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Extensão Curricularização da extensão universitária

As professoras Lucimar Magalhães de Albuquerque e Márcia Colamarco Ferreira Resende, que atuam na Coordenação de Acompanhamento de Projetos Pedagógicos de Cursos da Proex

PUC Minas se destaca entre as instituições de ensino pelo pioneirismo na implantação das práticas curriculares de extensão

A resolução número sete do Conselho Nacional de Educação (CNE), de 2018, estabelece as diretrizes para a extensão na educação superior. Com isso, a partir de 2022, as atividades de extensão devem compor, no mínimo, 10% do total da carga horária curricular estudantil dos cursos de graduação, as quais deverão fazer parte da matriz curricular dos cursos. Em 2015, três anos antes da homologação da resolução, a PUC Minas já iniciava seu processo formal de curricularização da extensão universitária, o que a coloca em uma posição de vanguarda e de referência para outras instituições. Atualmente, todos os cursos da Universidade possuem disciplinas com práticas curriculares de extensão. De acordo com dados de 2020, são ao todo 394 disciplinas, envolvendo 13.430 alunos e 483 professores.

“As atividades curriculares de extensão já fazem parte do cotidiano de alguns professores há vários anos na PUC Minas. Muito antes de se falar sobre a curricularização, vários professores já realizavam atividades com características extensionistas em suas disciplinas”, conta a professora Márcia Colamarco Ferreira Resende, que atua na Coordenação de Acompanhamento de Projetos Pedagógicos de Cursos da Pró-Reitoria de Extensão (Proex), juntamente com a professora Lucimar Magalhães de Albuquerque e a funcionária Tatiane dos Reis Moreira.

De acordo com a professora Lucimar, o alcance da meta estabelecida pelo CNE tem duas perspectivas. “A primeira diz respeito ao aspecto quantitativo, que possibilita que 100% dos discentes terão oportunidades de vivenciar atividades de extensão, o que também implicará em uma mudança na cultura dos cursos. E a segunda perspectiva amplia a compreensão que a PUC Minas tem de que a extensão universitária cumpre uma função educativa integrada com seu papel de transformação social“.

Nos últimos anos, em decorrência do reconhecimento pelo trabalho realizado, o pró-reitor de Extensão, professor Wanderley Chieppe Felippe, vem sendo convidado a compartilhar com outras instituições de ensino superior a experiência da PUC Minas na curricularização da extensão universitária.

Além disso, como forma de socializar o conhecimento e contribuir com o fortalecimento da extensão no país, a Universidade promoveu, em 2019, o Simpósio de Curricularização da Extensão Universitária e, neste ano, em parceria com a PUC Minas Virtual, ofereceu um curso online, com aulas síncronas (aquela em que é necessária a participação do aluno e professor no mesmo instante e no mesmo ambiente virtual) e assíncronas (gravadas), que contou com a participação de quase 100 pessoas.

“Eventos como esses são extremamente importantes, pois oportunizam espaços de diálogo. Poder conversar com professores de diversas outras instituições e de diversas regiões do país sobre as experiências que eles estão tendo na curricularização da extensão universitária possibilita que a gente também reflita sobre o nosso próprio processo. Isso mostra que estamos no caminho certo ao promover tais atividades”, explica a professora Márcia Colamarco.

A professora Lucimar conta que, durante o curso, surgiram diversas dúvidas sobre como realizar os registros e garantir a contabilização na carga horária para atender a resolução. “Percebemos que o processo da curricularização está se iniciando nas IES (Instituições de Ensino Superior), porém, ainda não está totalmente definido”, diz.

De acordo com a resolução, a “Extensão na Educação Superior Brasileira é a atividade que se integra à matriz curricular e à organização da pesquisa, constituindo-se em processo interdisciplinar, político, educacional, cultural, científico e tecnológico, que promove a interação transformadora entre as instituições de ensino superior e os outros setores da sociedade, por meio da produção e da aplicação do conhecimento, em articulação permanente com o ensino e a pesquisa”.

Caminho de desafios e inovação

A professora Márcia Colamarco conta que, quando a PUC Minas iniciou o seu processo de currícularização da extensão, em 2015, o “grande desafio” foi identificar as experiências de extensão nos cursos para que elas pudessem ser reconhecidas e registradas como práticas curriculares em todos os projetos pedagógicos. Para tanto, ela explica, foi necessário firmar parceria com a Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) e desenvolver, junto com a Gerência de Tecnologia da Informação (GTI) da Universidade, um sistema de disciplinas de extensão, para registro e avaliação das atividades.

“Aqueles que já realizavam atividades com as mesmas características das práticas curriculares de extensão rapidamente se adaptaram. Mas para aqueles em que tudo isso era novo o processo foi mais desafiador. Várias capacitações, reuniões e tutoriais foram realizados pela nossa coordenação, ao longo desses anos, para apoiar os professores e os cursos. Olhando para trás e vendo todo o caminho percorrido até aqui, percebo que ele foi todo recheado de desafios e inovação”, afirma.

Para a professora Lucimar, é necessária uma preparação continuada para a consolidação e enraizamento da cultura extensionista nos cursos. “Já avançamos em muitos aspectos para garantir a implementação da curricularização da extensão, entretanto, todo processo de mudança demanda uma compreensão de sua necessidade para a adesão e a criação de caminhos institucionais orientadores das ações. Percebemos que a Universidade abriga uma grande diversidade de áreas, algumas mais familiarizadas com a extensão e outras nem tanto”.

Disciplina promove Sarau da Saúde

Para a professora Jacqueline do Carmo Reis, a extensão deve permear toda a formação dos alunos

A professora Jacqueline do Carmo Reis ministra na disciplina Fisioterapia em Saúde Coletiva, do 5º período do Curso de Fisioterapia do Campus Betim, uma prática curricular de extensão chamada Sarau da Saúde. No início do semestre, os alunos são divididos em grupos, cada um com uma temática referente às linhas de cuidado na Atenção Primária (saúde do homem, da mulher, da criança, adolescente e idoso). Depois de discussões e alinhamento com o referencial teórico, os alunos são orientados a produzir um cordel com informações relevantes de educação em saúde e apresentar o trabalho para a comunidade, utilizando artes cênicas, músicas, danças, entre outras.

“Nesse sarau a comunidade é convidada a fazer apresentações culturais e/ou outras atividades no dia do evento, realizando uma participação ativa, com trocas de saberes e em busca da redução do fosso cultural existente entre academia e populares”, explica a professora Jacqueline .

Com a pandemia, as atividades foram mantidas e os alunos passaram a produzir vídeos, para divulgação em redes sociais. “Essa foi a maneira que encontramos para manter vivo o nosso sarau”.
Para a docente, que leciona há 17 anos, a extensão deve ser vista como um processo acadêmico de geração de conhecimento e deve permear toda a formação dos alunos, como prática transversal nas disciplinas da graduação. “Isso coloca o aluno como protagonista na busca pelo conhecimento”, afirma. Ela observa ainda que a prática extensionista amplia o universo de formação do aluno e reafirma o compromisso ético com a comunidade.

A aluna Dayane Jhenifer Ribeiro Silva, do 10º período do Curso de Fisioterapia, conta que participou de dois projetos de extensão antes de cursar a referida disciplina. Depois da prática curricular, ela continuou por mais um ano no projeto PUC Mais Idade e ingressou em outros dois. “Esta experiência [na disciplina] me estimulou a continuar na extensão universitária por mais longos anos, pois, quando experimentamos algo tão maravilhoso e transformador, queremos mais”, diz.

Na opinião dela, é “extremamente essencial” a presença de práticas curriculares de extensão nas disciplinas dos cursos. “É inegável e nítido os benefícios da extensão para formação acadêmica humanística, profissional e pessoal dos discentes”. Sobre a sua experiência na disciplina, ela destaca que o mais significativo foi aprender a falar “com a comunidade” e não “para a comunidade”. “Aprendemos sobre como transformar o saber científico em algo mais compreensível a fim de dialogar com a comunidade, de acordo com seu contexto de vida. Essa interação entre as partes possibilitou transformações para todos os envolvidos e uma ressignificação da minha prática acadêmica e creio que para as dos meus colegas de disciplina também”.

Texto
Fernando Ávila
Fotos
Bruno Timóteo
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