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Educação Física Qualidade de vida em ambiente virtual

Fabiana Mendes e o filho Igor: apesar dos desafios, a atividade é prazerosa

Projeto de extensão dá continuidade às atividades de forma online

O projeto de extensão Qualidade de Vida Para Todos (PQVT), do Curso de Educação Física, que tem como objetivo promover a qualidade de vida para Pessoas com Deficiência (PCD) por meio da atividade aquática, continua a oferecer seus serviços aos beneficiários mesmo durante a pandemia do coronavírus. As ações do projeto eram realizadas na piscina do Complexo Esportivo da PUC Minas, mas, durante esse período de isolamento social, foram feitas adaptações para que pudessem dar continuidade ao trabalho de forma virtual.

O projeto foi fundado em 2014, pelo Departamento de Educação Física da Universidade, e financiado pelo Pró-Reitoria de Extensão (Proex). A iniciativa conta com uma equipe multidisciplinar composta por alunos dos cursos de Educação Física, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Psicologia. Atualmente são atendidos 48 alunos beneficiários regulares, sendo pessoas com deficiência intelectual, física, múltipla, auditiva, visual e com Transtorno do Espectro do Autismo. Existe uma lista de espera com mais de 100 pessoas interessadas em ingressar no projeto como beneficiários.

De acordo com a professora do Curso de Educação Física e coordenadora do projeto, Cláudia Barsand, o objetivo principal desse trabalho é promover qualidade de vida para todos, principalmente para os deficientes e seus familiares. “Nós temos tido um retorno significativo não só do ponto de vista da atividade física em si, que é um benefício constatado, mas também do ponto de vista social”, afirma a professora.

Ela aponta outro benefício do projeto que é o de aproximar famílias e indivíduos que convivem com essas deficiências. “Buscamos aproximar os pares, aproximar pessoas que estão na mesma condição”, relata. Dessa forma, o projeto permite que os beneficiários e seus acompanhantes obtenham as informações necessárias sobre suas condições, além de poderem dialogar sobre suas realidades com outros beneficiários, pais ou familiares.

Projeto passou por adaptações

Sônia Albino Vieira, mãe de Danilo: adaptação às novas tecnologias para continuar no projeto

Desde que começou a pandemia do coronavírus, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou, dentre outras medidas de prevenção, o cancelamento de atividades em universidades, o projeto passou por algumas adaptações. Os encontros com os beneficiários passaram a acontecer por videoconferência, buscando aproximar os alunos de seus professores. Além disso, o projeto buscou atualizar as redes sociais com conteúdos acadêmicos de forma lúdica e simples para facilitar o entendimento do público.

Também como parte desse novo modelo, os alunos extensionistas realizaram pesquisas buscando compreender os processos de reorganização das famílias beneficiadas e como elas estavam passando por esse momento. Os trabalhos auxiliaram o projeto a entender quais seriam os pontos positivos do regime remoto e quais seriam as principais dificuldades que eles enfrentariam.

Por se tratar de uma nova abordagem, surgiram algumas dificuldades enfrentadas por pais e acompanhantes dos beneficiários, como foi o caso de Sônia Albino Vieira, de 62 anos, mãe de Danilo Marcos Vieira, de 33 anos, diagnosticado com autismo não verbal e comprometimento cognitivo. Sônia revela que no começo foi difícil a adaptação tecnológica em casa, principalmente porque o projeto presencial fazia parte da rotina de seu filho. Por essa razão, os extensionistas buscaram capacitar os familiares por meio de orientações específicas e tutoriais de como utilizar as ferramentas que são usadas nos atendimentos online.

De acordo com Sônia, hoje em dia a família já está adaptada às novas tecnologias. Os atendimentos virtuais para Danilo acontecem duas vezes na semana. “Nos dias de atendimento eu subo com ele para um espaço em casa que dá para fazer exercícios físicos e os professores passam alguns movimentos, alguns exercícios de alongamento e outros tipos de exercício para ele fazer”, conta. Sônia relata que os extensionistas, por saberem que Danilo gosta de música, utilizam esse recurso nas aulas para interagir com ele. “Foi um atendimento muito bom, porque ele participava e reconhecia o pessoal que trabalhava com ele. Isso o ajudou a passar pela pandemia”, conclui Sônia.

Retornos positivos das atividades

A coordenadora Cláudia Barsand explica que, assim como Sônia, outros familiares também têm dado retornos positivos sobre o projeto no novo formato. “A gente tem tido um retorno muito importante das famílias, de poder dar esse conforto no atendimento, de manter o contato, principalmente nas famílias que têm pessoas com autismo, que têm muita dificuldade de se reorganizar com novas rotinas”, diz Cláudia. Segundo a coordenadora, os alunos passaram de uma situação em que tinham diversos atendimentos, como fonoaudiólogo, médico, escola e o projeto, para ter que ficar em casa, por serem considerados um grupo de risco para a Covid-19.

Entretanto, para alguns beneficiários a adaptação ao novo regime ainda se mostra desafiadora, como é o caso de Fabiana Márcia da Silva Mendes, de 43 anos, e seu filho Igor Silva Mendes, de 8 anos. De acordo com Fabiana, Igor possui uma síndrome rara, que ainda não tem nome, e que se caracteriza pela adição de um cromossomo a mais em sua formação celular. Essa síndrome provoca atraso no desenvolvimento psicomotor, comportamento autista e epilepsia. Igor participa do projeto há quatro anos, com o objetivo de alcançar o desenvolvimento de forma prazerosa, por meio dos diversos benefícios oferecidos pela iniciativa, como os atendimentos de fonoaudiologia, fisioterapia e educação física.

Fabiana conta que o progresso de Igor, desde que ingressou no projeto, se tornou visível, não só fisicamente, mas também em seu desenvolvimento social. “Ele avançou muito na socialização dele, claro que tem os estímulos que ele recebia na escola e na terapia ocupacional, mas acho que o projeto é uma grande contribuição”, relata. Porém, ela acredita que o aproveitamento de Igor é inferior ao que ele tinha na piscina. “Tem dias que ele faz uma participação melhor, interage. Tem dias que não. Mas faz parte, ele precisa também se adaptar”, avalia. Apesar disso, Fabiana diz que pretende continua no projeto, pois é a atividade mais prazerosa para Igor.

Cuidado para o beneficiário e para a família

Durante o período de isolamento social, a professora Cláudia explica que o objetivo principal do projeto é o processo de aproximação com as famílias dos beneficiários. De acordo com ela, é necessário, principalmente nesse período, criar um fortalecimento do vínculo com os cuidadores, por isso também são realizadas muitas atividades voltadas para as famílias. “Estamos cuidando de quem cuida. Essas pessoas precisam estar bem para poder nos ajudar a desenvolver nosso trabalho com nosso beneficiário direto”, analisa.

De acordo com a professora Cláudia, neste primeiro semestre de 2021 o objetivo é intensificar essa aproximação com a família por meio de encontros individuais com os familiares. Outra meta do projeto para este ano é a realização de reuniões para que essas famílias possam conversar entre si e trocar experiências por meio de rodas de conversa e atividades coletivas.

 

Saiba mais

Para se inscrever no projeto deve-se entrar em contato com a Secretaria do Complexo Esportivo, com os documentos solicitados.
Para as atividades presenciais é necessária a apresentação de um atestado médico, comprovando que o indivíduo não possui doença infectocontagiosa e está apto a realizar atividades aquáticas.

Texto
Carolina Marques
Fotos
Bruno Timóteo
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