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Saúde Novos horizontes

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A pequena Sophia em atendimento com a terapeuta ocupacional Melissa, na cortina de luz, um dos mecanismos desenvolvidos pelo Curso de Engenharia Elétrica para a estimulação visual

Projeto do Curso de Engenharia Elétrica melhora rotina de tratamento de pacientes com deficiência

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"É essencial que se criem conexões entre redes neurais para que as informações entre a percepção visual e sua interpretação sejam realizadas"

Rafael de Melo Franco

Sophia nasceu prematura e, com apenas 800 gramas, precisou ficar três meses no Centro de Terapia Intensiva para cuidados especiais. Diagnosticada com paralisia cerebral, a garota, que hoje tem três anos, passa por tratamentos semanais de fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia na Associação dos Deficientes Físicos de Poços de Caldas (Adefip). Sob os cuidados da avó, Karina Mancini, Sophia apresenta evolução contínua. “Acreditamos que ela entende o que conversamos com ela e está evoluindo muito bem”, atesta.

Sophia está entre os 205 pacientes atendidos pela Adefip nos mais diversos diagnósticos. Associada à paralisia cerebral, ela desenvolveu deficiência visual e entre as diversas etapas dos tratamentos realizados na Associação passa por atividades de estimulação visual, uma terapia que promove a percepção da luz e a coordenação visomotora, essenciais para o desenvolvimento da visão.

Com o objetivo de prestar um serviço que pudesse melhorar as condições de vida de pacientes portadores de deficiência física, o professor Luiz Fernando Delboni e o aluno Talisson de Souza Barbosa, do Curso de Engenharia Elétrica do Campus da PUC Minas Poços de Caldas, desenvolveram para a Adefip, a partir de uma demanda da instituição, um sistema que trouxe melhoria na iluminação da sala de estimulação visual, de maneira a contemplar todos os pacientes que necessitassem do tratamento.

Para atender a Adefip, foram criados um painel e uma cortina de luz móvel com cores diferentes para estimular o campo visual dos pacientes, além do aplicativo personalizado que conduz as funções dos instrumentos. O objetivo é desenvolver e exercitar o cérebro na percepção das cores, uma vez que a deficiência pode se agravar, caso o estímulo não seja feito constantemente. “É essencial que se criem conexões entre redes neurais para que as informações entre a percepção visual e sua interpretação sejam realizadas. Dessa forma, o exame médico oftalmológico e a estimulação visual precoce são fundamentais para prevenir ou minimizar a ambliopia, complicação permanente na visão, decorrente da ausência do desenvolvimento visual”, explica o médico oftalmologista, Rafael de Melo Franco.

 

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Professor Luiz Fernando Delboni e o aluno Talisson de Souza Barbosa junto aos instrumentos desenvolvidos para melhorar o tratamento dos pacientes na sala de estimulação visual

Resultado do projeto

O painel de luz foi construído com 48 lâmpadas LED, distribuídas em 16 grupos de três. Nessas lâmpadas são colocados copos de plástico com papel celofane colorido para designar as cores. Por meio do aplicativo, os grupos de lâmpadas são ligados e desligados de acordo com a necessidade.

Já as mangueiras da cortina de luz, penduradas em tubos de PVC, possuem cinco cores diferentes e também foram projetadas de maneira que o paciente possa tocá-las e interagir com o instrumento, promovendo estímulo cerebral. Todo o projeto e produção teve o custo final de R$200.

O professor Luiz Fernando diz que agora pensa em projetos futuros na área da saúde que auxiliem trabalhos desenvolvidos com pacientes em clínicas de reabilitação. Ele conta que o Curso de Fisioterapia do Campus já o procurou para o desenvolvimento de ferramentas de automação para uso nas Clínicas de atendimento da Universidade, fortalecendo o vínculo interdisciplinar no auxílio aos profissionais da saúde. Afirma também que é gratificante desenvolver projetos que tragam benefícios. “Estamos cumprindo nosso papel no desenvolvimento de um trabalho que beneficia a sociedade. O conhecimento tem que ser usado de forma a melhorar a condição de vida das pessoas”, avalia.

Uma das terapeutas ocupacionais da Adefip, Melissa Lopes Pitanguy, informa que equipamentos para terapia de estimulação visual são muito caros e de difícil acesso. A possibilidade de tê- los produzidos pela Universidade em parceria com a instituição traz grandes benefícios. “Esse projeto tem uma importância muito grande, porque é por meio da estimulação visual que a criança vai conhecer o mundo e interagir melhor. Associar a prática acadêmica à nossa prática de atendimento é uma iniciativa de resultados”, afirma.

E eles são visíveis no tratamento de Sophia. “Desde que começou a fazer a estimulação visual, ela melhorou muito, o olhar está mais fixo e acompanha melhor os objetos e as pessoas. Acho que deveriam existir mais projetos como esse para ajudar as pessoas que precisam”, diz a avó.

O aluno Talisson, envolvido em cinco pesquisas no período de faculdade, teve o projeto publicado na Associação Brasileira de Automação Residencial e Predial, e conta que cumprir a função social na sua área de estudo é de extrema importância. “Quando verificamos as condições deles e a vontade que têm de melhorar, somos estimulados a melhorar também. Estou saindo da Universidade com esse foco social, de ajudar pessoas por meio de projetos”, conta.

Texto
Cloe Massa
Fotos
1Elisa Erino
2Arquivo Pessoal
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