada para levar o conteúdo científico a um público maior, que vai além do universitário, por meio de um método de ensino não formal, conforme afirma Leroy. “Existe uma carência enorme de conteúdo fidedigno sobre astronomia, sobre ciência. É difícil, por exemplo, uma revista científica atingir o grande público. E o público brasileiro é ávido por isso. Por isso o museu é importante também como polo de ensino não formal, que pode alcançar muito mais pessoas, desde que feito da maneira correta”, orienta.

Desde 2009, o grupo mantém no Museu de Ciências Naturais um planetário aberto à visitação para escolas e para o público em geral, que recebe cerca de 10 mil pessoas por ano. A estrutura, composta por três planetários móveis e 12 telescópios utilizados também em atividades externas, já alcançou mais de 200 mil pessoas desde a criação do grupo, a partir de projetos como Jornada nas Estrelas e Beabá da Astronomia. Esse último existe há um ano e meio e oferece instruções sobre astronomia básica aos estudantes da PUC Minas e alunos do ensino fundamental e médio. “O diferencial deste projeto é que temos estudantes falando para estudantes, ou seja, os alunos que são monitores do Gaia dão as palestras para os colegas. Isso é importante porque o estudante que vai optar pela docência ganha traquejo para tratar com o público”, argumenta o professor Leroy.

Atividades despertam interesse pela Física

Os eventos realizados pelo Gaia também inspiram e despertam o interesse do público pela graduação na área. “Muitos alunos do Curso de Física vieram para a Universidade por meio de atividades que o Gaia desenvolveu, a exemplo do projeto Caravana Astronômica. Nesse caso, visitávamos algumas cidades, os alunos se interessavam, vinham estudar Física e depois se tornavam estagiários do Gaia”, aponta o professor.

A aluna do 8º período do Curso de Física Camila Gabriela de Melo Silva é um exemplo. A estudante conheceu o grupo em uma das edições do projeto Jornada nas Estrelas, realizada no Parque das Mangabeiras, em 2008. A participação no evento foi decisiva para seu ingresso na Universidade. “A Física era a disciplina na qual eu tinha mais facilidade na escola e a que mais me agradava. E a partir da atividade do Gaia passei a ter vontade de me aprofundar a respeito quando perguntei a uma monitora o que ela estudava e ela contou que cursava licenciatura em Física e fazia estágio no grupo. Através dessa conversa, fiquei sabendo que existia o curso na PUC Minas e decidi fazer o vestibular”, conta a estudante. Camila atuou como estagiária do grupo durante quatro anos. Segundo ela, a experiência foi fundamental em sua trajetória acadêmica.

Elves Silva Moreira, aluno do 7º período do Curso de Física e estagiário do Gaia desde o primeiro semestre de 2014, também ressalta a importância que a atuação junto ao grupo tem para sua formação acadêmica. “A participação contribui com a nossa formação como docente, pelo fato de o grupo fazer parte do museu, atendendo ao público universitário, e também o público externo que visita o espaço, de forma que acabamos desenvolvendo as habilidades da oratória e de interagir com o público, que são importantes para nossa formação como professor”, pontua.

Para a professora Kelly Cristina Martins Faêda, docente do Departamento de Química e Física da Universidade há cinco anos e ex-estagiária do Gaia, se o ensino formal desperta certa resistência, o ensino não formal é uma alternativa possível. “Quando era estudante do Curso de Física e lecionava no ensino médio, percebia que os alunos tinham muita dificuldade em gostar da disciplina. Então eu os convidava para conhecer as atividades do Gaia e eles se encantavam. Se através do ensino não formal o aluno passar a gostar de Física, ele dará mais valor ao ensino formal. Estar em sala de aula gostando de uma disciplina é muito importante”, diz.

Estímulo à produção científica

“O monitor do Gaia aprende a explicar, sua didática melhora e, nesse sentido, o grupo agrega muito, pois o aluno lida com públicos de idades e formações variadas e precisa saber explicar para cada uma dessas pessoas”

Professor Peter Leroy

Para o professor Peter Leroy, os números relacionados à produção científica também demonstram a importância do Gaia, já que muitos professores da Universidade encontram no grupo a possibilidade de envolver seus alunos em projetos de pesquisa e de iniciação científica. “Desde a fundação, em 2005, já passaram pelo Gaia mais de 70 estudantes envolvidos em projetos de iniciação científica, entre bolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Desses alunos, hoje muitos são doutores e alguns, inclusive, lecionam na própria PUC Minas, o que é motivo de orgulho”, avalia.

É o caso da professora Kelly Faêda. Para ela, a participação no grupo é relevante para que o estudante interessado na carreira docente possa ter um contato inicial com a função. “O monitor do Gaia aprende a explicar, sua didática melhora e, nesse sentido, o grupo agrega muito, pois o aluno lida com públicos de idades e formações variadas e precisa saber explicar para cada uma dessas pessoas. O aluno de licenciatura que aprende a lidar com um público diverso desde cedo está preparado para dar aulas nos ensinos médio e superior, por exemplo”, afirma a docente.

Ampliando o espaço

O momento é de ampliação da infraestrutura para atendimento ao público e da produção científica do grupo, de acordo com o professor Peter Leroy. Além das atuais linhas de pesquisa em Divulgação Científica, Educação Informal e Ensino de Astronomia na Educação Básica e Astrofísica Extragalática e Cosmologia, uma nova linha de pesquisa em arqueoastronomia está sendo implantada, com o objetivo de localizar e identificar pinturas rupestres com viés astronômico em Minas Gerais e em outros locais do Brasil. “Tentamos resgatar o conhecimento de astronomia dos primeiros habitantes do Brasil e para isso contamos, por exemplo, com o suporte de dois ex-estagiários do grupo que são arqueólogos”, destaca o coordenador.

Quanto à infraestrutura, entre os planos está a conclusão de um telescópio de grande porte que está em construção com a perspectiva de ser instalado na Serra da Piedade, além do término das obras do planetário fixo, no Museu de Ciências Naturais. “Esse planetário será o maior de Minas Gerais, com cúpula de dez metros e projetor digital. A previsão é que entre em funcionamento, de maneira preliminar, ainda em 2016”, finaliza.

 

Saiba mais

  1. pucminas.br/gaia

  2. gaia@pucminas.br

  3. (31) 3319-4191

Texto
Anderson Cruz e Lídia Lima
Fotos
Marcos Figueiredo
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