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Comunicação Luz, câmera, diversão

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Para Iara Letícia da Silva (centro), aluna do Curso de Cinema e Audiovisual, o recurso audiovisual é “muito potente”

Projeto Cine Providência experimenta a produção de conhecimentos práticos em audiovisual

“Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” foi o que bastou para que o projeto Cine Providência, do Curso de Cinema e Audiovisual, tomasse novos rumos. O cineasta Glauber Rocha afirmava que assim se fazia o cinema, ao defender a utilização dos meios de produção artísticos para a transformação da sociedade. A mudança de direção, de acordo com a coordenadora, professora Sandra Freitas, veio de forma “muito inusitada”. “Os monitores tinham levado [ao projeto] as câmeras para fazer algum registro. E quando as crianças começaram a pintar demais, um deles falou: ‘vou filmar vocês fazendo essa bagunça toda’. Elas bagunçaram e depois queriam ver o que tinha sido gravado. E a atitude foi outra: de concentração, de prestar atenção. Vimos que esse era o caminho”, conta.

Vinculado ao projeto de extensão Providência na Comunidade, da Faculdade de Comunicação e Artes (FCA), o Cine Providência teve início em 2016 com a proposta de cineclube, com debates e reflexões após os filmes. Em 2018, a partir das características e perfil do público, de oito a 15 anos, adotou um novo formato e vem dando a oportunidade para crianças e adolescentes carentes experimentarem a produção audiovisual, transformando-os em protagonistas de suas próprias histórias. Os participantes são educandos do Projeto Providência, instituição pertencente à Providens – Ação Social Arquidiocesana, que acolhe pessoas em situação de vulnerabilidade social.

A professora Sandra ressalta a importância transformadora do projeto, tanto para alunos como beneficiários. “É incrível como muda a percepção de mundo deles a partir do contato com a comunidade, isso é uma coisa que a extensão consegue com uma força enorme, talvez a maior potência seja essa”, afirma. “Nenhum dos educandos também é o mesmo, o orgulho que eles têm de ver o que fizeram, que são capazes”. Ela conta o caso de um aluno de Jornalismo que foi educando, retornou para ensinar grafite e, no contato com os extensionistas, decidiu ingressar na Universidade.

A estudante Iara Letícia da Silva, 22, do 8º período de Cinema e Audiovisual, reconhece que a participação em atividades extensionistas “enriquece muito” a formação. “Percebi a importância de contribuir para uma educação horizontal, e que isso é possível através da oportunidade que temos de projetar no ‘mundo real’ os saberes que o ensino superior pode nos dar”, diz. Para ela, o audiovisual é um meio de comunicação “muito potente” e a forma como a sociedade se relaciona com ele é “inédita”: “É incrível ver as crianças projetarem seus olhares, suas vivências nas periferias, para sua forma de filmar e de criar”.

Até o momento, foram elaboradas sete peças audiovisuais, envolvendo as três unidades da Providens: Fazendinha, Taquaril e Vila Maria. Os extensionistas fazem o acompanhamento de todo o processo e a edição. Depois de finalizados, os vídeos são postados no canal do Projeto Providência no YouTube.

Para o pedagogo Ivan Ferreira da Silva, da Providens, a diversificação de linguagens, em especial o audiovisual, “colabora para o acesso e a oportunização de ferramentas e mecanismos que auxiliem no processo de desenvolvimento infantil, estimulando a criatividade, o imaginário, desenvolvimento cognitivo e socioemocional, bem como outros aspectos importantes no campo educativo”. De acordo com ele, em três anos, cerca de 250 educandos já foram beneficiados.

Texto
Fernando Ávila
Foto
Raphael Calixto
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