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Saúde Plantas terapêuticas

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As alunas Rosane e Talita, orientadas pela professora Cristiane Freitas (centro), propuseram o uso de plantas medicinais sem interrupção dos respectivos medicamentos

Projeto auxilia pacientes no combate à diabetes

Há cinco anos, Patrícia Aparecida Barbosa Lopes, de 37 anos, descobriu que tinha diabetes. A doença surgiu depois da chegada do filho mais novo, quando a comerciante entrou em estado depressivo. Ela conta que comia três barras de chocolate por dia e, ao passar muito mal e procurar o médico, a diabetes foi diagnosticada. “Comecei um tratamento para controlar a doença, mas nunca levei muito a sério. Só passei a me preocupar certo dia que medi a glicemia e ultrapassava 300mg”, conta.

Patrícia integra a estatística de um relatório de 2016 da Organização Mundial de Saúde (OMS), que revela que mais de 16 milhões de brasileiros adultos sofrem de diabetes, doença que mata 72 mil pessoas por ano no país. Os números estão associados ao aumento dos fatores de risco, como o excesso de peso, a obesidade e o sedentarismo.

Como forma de sugerir alternativas para o tratamento de pessoas que sofrem do quadro crônico dessa doença, Talita Maria Elias Valim e Rosane Rachel Leme, alunas do 8º período do Curso de Enfermagem do Campus Poços de Caldas, no Sul de Minas, realizaram uma experiência com o uso de plantas medicinais por 40 voluntários diabéticos, com idade média de 57 anos, cujos resultados foram positivos. O objetivo é avaliar, sem a interrupção do uso dos respectivos medicamentos, a ação de plantas medicinais, como carqueja amarga, cipó de insulina, cravo e farinha de banana verde, comprovando a eficácia no controle da doença e possibilitando melhoria na qualidade de vida dos participantes.

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Orientado pela professora Cristiane Fonseca Freitas, o projeto foi apresentado à Secretaria Municipal de Saúde e aos postos de saúde da família (PSF) do bairro Marco Divisório e Vale das Antas, para a indicação dos pacientes voluntários, que tiveram acompanhamento semanal.

Os pacientes foram divididos em quatro grupos e cada um deles ingeriu, diariamente, durante três meses, um dos quatro tipos dos alimentos naturais, para que os resultados fossem analisados com mais precisão. Para iniciar o projeto, as estudantes fizeram todas as coletas necessárias de cada um dos voluntários: pressão arterial, dextro para medir a taxa glicêmica no sangue, aferição da cintura e do quadril, peso, altura e coleta de sangue venoso para o teste da frutosamina, que monitora a glicose do paciente em um período específico de tempo, além de aplicarem um questionário sobre os hábitos alimentares dos participantes.

“O propósito do projeto é ajudar na diminuição da glicemia. Melhor usar o cipó de insulina a outro remédio, porque provoca menos efeitos colaterais e diminui danos. Acho um projeto muito válido, que pode ser aproveitado e expandido”

Ronald Soubihe, médico homeopata

Os resultados da experiência foram positivos, principalmente na avaliação dos pacientes que tomaram o cipó de insulina, devido à alta capacidade hipoglicemiante do insumo, ou seja, auxiliando na diminuição do nível de glicose no sangue, como conta a professora Cristiane Fonseca.“Houve melhoria na qualidade de vida, independentemente do acompanhamento nutricional e mesmo com o consumo elevado de carboidrato na alimentação dos voluntários, que deve ser evitado por diabéticos, já que aumenta o nível de glicose no sangue”, diz.

Patrícia tomou o chá de cipó de insulina e conta que passou a controlar a diabetes: “Me obriguei a me cuidar e assim perdi peso e mudei minha qualidade de vida”, conta. Para a aluna Talita, que já é técnica em Enfermagem, o projeto proporcionou uma consciência ainda maior do trabalho exigido pelos enfermeiros junto aos pacientes. “Tivemos mais contato com os procedimentos de que precisamos fazer constantemente como profissionais. Também lidamos diretamente com a população e aprendemos a incentivar os participantes para que continuassem no projeto”, diz.

Consciente do trabalho acadêmico, o médico homeopata, Ronald Soubihe, diz que é fundamental que as pessoas tomem os cuidados necessários para que não adoeçam, mas ressalta a importância de usar substâncias menos nocivas para a saúde, comparadas aos remédios tradicionais. “O propósito do projeto é ajudar na diminuição da glicemia. Melhor usar o cipó de insulina a outro remédio, porque provoca menos efeitos colaterais e diminui danos. Acho um projeto muito válido, que pode ser aproveitado e expandido”, afirma.

Participante do projeto e satisfeito com os resultados, Márcio Luiz Alves, de 58 anos, também descobriu a diabetes em um exame de rotina há cinco anos. Ele não recebeu tratamento adequado e, por conta da doença, o segurança sofreu dois infartos. Com 15 dias tomando a farinha de banana verde dissolvida, passou a sentir melhoras, como ir menos ao banheiro, queda na glicemia, de 300mg para 180mg, e perda de peso. Márcio também passou a se conscientizar sobre a necessidade de mudança nos hábitos alimentares. “As alunas foram muito prestativas e atenciosas”, diz.

Para a professora Cristiane, a iniciativa é uma contribuição para a indústria farmacêutica, no sentido de mostrar que no Brasil há plantas medicinais com essas propriedades hipoglicemiantes. “Um chá por si só teve ação, mas conseguindo separar o princípio ativo é possível fazer uma medicação. É um primeiro passo. Trata-se de um projeto novo que merece ser aprofundado e melhorado”, ressalta.

O projeto, que teve início em novembro do ano passado, foi aprovado e apresentado no congresso da Alad (Associação Latino-Americana de Diabetes), realizado na Colômbia. Para a aluna Rosane, a iniciativa foi muito importante porque mudou a visão dela: “Como estudante consegui desenvolver mais no aspecto da atenção ao paciente e aperfeiçoar as técnicas da enfermagem”, diz.

Texto
Cloe Massa
Fotos
Lúcio Carvalho
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