revista puc minas

Diálogos Humanidade e a casa comum

“Quando se fere a harmonia da criação de Deus, o planeta é conduzido ao colapso ambiental e todos, cedo ou tarde, sofrerão as consequências”

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Grão-chanceler da PUC Minas
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte

O inadequado tratamento do planeta é sintoma de que a humanidade, com frequência, se esquece de indicação fundamental do Livro do Gênesis: “Nós mesmos somos terra” (cf. Gn 2, 7). Há uma integração indissociável entre a vida humana e o bem-estar de toda a Terra, a casa comum. Por isso, qualquer tipo de desenvolvimento que ocorra fora dos parâmetros de sustentabilidade é mera ilusão, pois desconsidera a interdependência que há entre todos os elementos da Criação. As consequências do descaso em relação ao planeta são sofridas, primeiramente, pelos mais pobres. Porém, não tardam para pesar sobre os ombros de todos. Tornam-se crises que se agravam velozmente. É nessa perspectiva que o deficit estrutural no campo do saneamento básico deve ser compreendido.

Sabe-se que, a cada dois minutos e meio, uma criança morre por não ter acesso à água potável e por falta de condições básicas de higiene. Essa situação causa perplexidade e demanda, de governantes, investimentos e providências urgentes. Também exige de cada pessoa a postura cidadã de cobrar, dos seus representantes, a devida atenção ao saneamento básico, um direito de todos. De modo ecumênico e diante dessa necessidade, as igrejas cristãs se uniram para realizar, este ano, a Campanha da Fraternidade, que teve como tema Casa Comum, Nossa Responsabilidade. Um itinerário que busca a soma de esforços para se alcançar a meta de universalizar o acesso ao saneamento básico. Para isso, no coração de todos, deve gritar o desejo de “ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual um riacho que não seca” (Am 5,24) – citação bíblica que é o lema da campanha.

As questões relacionadas ao saneamento básico abrangem justiça social e cuidado ambiental. Demandam não apenas os diagnósticos capazes de mostrar a real situação de municípios, bairros e comunidades. Exigem também ações imediatas que possibilitem a ampliação do acesso à água tratada e a garantia de que comunidades sejam contempladas com eficazes sistemas de esgoto. Eis uma forma de efetivamente combater a pobreza e possibilitar a redução da mortalidade infantil, evitar a disseminação de doenças, além de garantir a sustentabilidade ambiental.

Na contramão desse caminho está uma armadilha: investir no progresso econômico que alimenta injustiças, gera corrupção e violência, destrói o planeta. Essa cilada é uma ameaça para todos, inclusive para os que se refugiam em “fortalezas”, com sofisticados esquemas de segurança e, assim, acreditam estar protegidos. Não adianta. Quando se fere a harmonia da criação de Deus, o planeta é conduzido ao colapso ambiental, e todos, cedo ou tarde, sofrerão as consequências. A falta do sentido de justiça é alimento para o caos.

Oportuno é lembrar o que diz o Papa Francisco, na Carta Encíclica Louvado Sejas – sobre o cuidado com a casa comum: “O nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; o seu ar permite-nos respirar, e a sua água vivifica-nos e restaura-nos”. Por isso, a busca pela universalização do direito ao saneamento básico é responsabilidade de todos os povos, inadiável compromisso cristão. Uma urgência diante da necessidade de proteger, em primeiro lugar, as vidas de quem precisa de amparo – pobres, enfermos, crianças e idosos –, mas também condição para se evitar o colapso ambiental que, igualmente, a todos ameaça.

Texto
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Grão-chanceler da PUC Minas Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, presidente da CNBB
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