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Pesquisa Espelho, espelho meu

Celso Renato França Júnior: “Sinto-me bem sabendo que estou cuidando de mim”

Dissertação aborda consumo de produtos cosméticos e serviços estéticos pelos homens

Cabelo cortado e barba feita já não estão sendo suficientes para satisfazer homens cada dia mais vaidosos. Estudo realizado pela Nielsen, empresa que presta serviço de pesquisa de mercado, apontou que o público masculino foi responsável por 35% dos gastos dos itens de higiene e beleza entre junho de 2014 e junho de 2015, havendo um crescimento de 10% com gastos pessoais com produtos de necessidade ocasional como perfumes, colônias, hidratantes, cremes para barbear e pós-barba, e 2,3% com produtos de necessidades básicas, como desodorante, lâminas para barbear, xampu e condicionador.

Atenta a esse cenário, Aryane Ribeiro Máximo defendeu dissertação sobre o assunto, pelo Programa de Pós-graduação em Administração, procurando verificar quais eram os fatores intervenientes no comportamento masculino em relação ao consumo de produtos cosméticos e serviços estéticos. O trabalho, orientado pelo professor Ramon Silva Leite, foi apresentado no ano passado e mostrou que grande parcela dos homens entrevistados utiliza esses produtos e serviços e tem como principal motivação o bem-estar (54,25%), seguida pelo interesse em melhorar a aparência (18,40%), higiene pessoal (8,96%), entre outras.

De acordo com o envolvimento, autoimagem e estilo de vida dos homens entrevistados no estudo, Aryane os classificou em seis grupos, partindo do pouco vaidoso, que possui um hábito de consumo e cuidado estabelecido, se preocupa com a aparência, mas não faz disso um estilo de vida, passando gradativamente pelo vaidoso, até chegar ao metrossexual. “Percebemos que mesmo homens pouco vaidosos gostam de se vestir bem, de cuidar do cabelo, mas isso não faz parte de uma rotina. Para eles, o uso de produtos cosméticos está mais relacionado à saúde, como o uso de protetor solar, e praticar atividades físicas tem a ver com a preocupação com um corpo saudável. Já o metrossexual tem a preocupação de um cuidado mais específico e rotineiro e vai à academia para ter um corpo sarado, abdome trincado, por exemplo. Essa é a principal diferença entre eles”, conta.

Surgido na década de 1990, o termo metrossexual é uma referência ao homem extremamente vaidoso, preocupado com a aparência e com o bem-estar, sem nenhuma relação com a orientação sexual. A meta em alcançar um alto nível de excelência mediante as expectativas que se tem diante da própria imagem é o que o diferencia de um homem pouco vaidoso, de acordo com Aryane.

Revolução feminina

O cultivo da vaidade pelos homens teve início com a revolução feminina, segundo a autora da dissertação, época em que houve mudanças significativas no comportamento dos homens e das mulheres. “Nesse período, a mulher teve acesso ao mercado de trabalho e deixou de ser a principal responsável pelas compras do lar, então o homem passou a exercer essa atividade e a perceber produtos que antes eram voltados somente para elas”, observa. Aryane afirma, contudo, que ficou evidente nas entrevistas que, apesar de todas essas mudanças, estar mais bonito e bem aparentado é uma questão de relacionamento social, amoroso e com o mercado de trabalho.

Celso Renato França Júnior, 30 anos, um dos entrevistados para a pesquisa, afirma ser vaidoso, mas, por falta de tempo – ele está finalizando seu mestrado em Engenharia Elétrica –, tem dedicado menos tempo do que costumava e do que gostaria com cuidados pessoais. “Sinto-me bem sabendo que estou cuidando de mim. Eu gosto de melhorar não só no aspecto intelectual, mas ter uma aparência legal me atrai muito. Acho interessante modelar o corpo na academia, cuidar do rosto, mudar algumas coisas que não me agradam”, diz.

Com base no perfil dos entrevistados, com faixa etária entre 18 e 60 anos, e na análise de uso e frequência de serviços e produtos de beleza, Aryane constatou que, em uma amostra de 212 entrevistados, a maioria possui um nível intermediário de vaidade, ressaltando que os homens realmente estão se cuidando e gastando mais com produtos de beleza. Entre os produtos mais citados como parte da rotina desses homens está a prática de musculação/atividade física, o uso de protetor solar, produtos para modelar o cabelo, hidratantes de uma maneira em geral e produtos para cuidar do rosto. Tinta para cabelo, base para o rosto, base para unha, depilação e cremes esfoliantes também são alguns dos produtos utilizados. “Há uma grande preocupação com o cabelo e com o rosto, cremes antiacne e antioleosidade, mas o dado que me chamou mais atenção foi o uso de cremes antirrugas, principalmente em homens jovens, de até 30, 40 anos. Uma vez que todas as propagandas antirrugas e anti-idade são voltadas para as mulheres, não pensei que eles se interessavam”, alega.

Entretanto, apesar de a dissertação verificar maior consumo por parte dos homens, foi constatado que muitos desses produtos ainda são voltados para as mulheres. De acordo com Aryane, mesmo surgindo casas especializadas em cuidados masculinos, como barbearias, por exemplo, e existindo linhas específicas para eles, muitos produtos usados por eles estão alocados nas lojas em alas femininas, o que, em muitos casos, os inibe, e, por essa razão, na maioria das vezes quem compra é a namorada, esposa, mãe ou irmã.

O personal trainer Henrique Vieira Rodrigues Silva, de 35 anos, também foi entrevistado na pesquisa e faz uso de diversos produtos e serviços estéticos. Ele conta que não se sente intimidado em comprar produtos nas alas femininas, mas sua principal queixa é em relação aos hidratantes corporais, afirmando que deveria haver opções com menos cheiro e protetores solares para o corpo com uma textura menos pegajosa.

Preconceito e barreiras

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O personal trainer Henrique Vieira Rodrigues Silva faz uso de diversos produtos e serviços estéticos

A dissertação apontou que os homens vêm se mostrando mais abertos do que antes para falar sobre esse assunto e que quanto mais jovem mais facilmente declaram seus comportamentos de vaidade, sendo os mais velhos, principalmente após os 50 anos, mais conservadores e com barreiras para utilizar esses produtos e serviços. “Acredito que além do preconceito, de achar que homens metrossexuais são afeminados e não concordar com alguns comportamentos de vaidade, talvez as pessoas mais velhas tenham mais dificuldade a aderir a certos tipos de produtos porque passaram a conhecê-los depois. Os mais jovens já cresceram com esse acesso, estão mais habituados, têm variedades à mão que antigamente não tinham e identificam o metrossexual como um homem comum, que gosta de se cuidar”, observa Aryane.

Embora seja evidente a diferença de pensamento de acordo com a idade, a autora do estudo afirma que a maioria dos homens possui algum nível de vaidade. “Muitos nem percebem. É uma rotina às vezes compartilhada, que faz junto com a namorada, mulher, quando, por exemplo, elas estão passando um creme hidratante e passam neles porque a pele deles está ressecada. Eles, percebendo os benefícios desse produto, passam a utilizá-lo e incorporar em sua rotina”, diz.

Henrique relata compartilhar diversas rotinas de beleza com a noiva como, por exemplo, as idas ao salão de beleza, mas conta que o preconceito existe e que ele, inclusive, possui amigos e clientes que estranham o fato de ele fazer sobrancelha, depilar, passar base e tirar cutícula da unha. Ele atribui isso a uma dificuldade de aceitação da sociedade, em especial, pelos homens, porque, de acordo com ele, as mulheres gostam de ver que os homens estão se cuidando e se preocupando com a aparência.

Celso afirma que não se preocupa com o preconceito e reforça que o público feminino valoriza e se interessa por homens vaidosos, cheirosos, com a barba feita, a pele agradável ao toque e a mão lisa: “Nunca senti que alguém me achasse afeminado por isso. Na verdade, me sinto bem masculino mesmo diante disso e tenho amigos que também têm certos cuidados. Os que não têm, respeitam, entendem. Procuro pensar que, uma vez que gosto de uma mulher com a aparência legal, que é agradável estar ao lado dela, eu gostaria que ela tivesse a mesma visão de mim”.

 

Os tipos de vaidosos

Confira os tipos de homens, categorizados pela dissertação

  1. O Homem das Cavernas

  2. Pouco vaidoso. Diz-se satisfeito com a própria aparência e por isso não está disposto a gastar dinheiro com produtos e serviços. Relaciona a vaidade à “frescura” e possui uma visão negativa do consumo de produtos cosméticos.

  3. O Discreto

  4. Possui vaidade discreta. Não está disposto a gastar com a aparência, pois, para ele, é um consumo superficial e utiliza produtos cosméticos considerados de utilidade. Relaciona a vaidade ao bem-estar e se considera bastante satisfeito com a aparência pessoal.

  5. O Sensato

  6. Homem vaidoso, com tendências metrossexuais. Alguns consideram a possibilidade de gastar mais com a aparência e são experimentadores de produtos cosméticos ou pretendem fazer uso no futuro, apesar de não demonstrar uso constante desses produtos. Relaciona a vaidade ao bem-estar e como forma de embelezar-se e se considera bastante satisfeito com a aparência pessoal.

  7. O Vaidoso

  8. Vaidade em ascensão. É um metrossexual comedido. É bastante habituado com produtos cosméticos e serviços estéticos e considera gastar ainda mais com a aparência. Relaciona a vaidade principalmente ao bem-estar e aceita o uso destes produtos para ficar mais bonito. Acredita que homens que se preocupam com a aparência são valorizados pela sociedade.

  9. O Exuberante

  10. Muito vaidoso. É um metrossexual. É consumidor de produtos cosméticos, pois gosta de cuidar da aparência e acredita que esses produtos ajudam a melhorar o visual. Além disso, considera gastar ainda mais com a aparência. Relaciona a vaidade principalmente ao bem-estar, mas também para ficar mais bonito. Muito satisfeito com sua aparência pessoal. Acredita que o cuidado com a aparência facilita as relações em sociedade.

  11. O narcisista

  12. Perfeitamente um metrossexual. É consumidor de produtos cosméticos, pois gosta de cuidar da aparência e acredita que estes produtos ajudam a melhorar o visual, por isso considera aumentar os gastos nesses cuidados. De todos os grupos, este é o que mais gasta com produtos para melhorar a aparência. Conceitua-se como metrossexual. Relaciona a vaidade ao bem-estar e a ficar mais bonito. Ama a própria imagem refletida e passa muito tempo verificando o visual no espelho. É identificado por pessoas próximas como vaidoso. Considera que a boa aparência facilita as relações em sociedade.

Texto
Tereza Xavier
Ilustração
Quinho
Fotos
Marcos Figueiredo
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