revista puc minas

Política Estímulo à participação cidadã

Para Lucas Junqueira Meirelles, ex- aluno do Curso de Ciências Sociais, a atuação como extensionista no Parlamento Jovem de Minas foi importante para o exercício da cidadania

Atuação junto à comunidade interna e externa reforça formação política

A formação humanista, crítica e voltada para a mudança e promoção do ser humano, que integra a missão da PUC Minas, contempla conteúdos e reflexões que estimulam a participação cidadã, política, comprometida com o bem comum. Ações de formação de profissionais e de cidadãos, tanto interna quanto externamente, traduzem essa dimensão sociopolítica da Universidade, desenvolvidas, por exemplo, pelo Núcleo de Estudos Sociopolíticos (Nesp), o Parlamento Jovem de Minas (PJMinas) e o MiniONU.

Tal participação se traduz em ações de mobilização em grandes temas nacionais, como foi a conscientização, liderada pelo Nesp, no recolhimento de assinaturas, no âmbito da Arquidiocese de BH e suas instituições, para a viabilização do projeto de lei de iniciativa popular, que redundou na promulgação da Lei da Ficha Limpa, em 2010. Ou mesmo a liderança, por meio do reitor da PUC Minas, professor Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, que presidiu a Comissão da Reforma Política na CNBB, para o chamamento, em 2013, junto com outras entidades, como o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) e a OAB, para a unificação de várias propostas que haviam sobre a temática, dando origem à Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas. Há, ainda, a formação política desenvolvida pelo Nesp a partir da produção de vídeos sobre a importância do voto consciente, o monitoramento das candidaturas, debates e mecanismos do processo eleitoral e do Legislativo. Uma das campanhas de formação política, nas eleições de 2014, foi utilizada em nível nacional também pelo TSE.

Essa formação política permeia também grupos de fé e política na Arquidiocese de Belo Horizonte. Atuante na Pastoral da Juventude e no Movimento de Fé e Política, a socióloga Liliam Daniela dos Anjos, graduada e mestre em Ciências Sociais pela PUC Minas, foi estagiária do Nesp em 2007 e até hoje assessora grupos e pastorais. “O trabalho do Nesp é muito necessário dentro da Universidade, na relação com o estudante, atingindo o papel dela na promoção do conhecimento, e para a sociedade, contribuindo para a discussão da política”, enfatiza a socióloga.

Participação popular

Outra frente de formação política é o PJMinas, o Parlamento Jovem de Minas, no qual 2,9 mil estudantes do ensino médio de escolas públicas e particulares de 83 municípios discutem temas e propõem ações a serem acolhidas pelo Legislativo, como explica o coordenador do projeto de extensão Parlamento Jovem de Minas, professor Alexandre Eustáquio Teixeira. Proposições são reunidas em plenárias municipais das respectivas câmaras e mais 16 plenárias regionais, que culminam na tramitação na Comissão de Participação Popular, resultando em proposições de leis. Exemplo disso foi a extensão da obrigatoriedade da merenda escolar no ensino médio em Minas Gerais, tema que havia sido tratado no Parlamento Jovem de Minas.

“Umas das finalidades do Parlamento Jovem de Minas é fazer com que os jovens entendam e ocupem os espaços de cidadania destinados a eles”, diz o professor Alexandre Teixeira. O projeto é desenvolvido e coordenado pela PUC Minas, por meio do Instituto de Ciências Sociais (ICS) e da Pró-Reitoria de Extensão, e pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais, por meio da Escola do Legislativo.

Para Lucas Junqueira Meirelles, que foi aluno do Curso de Ciências Sociais da PUC Minas, a atuação como extensionista no Parlamento Jovem de Minas foi importante para ele no exercício da cidadania, como atuar e decidir no campo político. Diz que, já como profissional, a experiência no PJMinas deu a ele subsídios para sua atuação na elaboração de políticas públicas no Estado.

Soluções coletivas

Marina Oliveira, aluna do Curso de Relações Internacionais e secretária-geral do MiniONU

Buscar soluções coletivas para problemas mundiais é também outra frente de formação política. O MiniONU, maior modelo intercolegial das Nações Unidas na América Latina, realizado pelo Departamento de Relações Internacionais da PUC Minas e que tem a coordenação do professor Rodrigo Teixeira, reúne, a cada ano, 1 mil alunos do ensino médio de escolas públicas e particulares de todo o Brasil.

Por meio do engajamento de estudantes do Curso de Relações Internacionais, formam-se comitês (ambiente de simulação de organismos internacionais ou instituições nacionais com agenda internacional), que são palco de discussões de temas relevantes da agenda internacional.

Os alunos do ensino médio transformam-se em delegados que defendem interesses do ator a ele atribuído. Para isso, esses estudantes passam por um período de preparação em suas escolas, sob supervisão de professores.

Durante quatro dias, os delegados, distribuídos em seus comitês, debatem, pactuam, deliberam e criam consensos para os temas em questão.

Marina Oliveira, do 8º período do Curso de Relações Internacionais e secretária-geral do MiniONU, participa pela quinta vez do projeto. Ela classifica o MiniONU como muito importante para a formação política dos estudantes do ensino médio, “um projeto de resistência à lógica do sistema escolar, na medida em que o próprio aluno do ensino médio constrói, dialoga e propõe soluções para problemas”. Os temas discutidos nos comitês são muitas vezes trabalhados nas escolas de forma secundária, considera.

Resgate histórico

Além da formação política, a Universidade tem papel importante no resgate de episódios da História, como os relacionados aos desaparecidos durante o golpe civil-militar de 1964. Após parceria com a UFMG, em 2014 a Comissão da Verdade em Minas Gerais (Covemg) estabeleceu parceria também com a PUC Minas para apuração, no Estado, de graves violações aos direitos humanos durante o regime militar. Grupo na PUC Minas foi formado pelos professores Carlos Frederico Barboza de Souza, Robson Sávio Reis Souza (presidente da Covemg em 2017) e Cássio José de Paula. A Covemg produziu, ao final do período, relatório com 1,8 mil páginas, em 13 temáticas.

Os Cadernos Temáticos, de 2014, editados pelo Nesp, tiveram como tema os 50 Anos do Golpe Civil-Militar – atuação da Igreja e da Universidade, uma reflexão sobre resquícios e continuidades daquela ordem autoritária, quais os impactos na Igreja e na sociedade.

De acordo com o professor Robson Sávio, se, num primeiro momento, setores conservadores da Igreja apoiaram o golpe contra o comunismo, num segundo a Igreja foi uma das instituições mais engajadas contra o golpe, fazendo denúncias fora do Brasil e acolhendo os perseguidos. “Na Universidade Católica de Minas Gerais por mais de uma vez houve tentativa institucional de intervenção, mas a reação da Universidade foi de muita firmeza. A UFMG e PUC Minas foram espaços que preservaram as garantias civis. A PUC Minas tentou ao máximo preservar os direitos políticos-civis de professores e alunos”, conta o professor Robson Sávio, dizendo que a Universidade procurou manter sua autonomia perante as interferências institucionais do governo.

Texto
Leandro Felicíssimo
Fotos
Raphael Calixto
Compartilhe
Fale Conosco
+ temas relacionados