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Comunidade Espaço da dignidade e da cidadania

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Samara Oliveira, funcionária de empresa que dá oportunidade a jovens, e Nataly Isabel, que conseguiu o primeiro emprego a partir do projeto

Projeto do Campus Contagem propõe inserção social por meio do trabalho

O currículo. Nataly Isabel de Deus Souza é objetiva ao relatar a atividade mais importante que ela aprendeu a executar durante os dois anos em que participou do Espaço Dignidade e Cidadania, projeto de extensão desenvolvido na PUC Minas Contagem desde 2012. A adolescente de 16 anos, moradora do bairro Bernardo Monteiro, vizinho ao Campus, soube da existência do projeto em sua escola e, por iniciativa própria, se interessou em participar. “Eu quis me inscrever porque lá eles oferecem várias atividades, como informática, de que eu não sabia, e é necessário para o mercado de trabalho. Entrando lá, eu aprendi, graças a Deus, a fazer várias coisas e a mais importante foi como elaborar um currículo”, relata a estudante do 1º ano do ensino médio.

"Percebemos que precisávamos trabalhar mais a questão da formação cidadã para que eles se preparem tanto para o trabalho, quanto para a mediação dos conflitos que eles enfrentam, tanto na família quanto na comunidade em que vivem"

Professora Gláucia Pinheiro

A ideia do projeto é incentivar o protagonismo juvenil por meio do fomento à educação e incentivo ao trabalho. Atendendo adolescentes de 14 a 18 anos em situação de vulnerabilidade social, encaminhados, em sua maioria, pelos Centros de Referência da Assistência Social (Cras) do município, o projeto visa resgatar a autonomia desses adolescentes e desenvolver atitudes e potencialidades que possam proporcionar a inserção social, permanência no sistema educacional e o início da vida profissional. “Seu objetivo maior é capacitar esses jovens para que eles possam ter condições de se adaptarem e de ingressarem no mercado de trabalho, como menores aprendizes ou, para aqueles que já vão completar 18 anos, o primeiro emprego”, explica a professora Gláucia Pinheiro da Silva, coordenadora de Extensão do Campus e coordenadora do projeto neste semestre. Atualmente, 52 adolescentes estão inscritos no projeto que já assistiu, ao longo dos cinco anos de execução, mais de 400 jovens.

Além das oficinas de informática, os adolescentes participam, nos três dias da semana em que o projeto é realizado, de outras atividades, como reforço escolar, suporte psicológico, práticas esportivas e atividades ligadas às artes. “Existe uma lacuna que a escola tem deixado na educação desses jovens. Muitas vezes eles chegam aqui com uma deficiência muito grande, principalmente nas disciplinas mais básicas, como português e matemática. Temos reforço escolar e algumas oficinas mais lúdicas, de forma a ampliar o conhecimento deles e o desenvolvimento social como um todo”, explica Gláucia. Além dos aspectos pedagógicos, são trabalhados em oficinas temas ligados à cidadania e direitos, como legislação para a juventude e funcionamento de políticas públicas. “Percebemos que precisávamos trabalhar mais a questão da formação cidadã para que eles se preparem tanto para o trabalho, quanto para a mediação dos conflitos que eles enfrentam, tanto na família quanto na comunidade em que vivem”, completa.

Os adolescentes que apresentam bom rendimento nas atividades, sobretudo nas voltadas para o trabalho, como a oficina de elaboração de currículo e as atividades de simulação de entrevistas de emprego, são encaminhados para participarem de processos seletivos em empresas parceiras do programa para pleitearem uma vaga como menores aprendizes ou, para aqueles que estão prestes a completar 18 anos, o primeiro emprego. “Direcionamos para os processos seletivos aqueles jovens que avaliamos que já estão preparados para assumir responsabilidades. Infelizmente, ainda são poucos encaminhamentos porque esses empregos exigem escolaridade. Tem que estar, pelo menos, no 1º ano do ensino médio, e muitos ainda estão abaixo”, conta Gláucia.

Primeiro contrato de trabalho

Nataly foi uma das jovens que conseguiram seu primeiro contrato de trabalho graças ao Espaço Dignidade e Cidadania. Ela foi encaminhada para participar de uma seleção na Patrus Transportes, empresa transportadora de cargas secas localizada no município de Contagem, e foi selecionada para trabalhar como menor aprendiz. “Foi uma oportunidade muito boa porque agora eu posso ajudar em casa com o meu salário. Somos apenas eu e minha mãe e tudo ficou mais fácil depois que eu consegui esse emprego”, diz Nataly, que pretende desenvolver cada vez mais suas potencialidades e, no futuro, ingressar no Curso de Medicina Veterinária. “Está sendo uma experiência nova. Eu estou aprendendo várias coisas, inclusive, a ser mais desenvolta, porque sou muito tímida”, avalia.

Samara Oliveira, funcionária do Instituto Marum Patrus, setor de responsabilidade social da Patrus Transportes, coordena um dos projetos sociais da empresa, o Jovem no Transporte que, atualmente, oferece oportunidades a 28 jovens aprendizes. Formada em Psicologia pela PUC Minas, Samara conheceu o Espaço Dignidade e Cidadania por meio de um colega de turma, que era extensionista no projeto e a convidou para ir ao Campus Contagem acompanhar de perto as atividades. A partir da visita, foi firmada a parceria entre o projeto de extensão e a empresa. Oito adolescentes foram encaminhados para o processo seletivo do Jovem no Transporte. Após provas, entrevistas e dinâmicas, Nataly foi aprovada no início do ano e tem contrato de 16 meses com a empresa. “Os jovens contratados fazem uma formação técnica voltada para os setores da empresa e também uma formação humana, como chamamos, em que eles têm atendimento psicológico, excursões e outras atividades. Na Patrus, a função que eles mais exercem é de assistente administrativo e aí aprendem de tudo um pouco”, explica.

Para ela, mais do que oferecer apoio pedagógico e encaminhar os adolescentes para a vida profissional, o Espaço Dignidade e Cidadania é um importante ambiente onde eles possam se expressar. “Os jovens realmente precisam do que a PUC, por meio dos projetos de extensão, e outras empresas, pelos seus projetos de responsabilidade social, fazem para a sociedade porque somente os órgãos públicos não conseguem suprir essa necessidade. Vai além da formação, é um espaço para o jovem. E a gente vê que falta muito isso”, opina Samara.

A professora Gláucia Pinheiro da Silva ressalta que outra frente importante do projeto é o enfrentamento às drogas. “O grande desafio é que temos um concorrente forte aí fora que é o mundo das drogas, que o tempo todo assedia esses jovens. Nós trabalhamos para que eles tenham uma formação e possam buscar emprego em uma carreira formal, mas, nas comunidades das quais eles vêm, são assediados pelo retorno mais fácil que esse mercado oferece. Então, temos um trabalho muito grande de tentar resgatá-los”, explica. O assunto é abordado na oficina de cidadania e direitos humanos, por meio de palestras com profissionais da área de saúde, ex-usuários e com a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG). “Percebemos o quanto os meninos ficam impactados e esperamos que eles reflitam sobre as consequências de se escolher esse caminho”, afirma.

Texto
Lívia Arcanjo
Fotos
Raphael Calixto
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