revista puc minas

Diálogos Rede de verdades e mentiras

"A grande rede que interliga pessoas e lugares não pode ser o espaço das mentiras, mas um ambiente que favoreça o cultivo da verdade"

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Grão-chanceler da PUC Minas
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte

Uma infinidade de possibilidades surge com o contínuo avanço das tecnologias de informação e comunicação. Os intercâmbios e os diálogos, apesar das distâncias geográficas, são facilitados pela velocidade no compartilhamento de mensagens a todo o momento. Nesse cenário, surgem comunidades que não necessariamente partilham o mesmo território. Pessoas de cidades e países diferentes se aproximam a partir de afinidades. Projetos são desenvolvidos, de modo colaborativo, integrando gente de diversas nacionalidades. As mudanças tecnológicas que permitem tudo isso seriam fantásticas, causariam pleno entusiasmo, se não fossem contaminadas por um velho mal que acompanha a humanidade desde os primórdios: a mentira.

A Palavra de Deus, no Velho e no Novo Testamento, denuncia a gravidade desse mal. “Não darás falso testemunho contra o teu próximo” é mandamento de Deus, conforme o Livro do Êxodo. O Mestre Jesus, em seu Evangelho, ensina que o diabo é pai da mentira: “Quando ele fala mentira, fala o que é próprio dele, pois ele é mentiroso e pai da mentira”. Eis um mal que corrói pessoas e nações. Dizima vidas. Seu impacto é ainda maior quando ganha a amplitude das redes digitais. Com muita frequência, pessoas são caluniadas, tornam-se vítimas de inverdades disseminadas por quem se esconde no anonimato da internet. Outras vezes, os boatos que se espalham nas redes digitais causam impacto na vida política e econômica de países.

A disseminação de mentiras é um vício, torna-se hábito perverso. Quem se ocupa de espalhar boatos para destruir pessoas e instituições parece ignorar o mal que faz a si e aos outros. Em mensagem para o Dia Mundial das Comunicações, o Papa Francisco desenvolve reflexão sobre as chamadas fake news, fonte de desinformação que, conforme o Pontífice, revelam a presença na rede digital de atitudes simultaneamente intolerantes e hipersensíveis, cujo único resultado é o risco de se dilatar a arrogância e o ódio. “A falsidade leva, em última análise, a isto”, conclui o Papa Francisco.

Mas o que fazer diante das mentiras que circulam mais facilmente no ambiente digital? Como combatê-las e agir, preventivamente, para não ajudar a disseminar as falsas notícias? A comunicação, conforme bem explica o Papa, é caminho para construir a comunhão entre pessoas. Por isso, para discernir o que está a serviço da verdade, é preciso buscar e partilhar o que favorece a comunhão e o bem comum. Evitar atitudes que estimulem o isolamento e as divisões.

A humanidade tem um caminho promissor com o contínuo avanço das tecnologias de comunicação. E as oportunidades que surgem precisam ser aproveitadas. A grande rede que interliga pessoas e lugares não pode ser o espaço das mentiras, mas um ambiente que favoreça o cultivo da verdade. Sempre oportuno é resgatar o que ensina o Evangelho da Vida: é a verdade que tornará a humanidade livre.

Texto
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Grão-chanceler da PUC Minas Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, presidente da CNBB
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