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Para o recuperando Paulo Henrique, quanto mais conhecimento ele adquirir, melhor vai ser para quando sair da Apac

Recuperandos da Apac vislumbram na fotografia oportunidades para o futuro

“Antigamente, eu fugia de todas as fotos, até mesmo daquelas com a minha família. Como eu era envolvido com o crime, não queria aparecer. Hoje não! Eu saí dessa vida errada e agora eu adoro tirar fotos. Onde tem uma máquina, eu estou lá”, comenta, aos risos, o recuperando Edimilson Matos Souza, participante da Oficina de Fotografia, projeto de extensão do Curso de Publicidade e Propaganda da Unidade Praça da Liberdade junto aos recuperandos da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac), em Santa Luzia.

A ideia da oficina, segundo a professora Fernanda Simplício Cardoso, coordenadora da atividade, surgiu de uma iniciativa do curso, alinhada aos objetivos do Programa de extensão (A)penas Humanos: ações interdisciplinares no âmbito da Apac. “A oficina busca, entre outras questões, a inserção social por meio de atividades artísticas e culturais e que, se aperfeiçoadas, podem se transformar em atividade profissionalizante”, ressalta.

Colega de turma das aulas de fotografia de Edimilson, o recuperando Ronei Sérgio da Silva acredita que as oficinas são uma oportunidade singular de aprendizado. “Eu participo com o intuito de despertar algo novo em mim, pois não posso ter a mente fechada aqui dentro. As atividades são uma forma de quebrar um tabu que vivemos, por sermos recuperandos. Com elas, surgem novas oportunidades para nós, o que pode estimular um desejo que pode virar uma profissão no futuro”, explica.

O futuro do lado de fora dos muros da Apac é uma preocupação para o recuperando Paulo Henrique de Lourdes Silva. “Penso que, quanto mais conhecimento eu conseguir adquirir enquanto estou aqui, melhor vai ser para quando eu sair para a rua. Se tiver uma oportunidade de emprego, por exemplo, eu vou poder mostrar meu currículo e mostrar tudo que já fiz”, afirma. Sobre a oficina de fotografia, ele explica que já participou de outras atividades como esta, mas que, sempre que há uma nova oportunidade, ele aproveita para fazer de novo.

Quando a estudante Layla Costa Andrade, do 3º período de Publicidade e Propaganda da Unidade Praça da Liberdade, foi indicada para participar do projeto Oficina de fotografia, seu primeiro sentimento foi de receio, uma vez que seria uma mulher em um local cercado por homens que, em algum momento da vida, cometeram algum delito. No entanto, essa sensação logo se esvaiu assim que a aluna fez o primeiro contato com os recuperandos. “Eu entrei com medo, mas, assim que chegamos e começamos a conversar, vi que não precisava me preocupar. A Apac é diferente de outros centros prisionais. Lá, os recuperandos possuem um pensamento positivo, pois ali eles têm oportunidades de trabalho, de aprendizado”, comenta.

Vítor Manoel Ferreira Mendes, também aluno extensionista, vislumbra no projeto uma oportunidade de se livrar de preconceitos pré-existentes. “Quando começamos a oficina, eu tive medo, mas percebi que o que eles querem mesmo é serem vistos por outros olhos, não de condenação”, ressalta

O resultado da oficina foi a exposição intitulada Pela luz dos olhos deles, realizada durante o Encontro da Comunidade com a Apac, no final de 2018. A exposição contemplava fotos que contavam a rotina dos recuperandos e como eles enxergam a Apac.

Texto
Luiza Rocha
Foto
Raphael Calixto
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