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Geografia Imigrantes em Minas

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O professor Duval Magalhães, um dos organizadores do atlas

Em Minas Gerais, o número de imigrantes registrados chegou a 35.663 mil em outubro do ano passado. Desse total, a maior parte é de haitianos (3.241), seguida de colombianos (1.997) e italianos (1.822). Essas informações constam do Sistema de Cadastro e Registro de Estrangeiro da Polícia Federal, que serviu de fonte para a produção de um atlas inédito no Estado que traça o perfil da migração internacional em Minas Gerais.

A publicação, lançada no final do ano passado, foi produzida pelo Observatório das Migrações Internacionais do Estado de Minas Gerais (OBMinas), do qual faz parte o Programa de Pós-graduação em Geografia – Tratamento da Informação Espacial da PUC Minas, entre outras instituições como a UFMG, Uemg, UniBH, Univale, Instituto Izabela Hendrix, Serviço Jesuíta de Migração e Refúgio, com apoio do CNPq, Capes e Fapemig.

O atlas, em sua primeira versão, tem como proposta oferecer às escolas, à sociedade e às autoridades instrumentos que possam contribuir para o aprimoramento de políticas públicas. Nele constam informações como idade, sexo, município de residência, país de nascimento e ocupação declarada dos imigrantes internacionais em Minas Gerais. Elas mostram que há imigrantes espalhados por todas as regiões do Estado, sendo Belo Horizonte a cidade com maior número (10.539), depois Contagem (1.973) e Uberlândia (1.837).

A maioria deles é composta por homens, representando 66,55%. Segundo o professor Duval Magalhães, do Programa de Pós-graduação em Geografia, um dos organizadores do atlas, juntamente com o professor Paulo Fernando Braga Carvalho, também do Programa, essa é uma característica da imigração no Brasil, em que os homens saem dos seus países sem a família e, quando encontram uma situação favorável, trazem a esposa, filhos e outros familiares. Além disso, 10.305 deles têm entre 20 e 29 anos, que é a faixa etária na qual está inserida a maior parte dos imigrantes economicamente ativos.

Políticas públicas necessárias

Para o professor, esses novos fluxos colocam grandes desafios para as políticas públicas, principalmente no caso do Brasil em que não há uma política migratória para definir questões relacionadas à educação, assistência social, saúde, entre outras. Ele cita como alguns dos desafios a falta de capacitação dos agentes públicos para lidar com os imigrantes, a dificuldade e o alto custo para se reconhecer o diploma de curso superior e a ausência de um local instituído pelo Ministério da Educação para o ensino da língua portuguesa. “A aceitação dos diplomas hoje funciona de maneira singular. Cada caso é analisado com um critério. Quanto mais diplomas reconhecidos, mais essas pessoas podem ser aceitas no mercado de trabalho. Além disso, precisamos integrar o estrangeiro na sociedade, e o primeiro passo é aprender o idioma. Essas são questões que uma política migratória definiria”, afirma.

Entretanto, o professor ressalta que a imigração pode ser muito benéfica para os países de acolhida quando bem aproveitada a mão de obra dos estrangeiros. “Temos haitianos sem segundo grau completo, mas também temos com ensino superior. Foram pessoas que chegaram aqui com algum conhecimento, sem que o Brasil precisasse investir nelas. Se facilitassem a entrada deles no mercado de trabalho, dentro de suas qualificações, aproveitaríamos esse capital humano”, reforça.

Em uma segunda etapa, serão inseridos no atlas informações de outras bases de dados, além de textos, fotos e vídeos para que as pessoas, ao consultá-lo, possam conhecer a realidade do país dos imigrantes. O atlas já foi apresentado em eventos da área da educação e a pretensão é levá-lo principalmente para as escolas. “Não há forma mais eficiente de combater o racismo e a xenofobia do que trabalhar a construção da cidadania desde os primeiros passos da socialização, via integração dos imigrantes ao espaço escolar, permitindo o conhecimento mútuo e com isso o aprendizado da realidade do outro, da sua cultura e tradições”, ressalta a professora Ana Márcia Moreira Alvim, coordenadora do Programa de Pós-graduação em Geografia.

 

Texto
Tereza Xavier
Foto
Raphael Calixto
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