revista puc minas

Sustentabilidade Reciclagem inclusiva

Projeto propõe inclusão social e avanço na qualidade de vida dos catadores de recicláveis

“Sempre fomos companheiros, mas, agora, estamos ainda mais harmônicos, pois o trabalho está mais ágil, e estamos confiantes sobre o que estamos fazendo, separando melhor os recicláveis e resíduos e reconhecendo esta atividade como um pilar do desenvolvimento sustentável”

Iago Felipe de Lima Rodrigues, catador de recicláveis

Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontam que os catadores de materiais reutilizáveis são responsáveis por quase 90% do lixo reciclado no Brasil. Entendendo a importância desse segmento para a cadeia produtiva da reciclagem no país, o projeto de extensão Reciclagem Inclusiva e Solidária: o fortalecimento da inclusão social através de serviços ambientais urbanos desenvolve ações que promovam a autogestão da Associação de Catadores de Papel de Betim (Ascapel). “O projeto foi desenvolvido de forma colaborativa. Fizemos uma visita à Ascapel para estabelecermos as bases para essa parceria”, aponta o professor Armindo dos Santos de Sousa Teodósio, professor do Curso de Administração da PUC Minas e coordenador do projeto.

A Ascapel é formada por 17 catadores de recicláveis, sendo 15 mulheres. “Desde a sua formação, a Ascapel apresenta dificuldades em manter as atividades, que vão desde aspectos estruturais, até de recursos humanos”, afirma Jaqueline Silva Melo, supervisora de Infraestrutura e Logística do Campus Betim e professora da pós-graduação em Gerenciamento de Projetos do Instituto de Educação Continuada (IEC). “O nosso objetivo é propiciar avanços na qualidade de vida destes trabalhadores e suas famílias, com base nos princípios da autogestão e da economia solidária”, salienta Jaqueline.

Outra perspectiva do projeto é modificar os estigmas criados pela sociedade em relação aos catadores de recicláveis. “A maioria das pessoas, inclusive eu antes de trabalhar com o projeto, vê a catação como uma atividade exercida à margem da sociedade. E um dos nossos objetivos é apresentar à população de Betim a catação como uma profissão ampla e legalizada, que atua em todo o país com a coleta seletiva; realizando a triagem, a classificação, o processamento e a comercialização de resíduos”, aponta a aluna do Curso de Enfermagem Marina Maciel, extensionista do projeto.

O professor Armindo Teodósio ressalta que os catadores de materiais recicláveis são agentes ambientais urbanos, essenciais para o avanço da sustentabilidade no Brasil. “Eles foram protagonistas na reciclagem e ajudaram a criar uma realidade na gestão pública e na gestão empresarial, que tornou a reciclagem uma atividade lucrativa e sustentável com relação a alguns materiais. O Brasil hoje ocupa uma posição avançada na reciclagem de latinhas de alumínio e de garrafas PET em uma comparação com outros países”, aponta o professor.

 

Conquistas do projeto

“Eles foram protagonistas na reciclagem e ajudaram a criar uma realidade na gestão pública e na gestão empresarial, que tornou a reciclagem uma atividade lucrativa e sustentável com relação a alguns materiais”

Professor Armindo Teodósio, coordenador do projeto

O projeto realizou oficinas e palestras com os cooperados. Participantes do projeto e associados fizeram levantamento de temas emergentes como saúde do trabalhador, uso correto de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e oficina de informática. De acordo com a extensionista Marina Maciel, trabalhar com educação em saúde geralmente não é uma tarefa fácil, porque as pessoas estão acostumadas a uma rotina e a mudança de hábitos tende a ser lenta. “Na Ascapel, entretanto, esta realidade foi diferente, pois eles estão dispostos e interessados em modificar a realidade em que vivem. Eles não davam a devida importância, por exemplo, para o descarte de medicamentos, que são tóxicos e devem ser incinerados. Mas bastou ouvirem isso uma vez para iniciarem o descarte correto deste produto”, ressalta. Outra conquista do projeto foi a introdução do uso de EPIs. Raquel Aparecida Conceição, coordenadora da Ascapel, conta que os equipamentos de proteção individual não eram utilizados pelos associados por desconhecimento da necessidade e porque eles utilizavam materiais inadequados. “Todos sempre reclamaram que as máscaras dificultavam a respiração. O que a gente não sabia é que utilizávamos um produto inadequado para nossa atividade. Agora, estamos utilizando uma máscara mais fina, que não dificulta a respiração, e, ainda assim, garante nossa proteção”, aponta. “Além disto, agora, também utilizamos luvas e óculos”, conclui Raquel.

O catador de recicláveis, Iago Felipe de Lima Rodrigues, de 22 anos, destaca que a mudança na gestão do trabalho modificou também o clima na Ascapel. “Sempre fomos companheiros, mas, agora, estamos ainda mais harmônicos, pois o trabalho está mais ágil, e estamos confiantes sobre o que estamos fazendo, separando melhor os recicláveis e resíduos e reconhecendo esta atividade como um pilar do desenvolvimento sustentável”, destaca Iago. O catador também revela que gostaria que a atividade fosse mais bem reconhecida pelas comunidades. “Nós damos vida e destino aos descartáveis, mas as pessoas não enxergam desta forma, infelizmente”.

Uma das atividades de inserção do projeto foi levar os catadores até o Campus Betim, para que eles pudessem falar sobre a importância da coleta seletiva para os idosos do PUC Mais Idade. “Foi uma experiência incrível. O público estava atento, participativo e muito receptivo. Falei com eles não como um catador somente, mas como um cidadão que se preocupa com o planeta em que vivemos”, conta Iago. Os próximos passos da parceria é sair dos muros da Ascapel para ir às ruas, com campanhas de conscientização da comunidade de Betim sobre a importância da coleta seletiva e dos catadores de recicláveis.

Texto
Lorena Scafutto
Fotos
Raphael Calixto
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