Pós-graduação Fora da caixa
Criatividade é matéria-prima do aprendizado
proposto pelos cursos do Núcleo de Economia
Criativa do IEC PUC Minas
Diante de uma tela em branco, o artista tem uma ideia inédita. O processo é simples e, em pouco tempo, surgirá ali uma obra, fruto de um talento criativo inato. A cena genérica ainda habita o imaginário de muitas pessoas quando o assunto é criatividade, considerada por muito tempo um dom reservado para poucos. Essa compreensão, no entanto, ficou para trás. Hoje é sabido que a criatividade é um conhecimento que pode ser acessível a todos. “Temos que perder a ideia estereotipada de que o sujeito criativo é aquele que sempre pensa diferente dos outros e apresenta soluções irreverentes. A pessoa criativa lida com prazos e tem a sensibilidade de propor o caminho mais interessante para aquele contexto de um modo singular e qualquer área precisa de profissionais ousados”, alerta a professora Renata Alencar, uma das coordenadoras do Programa Processos Criativos em Palavra e Imagem e do curso Educação Criativa, ambos do IEC PUC Minas.
Mas, na busca por um ideal de criatividade, o que a define afinal? Para Renata, a criatividade pode ser resumida como a capacidade de conectar saberes, pessoas e referências de diferentes campos para se chegar a uma boa ideia. “Quanto mais repertório uma pessoa tem, maior é a sua capacidade de gerar associações interessantes e singulares. Todo repertório é aprendido, portanto ninguém nasce criativo, mas se torna criativo a partir de uma busca que passa por ler, ver filmes, conversar com pessoas interessantes, viajar, ouvir música, enfim, por uma gama vasta de experiências que vão se acumulando e formando o ‘ser criativo’”, afirma a professora.
Outra questão que pode ajudar na compreensão é diferenciar três conceitos que são muito confundidos: criatividade, invenção e inovação. De acordo com o professor José Albino, coordenador do Núcleo de Economia Criativa do IEC PUC Minas, a criatividade é a geração de ideias; a invenção é a realização dessa ideia em um nível de protótipo ou projeto, sem desenvolvê-lo em uma linha de produção, por exemplo; enquanto a inovação consiste em transformar a invenção em algo rentável. “A empresa que não consegue inovar não sobrevive, hoje o diferencial é a capacidade de identificar a demanda do mercado”, analisa.
Economia criativa
Foi nesse contexto que o Núcleo de Economia Criativa do Instituto de Educação Continuada (IEC) PUC Minas foi implantado, em 2013, como uma iniciativa pioneira da Universidade, com o objetivo de oferecer ensino relevante para um setor em expansão. “Identificamos demandas de mercado e buscamos profissionais qualificados para desenvolver os cursos. Hoje temos mais de 20 cursos de pós-graduação, transdisciplinares, que atendem a procura dos mais diversos tipos de profissionais”, explica José Albino. Os cursos integram conhecimentos relacionados à economia criativa, mas não se limitam a isso e agregam, portanto, áreas como tecnologia, inteligência competitiva, marketing, cinema e até engenharia.
O conceito de economia criativa surgiu no Reino Unido na década de 1990. Desde então, teve sua definição readequada algumas vezes e até hoje é um termo que ainda causa estranhamento. Afinal, não seria a criatividade um talento muito subjetivo para caracterizar um dos setores da economia tradicional? Os dados do mercado mostram que não. De acordo com o Radar – Economia Criativa em Minas Gerais, documento publicado em 2018 pelo Sebrae-MG, Fiemg, Codemig e Fundação João Pinheiro, a economia criativa emprega mais de 4,6 milhões de pessoas no Brasil, sendo que 47,9% deste número é relativo a empregados que trabalham em empresas industriais.
“É um setor que envolve atividades econômicas em pelo menos três segmentos principais, sendo que sua principal característica é a multidisciplinaridade. O trabalho com as artes, o patrimônio cultural, a tecnologia e a cultura, por exemplo, geram bens e serviços de valores intangíveis, de modo que o capital das empresas é o capital intelectual de seus membros”, define o professor José Albino.
Tradição e inovação
Em tempos de startups e novas tecnologias, Rodolfo Alcântara, aluno do curso de pós-graduação em Gestão de Negócios, encontrou a possibilidade de inovar na antiga empresa de sua família. A Tradicional Limonada, loja instalada no Mercado Central de Belo Horizonte desde 1938, teve os cuidados do avô de Rodolfo até 2016, quando precisou se ausentar por motivos de saúde. “Eu não tinha nenhuma relação com o negócio, mas diante da necessidade de mantê-lo em funcionamento, passei a trabalhar no local e despertei o olhar para as possibilidades que existiam ali”, relembra.
Na época, Rodolfo era estudante de Relações Públicas na PUC Minas e o conhecimento criativo já era parte de sua rotina. Talvez por isso, uma das primeiras decisões foi investir na criação de uma identidade visual para a loja. De lá para cá, a marca ganhou perfis nas redes sociais e expandiu sua atuação para novos mercados, com a criação de um produto inédito (caipirinha), a participação e a execução de eventos. Logo após a formatura, Rodolfo iniciou o curso de Gestão de Negócios, para adquirir conhecimento de mercado, se adaptar às demandas e ter um olhar mais crítico. “As disciplinas são norteadoras, me ajudam a colocar os pés no chão e tenho tido a chance de conviver com colegas que atuam em áreas consideradas menos criativas. No entanto, vejo que as disciplinas relacionadas à inovação e empreendedorismo são muito importantes, pois nos tiram da zona de conforto”, afirma.
Mesmo com tantas mudanças e perspectivas para o futuro, o modo de fazer artesanal da famosa limonada continua preservado. Para aumentar a produção, já foi desenvolvido o protótipo de uma futura máquina para espremer limões. “Tenho clientes que frequentam a loja há 30 anos, não dá para negar a tradição”, comenta Rodolfo.
Afinal, ser tradicional não significa negar as possibilidades que a inovação propõe. A diferença são os caminhos escolhidos para fazer a diferença no mercado de trabalho, seja qual for o contexto de trabalho. “Em alguns momentos, ser inovador é pensar uma solução exequível e simples para resolver um problema, em outros é ousar e pensar em ideias disruptivas”, destaca a professora Tailze Melo, coordenadora do Programa Processos Criativos em Palavra e Imagem e do curso Educação Criativa.
Novas percepções
Grazielle Silva chegou ao curso de Processos Criativos em Palavra e Imagem, em 2018, se sentindo engessada. “Trabalho com comunicação no contexto corporativo e com o tempo vi que eu precisava buscar novas referências, conhecer perspectivas diferentes. Era algo que me incomodava muito”, conta. Mesmo com três cursos de pós-graduação no currículo, sendo dois deles na Universidade (Produção em Mídias Digitais, já extinto, e Comunicação Estratégica), Grazielle estava em busca de um conhecimento diferente. “Foram experiências muito focadas no mercado de trabalho. Desta vez eu quis focar também em projetos pessoais, parados há tempos na gaveta”, revela.
Hoje, a aluna está no último módulo e destaca a integração do aprendizado, que une teoria e prática, como um dos diferenciais do curso. “Certa vez, um professor de fotografia me ensinou a olhar para as coisas sob ângulos diferentes. No curso de Processos Criativos senti isso numa versão muito maior: minha visão para absorver referências ampliou, passei a ter novas compreensões sobre teatro, arte, escrita e outros temas que são importantes para mim”, descreve. Prestes a iniciar o Trabalho de Conclusão de Curso, Grazielle afirma: “Criatividade é para todo mundo, a questão é mudar o olhar”. Talvez o desafio seja compreender a importância dos processos criativos e como funcionam.
A importância do processo criativo
No primeiro semestre deste ano, o curso Processos Criativos em Imagem e Palavra se desdobrou no Programa de Especialização em Processos Criativos, composto pelos cursos de Escrita Criativa; Fotografia e Outras Visualidades Contemporâneas; Moda e Outros Sistemas Semióticos; e Narrativas Gráficas.
“O Programa continua contemplando questões metodológicas que são centrais, referente à matriz curricular estruturada como uma rede de articulações teóricas que se conectam para a realização das práticas autorais desenvolvidas ao longo do curso e à valorização da construção de um portfólio em um curso de especialização. O estudante finaliza seu curso com quatro grandes projetos autorais concluídos e outros projetos intermediários; não se trata apenas de buscar um título, mas de estar realmente mais preparado para os mercados criativos que selecionam seus profissionais muito pela produção criativa desenvolvida em contextos diversos”, explica Tailze Melo.
Saiba mais
Conheça os cursos do Núcleo de Economia Criativa no site do IEC: