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Especial Líquido precioso e escasso

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Má gestão, mudanças climáticas e cultura do desperdício comprometem o abastecimento de água

“Apontamos o dedo para o outro e, assim, nos distanciamos de nossa responsabilidade. Somos os responsáveis por tudo isso”

Professor Miguel Ângelo Andrade, chefe do Departamento de Ciências Biológicas da PUC Minas
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Há 54 anos (em 1961), o astronauta russo Yuri Alekseievitch Gagarin, primeiro homem a ir ao espaço na primeira viagem tripulada, disse: “A terra é azul”. A cor a que ele se referiu é, principalmente, dos oceanos e dos mares. A quantidade de recursos hídricos existente no planeta é gigantesca. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), é provável que haja 1,39 bilhão de metros cúbicos de água no mundo.

A água que circula hoje é a mesma que molhou os dinossauros. Está em processo de eterna reciclagem: evapora, desaba como chuva, escorre para o fundo da terra e retorna à superfície, volta a evaporar, num ciclo perpétuo. O problema é que um recurso renovável não se mantém inesgotável e de boa qualidade por todo o tempo. Agrava-se o fato de toda a água potável representar apenas 0,02% desse líquido de todo o planeta.

Divulgado em 22 de março de 2015, durante as comemorações do Dia Mundial da Água, o Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento de Recursos Hídricos adverte que a população mundial deverá enfrentar um déficit de 40% no abastecimento de água até 2030, caso não tome medidas drásticas para melhorar a gestão desse recurso natural.

Essa escassez já está mostrando a cara no Sudeste do País. O Estado de São Paulo vive a pior crise hídrica desde 1930. O sistema Cantareira, que abastece 8,8 milhões de pessoas, quase a metade da população da Grande São Paulo, opera em volume útil esgotado desde julho de 2014.

Nos últimos meses, em Minas Gerais, onde fica a nascente de seis das principais bacias hidrográficas do Brasil (Rio São Francisco, Rio Grande, Rio Doce, Rio Jequitinhonha, Rio Parnaíba e Rio Paraíba do Sul), o volume de água chegou a ficar 60% a menos do que o normal.

Sistemas de captação do Rio Paraopeba, que abastecem os 34 municípios da região metropolitana de Belo Horizonte, com uma população de cinco milhões de habitantes, ficaram com os três reservatórios (Várzea das Flores, Serra Azul e Rio Manso) com apenas 30% do volume ideal.

Para o professor Miguel Ângelo Andrade, chefe do Departamento de Ciências Biológicas da PUC Minas, a crise hídrica atual pode ser explicada pelo não comprometimento de grande parte da população com relação às formas de economizar água. “A responsabilidade em poupar a água potável é de todos os brasileiros. Infelizmente, no Brasil, ainda são poucas as famílias que têm essa consciência ambiental”, diz o biólogo.

Professora do Curso de Serviço Social da Universidade e coordenadora do Projeto Rondon Minas – Direitos Humanos e integrante do Núcleo de Políticas Sociais e Urbanas (Nupsu) da Pró-reitoria de Extensão (Proex), a professora Mônica Abranches diz que, pela experiência de trabalho com ações de extensão universitária voltadas para a sustentabilidade nos municípios mineiros, os problemas relacionados ao meio ambiente, como escassez de água, lixo urbano e preservação ambiental são sempre uma junção de três fatores: a má gestão das políticas públicas relacionadas ao tema, o desconhecimento da população sobre a questão e fatores climáticos ou físicos do território.

Já para a professora Matilde de Souza, do Departamento de Relações Internacionais e coordenadora do Programa de Pós-graduação da área, a crise hídrica atual está intrinsecamente relacionada ao mau gerenciamento da água feito pelos governos. “Essa situação ocorre quando não há o planejamento de ações preventivas em períodos de abundância para enfrentar os tempos de escassez, quando se investe mais em estruturas de captação do que em soluções efetivas para os problemas de distribuição.”

A forma de ocupação desordenada do território é preocupante na avaliação da professora Mônica Abranches. “Um planejamento inadequado dessa ocupação pode acabar com lençóis freáticos e também com nascentes de água. Tanto as grandes empresas construtoras quanto os cidadãos, nas ocupações de terras, têm se apropriado de territórios de forma irresponsável quando aterram ou desviam nascentes e pequenos córregos.”

Analisar a crise hídrica sem levar em conta as alterações climáticas é um grande erro, na avaliação do professor Eugenio Batista Leite, pró-reitor adjunto da PUC Minas em Betim e docente do Departamento de Ciências Biológicas. Em novembro de 2011, 27 especialistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) apresentaram um relatório especial sobre gestão de risco de desastres e eventos extremos. Entre as principais conclusões do documento, encontra-se a constatação de que os eventos climáticos terão seus maiores impactos em setores com ligações mais estreitas com o clima, como a provisão de água, a agricultura e a produção de alimentos, saúde e turismo. As secas se tornaram mais intensas e mais longas e sobre áreas cada vez maiores desde 1970.

A crise hídrica de São Paulo, por exemplo, tem como uma das causas a seca histórica pela qual passa a região da Cantareira, com volume abaixo dos outros anos. A falta de planejamento e de investimento do governo para amenizar os efeitos da seca agravou a situação.

Cultura do desperdício

“Em Minas, todos os rios de maior porte estão muito impactados pela poluição doméstica, industrial e, principalmente, agrícola”

Professor Henrique Paprocki
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A cultura do desperdício também afeta a sociedade. De acordo com o Ministério das Cidades, cerca de 40% da água tratada são desperdiçados em vazamentos que percorrem toda a rede de distribuição nas grandes cidades. Além disso, a demanda cada vez maior para a produção de alimentos tem ameaçado o abastecimento de água. Estima-se que entre 70% e 80% dos recursos hídricos disponíveis sejam consumidos pela agricultura. A vazão de alguns rios já diminuiu em até 75% para a garantia de enormes safras de alimentos. O Relatório das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento de Recursos Hídricos indica ainda que, até 2050, a agricultura deve produzir 60% mais alimentos do que hoje, o que agravará a situação.

Se a oferta desses recursos naturais está comprometida, a qualidade da água merece atenção. “Em Minas, todos os rios de maior porte estão muito impactados pela poluição doméstica, industrial e, principalmente, agrícola”, diz o biólogo, mestre e doutor em Entomologia (estudo dos insetos) e especialista em indicadores biológicos da qualidade de água, o professor Henrique Paprocki. Ele diz que a qualidade da água dos rios de todo o Estado é muito boa em grande parte das nascentes, mas somente nos trechos de cabeceiras.

Essa qualidade é avaliada por parâmetros físico-químicos e biológicos. O primeiro mensura parâmetros como pH, condutividade, quantidade de oxigênio dissolvido, entre outros, enquadrando a amostra em um intervalo e classificando sua qualidade. Já os métodos de indicação biológica são baseados na estrutura da fauna e flora aquática, que oferecem também uma visão temporal da qualidade.

Com pouca água de qualidade disponível, “é preciso evitar ainda com mais empenho a contaminação desses poucos mananciais, reduzindo o lançamento de lixo e aumentando o tratamento de esgotos municipais e industriais”, como alerta o professor da PUC Minas Hiram Sartori, engenheiro sanitarista e doutor em resíduos sólidos.

Educação para o consumo racional

“O programa pedagógico visa à construção de uma rede social com pessoas envolvidas em novos hábitos com relação ao ambiente, capazes de compartilhar boas práticas de sustentabilidade socioambiental”

Professora Virgínia Simão Abuhid
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Todos os especialistas entrevistados nesta reportagem dizem que a melhor forma de combater a escassez de água é reforçar a educação da população quanto aos hábitos de consumo dos recursos hídricos. Essa é também uma opinião compartilhada por gestores da PUC Minas, que, tanto no âmbito acadêmico quanto institucional, têm desenvolvido ações pontuais e programa com valiosas intervenções.

Uma das iniciativas, desenvolvidas nos últimos três anos, foi por meio do projeto Mensageiros da Água PUC Minas/HSBC, que surgiu da parceria da Universidade com a Fundação France Libertés e com o Instituto HSBC Solidariedade. O projeto de extensão universitária, coordenado pela Proex , por meio do Núcleo de Meio Ambiente e Saúde, atuou na formação dos professores nos cursos de licenciatura da Universidade, bem como na formação continuada de docentes. “O programa pedagógico visa à construção de uma rede social com pessoas envolvidas em novos hábitos com relação ao ambiente, capazes de compartilhar boas práticas de sustentabilidade socioambiental”, explica a professora Virgínia Simão Abuhid, do Departamento de Ciências Biológicas e do Museu de Ciências Naturais, que coordenou o projeto pela Proex.

O Mensageiros da Água é um movimento presente em cinco países (França, Itália, Grécia, Bolívia e Brasil), que procura mobilizar a sociedade quanto ao direito universal a esse recurso natural. O movimento tem como base três princípios: a água não é uma mercadoria, é um bem comum não apenas para a humanidade, mas para qualquer ser vivo; a fim de garantir esse recurso natural para as gerações futuras, temos o dever de restituí-lo à natureza em seu estado de pureza de origem; o acesso à água é um direito fundamental do homem, que somente pode ser garantido por meio da gestão pública, democrática e transparente, expressa em lei.

Várias ações estão previstas para desenvolvimento neste ano de 2015, entre elas, atividades do Instituto de Ciências Humanas e do Departamento de Ciências Biológicas. O Universidade Sustentável é um projeto de extensão, do Departamento, para implementação de ações estratégicas sustentáveis no campus Coração Eucarístico. “Vamos fomentar uma cultura condizente com o conceito de ‘Universidade Sustentável’”, diz o professor Miguel Andrade.

Recentemente também foi lançado o programa ICH Sustentável , com o objetivo de sensibilizar e motivar professores, alunos e funcionários, no âmbito do Instituto de Ciências Humanas, a discutir e criar propostas para solucionar problemas socioambientais referentes ao uso de recursos. As ações poderão se dar em três esferas distintas: na área da pesquisa, da educação ambiental e da gestão do ICH.

 

14 DICAS PARA O CONSUMO CONSCIENTE


  1. 1 – NADA DE PINGA-PINGA

    Ao fechar a torneira, certifique-se de que ela não ficou pingando. Ao longo de um ano, esse pinga-pinga de “apenas umas gotinhas” desperdiça, pelo menos, 16 mil litros de água limpa e tratada.

  2. 2 – BOCA ABERTA, TORNEIRA FECHADA

    Não deixe a água correndo enquanto estiver escovando os dentes. Uma única pessoa pode economizar 1,9 milhão de litros de água ao longo da vida simplesmente escovando os dentes com a torneira fechada. Se todos os moradores do Brasil adotarem o hábito, a água economizada durante um mês equivalerá ao volume de um dia e meio de água correndo pelas Cataratas do Iguaçu.

  3. 3 – NÃO DÊ FUROS

    Canos furados e vazamentos são desperdício de água potável e de dinheiro. Um buraquinho de 2mm em um cano desperdiça 96 mil litros em um mês (praticamente dez carros-pipa de água limpa e tratada). Feche as torneiras, interrompa o consumo e veja se os indicadores do hidrômetro continuam girando. Se sim, procure um profissional, porque certamente você está com vazamentos em casa.

  4. 4 – COLOQUE PENEIRINHA NA TORNEIRA

    O nome técnico é aerador, mas muita gente também conhece como “peneirinha”. O fato é que aquela válvula que pode ser colocada no bico da torneira ajuda a economizar água, ao proporcionar sensação de fluxo mais intenso.

  5. 5 – LIMPE ANTES DE LAVAR

    A dica é antiga, mas não custa repetir, já que tem muita gente por aí que ainda desperdiça (muita) água para lavar louça. O ideal é retirar o excesso de sujeira dos pratos, copos, talheres e panelas a seco, antes de abrir a torneira, e jamais deixar a água correndo enquanto está ensaboando as louças.

  6. 6 – USE A VASSOURA

    Usar aquela “vassourinha hidráulica” para limpar a calçada não está com nada. Em 15 minutos, o desperdício de água chega a 280 litros. A mangueira gasta menos, mas também pode ser substituída por um balde (de preferência, com água reutilizada da máquina de lavar). Adotando esse hábito, em um ano é possível economizar mais de 14 mil litros, o equivalente a um caminhão-pipa e meio cheio de água. E, se a calçada não estiver tão suja, opte apenas pela vassoura e deixe o “banho” para outra ocasião.


  7. 7 – REDUZIR O TEMPO NO BANHO

    Se cada brasileiro diminuísse em apenas um minuto o tempo de banho no chuveiro elétrico, a energia economizada em um ano equivaleria a 15 dias de operação da usina Itaipu em sua geração máxima.


  8. 8 – LAVE O CARRO COM MENOS FREQUÊNCIA

    Evite lavar o carro em períodos de escassez, mas, se for realmente necessário limpá-lo, esqueça a mangueira: balde com água e panos podem muito bem dar conta do recado. De quebra, você economiza na conta do fim do mês: o gasto médio de uma mangueira, em 30 minutos, é de 560 litros de água. Se usar um balde de 40 litros, você economiza 520 litros.

  9. 9 – CUIDADO COM A ÁGUA QUE VOCÊ NÃO VÊ

    Tudo a nossa volta – alimentos, roupas, eletrodomésticos… – precisa de água para ser produzido. É a chamada “água virtual”, que consumimos sem ver. Um litro de cerveja, por exemplo, precisa de 5,5 litros de água para ser fabricado, enquanto uma calça jeans demanda 11 mil litros e um celular, 16 mil. Por isso, quando o assunto é a economia de água, o consumo consciente de qualquer produto é importante.

  10. 10 – NÃO LAVAR ROUPA TODO DIA

    Deixar acumular roupas para, só então, ligar a máquina de lavar é uma boa dica para economizar água. Para aqueles que têm um pouquinho mais de tempo, lavar as peças na mão é melhor ainda quando o assunto é desperdício. E, se você quiser ser ainda mais ecológico, vale colocar um balde vazio perto do chuveiro, quando estiver tomando banho. A água coletada ali pode ser usada para colocar as roupas mais sujas de molho, antes da lavagem.

  11. 11 – O VASO SANITÁRIO

    Na hora de escolher um vaso sanitário para o seu banheiro, opte pelos modelos com caixa acoplada, que gastam bem menos água: são cerca de 6 litros por descarga, enquanto os vasos mais convencionais, com válvulas de parede, liberam até 20 litros. Se a descarga estiver com defeito, então, o gasto pode chegar a 30 litros e levar o valor da sua conta de água lá pra cima. Não jogue lixo no vaso sanitário, isso contribui para aumentar o gasto com água.

  12. 12 – USE O REGADOR

    Esta é a forma mais econômica de regar suas plantas (que, lembre-se, não precisam de água o tempo todo). Se o uso da mangueira, realmente, for necessário em gramados muito grandes, opte pelo menos pelo modelo de “esguicho-revólver”. Em dez minutos, ele usa cerca de 96 litros de água, contra os 186 litros desperdiçados pelas mangueiras convencionais. Regue o gramado do jardim às 6h ou às 19h. Isso evitará o excesso de evaporação entre outros gastos.


  13. 13 – ALIMENTOS

    Não use a torneira para o degelo de carnes. O ideal é deixá-las descongelar dentro da geladeira. Para a lavagem de vegetais, use uma bacia e uma escova vegetal para remover a sujeira.

  14. 14 – NA PISCINA

    Em residências ou condomínios, sempre que a piscina não estiver sendo utilizada, a dica é deixá-la coberta. Assim, a perda por evaporação diminui em até 90%. Em uma piscina de tamanho médio, isso representa economia mensal de 3.785 litros de água – quantidade suficiente para suprir as necessidades de uma família de quatro pessoas por cerca de um ano e meio.

Fontes: Manuais de Etiqueta do Planeta Sustentável; Organização das Nações Unidas; Instituto Akatu pelo Consumo Consciente; Sabesp.

 

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Ribeirão Serra Azul, em Igarapé, em março, quando operava a 11% de capacidade

Conservação de insumos é prática da Universidade

A prática de conservação de insumos, especialmente água e energia, não é um assunto recente na PUC Minas. No dia a dia, a Universidade, por meio da Pró-reitoria de Logística e Infraestrutura, promove ações para diminuir a agressão ao meio ambiente e preservar a qualidade de vida, incentivando atitudes sustentáveis nos seus campi e unidades.

Diante do atual cenário de escassez de água e energia elétrica no País, essas medidas estão sendo intensificadas como forma de cumprir a meta de redução de consumo estabelecida pelo governo e para amenizar prejuízos que possam ocorrer para o conforto e bem-estar da comunidade acadêmica.

Várias são as ações que estão sendo adotadas, como aquisição e instalação de equipamentos que geram maior economia no uso dos insumos, por exemplo, máquinas de limpeza a seco, contentores de vazão de água em torneiras automáticas e substituição de instalações hidráulicas por modelos mais eficientes e econômicos, entre muitas outras iniciativas.

“O Brasil precisa pensar culturalmente não somente para economizar água e energia elétrica, mas economizar tudo”, observa o diretor de Infraestrutura da Sociedade Mineira de Cultura (SMC), mantenedora da PUC Minas, professor Rômulo Albertini Rigueira, que também é pró-reitor de Logística e Infraestrutura da Universidade. “Setenta por cento da energia elétrica gerada no Brasil é hidráulica, então, uma crise de água é crise de energia. A situação é grave”, diz.

Para ele, a população brasileira precisa ser educada para a economia, já que o País sempre teve abundância de recursos naturais, convivendo-se diariamente com o desperdício, inclusive de alimentos. “A Universidade tem a obrigação de mudar a cultura, estimulando a do coletivo”, pontua Rômulo Rigueira.

Por meio da Pró-reitoria de Logística e Infraestrutura (Proinfra), a PUC Minas promoveu a instalação de contentores de vazão nas 700 torneiras existentes no campus Coração Eucarístico. Para auxiliar no monitoramento do consumo de água, a Proinfra preparou a instalação de medidores, agrupando setores, para detectar onde são necessárias ações para diminuição do consumo.

Na trilha da mobilização para a economia de insumos, o Comitê Geral de Comunicação Interna desenvolveu ações, em parceria com setores da Universidade, para conscientizar a comunidade universitária sobre métodos de consumo racional da água. Cartazes foram afixados nos banheiros e as redes sociais estão sendo utilizadas como espaço de mobilização contra o desperdício. Alunos e professores da Escola de Teatro desenvolveram esquetes sobre o tema. “É necessária uma urgente mudança de postura, uma mudança cultural de toda a população no que se refere ao consumo da água”, diz o presidente do Comitê Geral de Comunicação Interna, professor Mozahir Salomão Bruck.

Se há um lado positivo nesta crise é que o tema de escassez de água despertou a atenção de toda a população para o problema. E esse é o primeiro passo para a mudança de comportamento, visando ao consumo consciente e com menos desperdício. O que pode refletir também numa melhor qualidade de vida para as futuras gerações.

Alunos se mobilizam para combater desperdício

“Não precisamos utilizar os recursos oferecidos no seu limite máximo só porque pagamos ou porque a maior parte da população faz a mesma coisa”

Mhaisa Henrique de Paula
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Estudantes da PUC Minas têm desenvolvido projetos que visam ao combate do desperdício, adotando práticas de sustentabilidade. Durante todo o ano de 2014, alunos do Curso de Ciências Biológicas desenvolveram o projeto Educação Ambiental para Turistas na Lapinha da Serra, como parte integrante da disciplina Educação Ambiental.

Guilherme Conrado, Lílian Stockler, Marli Rezende e Tatiana Rodrigues, orientados pelo professor Geraldo Tadeu Rezende Silveira, promoveram ações visando à educação ambiental para o turismo sustentável, com rodas de conversas, exibição de filmes educacionais em praça, exposição de fotografias e abordagem de turistas para conscientização contra a degradação ambiental, principalmente no que se refere à poluição dos cursos d’água. O projeto contou com recursos da Próreitoria de Extensão e da Sistêmica, empresa júnior de Biologia e Geografia. Foram realizadas pelo menos 15 visitas à região, que resultaram no vídeo Lapinha para Sempre.

Localizada no alto da Serra do Cipó, região central de Minas, a comunidade Lapinha da Serra está inserida na Área de Preservação Ambiental (APA) Morro da Pedreira e pertence ao município de Santana do Riacho. “É uma região rica em biodiversidade, mas apresenta uma fragilidade ambiental devido ao parcelamento excessivo de terras e o crescente número de turistas”, explica Tatiana Rodrigues.

Aluna do 5º período de Engenharia Civil, Unidade Barreiro, Mhaisa Henrique de Paula adota práticas de economia desde a infância por influência da família. Nos últimos cinco anos, no entanto, preocupou-se em incrementar as ações. Ao lavar a roupa, costuma separar a água com sabão, da água que serve para o enxague. Também costuma reduzir o volume de água destinado a outras tarefas domésticas, como lavagem do assoalho e limpeza das louças. Além disso, mantém a torneira aberta em tempo reduzido durante os banhos. “Precisamos ter hábitos mais conscientes e corretos. Não precisamos utilizar os recursos oferecidos no seu limite máximo só porque pagamos ou porque a maior parte da população faz a mesma coisa. Temos que usar apenas o que for necessário”, diz Mhaisa.

“As campanhas contra a escassez de água sempre abordam dicas de economia. Pensamos em fazer a mesma coisa de modo diferente”

Estevan Nicolini
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Em Poços de Caldas, o recém-formado do Curso de Publicidade e Propaganda Estevan Nicolini, a pedido da diretoria do Departamento de Água e Esgoto da cidade, desenvolveu o projeto Guardiões da Água. O público-alvo são crianças, mas a iniciativa tem abarcado público de todas as faixas etárias. O lema do projeto é desperdício é a gota d’água. “As campanhas contra a escassez de água sempre abordam dicas de economia. Pensamos em fazer a mesma coisa de modo diferente”, explica Estevan Nicolini.

O projeto consiste em vídeos que são divulgados frequentemente nas redes sociais e no site do departamento de água e esgoto. Para isso foram criados alguns personagens. O vilão do desperdício é o senhor “D” (de “D”esperdício). Ele é combatido pela dupla de super-heróis Ren (“água” em japonês) e Quione (a deusa da neve, na mitologia grega). Os heróis fornecem dicas contra o desperdício e, dessa forma, mostram que qualquer morador pode se tornar um super-herói se adotar medidas para racionalizar o consumo. “Também pode se tornar um senhor ‘D’ se continuar desperdiçando a água”, diz o egresso.

No fim de 2014, alunos do Curso de Publicidade e Propaganda abraçaram a campanha. Já que teriam que fazer como atividade de uma das disciplinas ações de marketing de guerrilha, eles coletaram assinaturas em apoio ao Guardiões da Água, com distribuição de folhetos. Os primeiros resultados são alvissareiros. Em outubro de 2014, o departamento de água e esgoto constatou que o consumo diminuiu em 9% na cidade.


Números que espantam

  • EM 2050, prevê-se um aumento da demanda hídrica mundial de 55%, principalmente devido à crescente necessidade do setor industrial, dos sistemas de geração de energia termoelétrica e dos usuários domésticos
  • 75% de todo o consumo industrial de água no mundo é direcionado para a produção de energia elétrica
  • 20% dos aquíferos mundiais já são explorados excessivamente, o que pode gerar graves consequências, como a erosão do solo e a invasão de água salgada nesses reservatórios
  • 768 MILHÕES de pessoas não têm acesso à água tratada, 2,5 bilhões não melhoraram suas condições sanitárias e 1,3 bilhão não têm acesso à eletricidade
  • 2,4 MILHÕES de pessoas morrem anualmente devido à falta de saneamento básico e higiene, que causam desidratação e desnutrição por doenças diarreicas e parasitárias, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud)
  • O BRASIL está entre os países que mais registraram estresse ambiental após alterar o curso natural de rios. Entre as consequências dos desvios estão uma maior degradação dos ecossistemas, com aumento do número de espécies invasoras, além do risco de assoreamento
  • 28 MIL BRASILEIROS morrem por ano em decorrência de algum fator relacionado à qualidade e disponibilidade de água e à falta de saneamento, de acordo com a OMS

Fonte: Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos, ano 2015

Texto
Edson Cruz
Ilustração
Quinho
Fotos
1Marcos Figueiredo
2Leo Drumond / Nitro Imagens / Latinstock
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