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Diálogos Eleger a perseverança

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"Abdicar-se da tarefa de escolher bem os representantes, a partir da equivocada crença de que ‘todos são iguais’ ou de que ‘o voto não faz diferença’, é um triste modo de dizer que tudo pode continuar do jeito que está"

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Grão-chanceler da PUC Minas
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte

Os vícios da política brasileira, com origem na crise ética e moral que incide sobre as dinâmicas sociais, alimentam um sentimento de desolação geral. Situação que empurra e converge para o clima de apatia, o que gera a indiferença em relação ao exercício da cidadania. Essa realidade é um sinal de alerta. O que se precisa é justamente de coragem para reagir, ainda mais quando se considera a aproximação das Eleições 2018. Os absurdos que tomam conta dos noticiários, o desrespeito com o erário, a má administração da máquina pública e as muitas perplexidades provocadas pelas atitudes de legisladores não podem justificar a falta de envolvimento dos cidadãos na busca por novos rumos. Ao contrário: ao invés de apatia e indiferença, cada pessoa deve estar convencida da sua força, da sua responsabilidade, na necessária transformação do Brasil.

Abdicar-se da tarefa de escolher bem os representantes, a partir da equivocada crença de que “todos são iguais” ou de que “o voto não faz diferença”, é um triste modo de dizer que tudo pode continuar do jeito que está. Significa também “lavar as mãos” diante de injustiças, a exemplo do que fez Pilatos. É importante enfrentar as dificuldades, derrubar, a partir da esperança, o pessimismo que paralisa e obscurece a razão.

Não há fórmula mágica para construir um país melhor. A constituição de novo contexto político e a busca por igualdade social constituem processo complexo, que supõe um passo a passo até que se possa alcançar a meta. Esse caminhar é responsabilidade de todos, de uma sociedade mais civilizada e amadurecida no exercício da cidadania. Perseverança, eis a palavra que deve nortear a conduta cidadã, no horizonte das Eleições 2018. “Não esmoreçamos na prática do bem, pois no devido tempo colheremos o fruto, se não desanimarmos”, orienta a Palavra de Deus, na Carta de São Paulo aos Gálatas.

Por isso, no cotidiano, e de modo ainda mais intenso na preparação para o processo eleitoral, cada pessoa é convocada a exercer a prática altruísta de se qualificar para bem escolher nossos representantes. Isso significa, desde já, pesquisar, refletir, participar de conversas em grupos, na família, trabalho, escolas, universidade e comunidades de fé. Nessa tarefa, oportuno é deixar ecoar no coração um questionamento feito pelo Papa Francisco: “Como vivemos o tempo que Deus nos deu? Nós o utilizamos, sobretudo, para nós mesmos, para os nossos interesses, ou sabemos gastá-lo também para os outros?”.

O exercício da cidadania é tarefa nobre, que precisa ultrapassar as fronteiras de ambições individuais, para ter força incidente nos rumos de toda a sociedade. Eleger a perseverança, não desanimar diante da crise ética e moral que prejudica todos e tudo, esse compromisso é prioridade para construir nova e bonita etapa na história do Brasil.

Texto
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Grão-chanceler da PUC Minas Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, presidente da CNBB
Foto
Marta Carneiro
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