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Ciência Sem medo das ciências exatas

Projetos tornam mais atraente o ensino da Matemática e da Física

“Quando o Carlos me disse que era sobre robótica, logo me interessei. Sempre gostei de robôs. Quando crescer quero construir um robô e mandar para o espaço.”

Nayara Lorraine Alves

Os olhos atentos brilham ao ver o robô obedecer ao comando programado no computador, tornando concretos e aplicáveis os conceitos da Matemática, Física e Informática aprendidos em sala de aula. Estudantes do ensino médio, e agora também do ensino fundamental, têm a oportunidade de conhecer esses conteúdos de forma prática e lúdica por meio dos projetos de extensão Parque da Matemática e Programação de Robôs Didáticos como Ferramenta de Motivação Educacional, este destinado a alunos da região do Beira Linha, na região Nordeste de Belo Horizonte, e do Projeto Vila Fátima.

Iniciado em 2015 na Unidade São Gabriel, com a participação de alunos do ensino médio, o projeto Programação de Robôs foi criado para incentivar o ensino das disciplinas de Matemática e Física de forma mais atraente, a partir da percepção do professor Alexandre Teixeira, coordenador do Curso de Engenharia de Computação e coordenador do projeto, quanto à dificuldade e falta de interesse de parte da população pelas ciências exatas. A percepção é confirmada por resultado do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2015, cujo número é o pior da série histórica da avaliação, que começou em 2005. Os alunos brasileiros alcançaram nota 267 em matemática, nível mais baixo de uma escala de desempenho que engloba cinco níveis. Em 2013, o resultado foi 270.

A iniciativa envolve diversas disciplinas do Curso de Engenharia de Computação e de outras da área de informática: Física, Cálculo, Geometria Analítica, Algoritmos e Estrutura de Dados, Sistemas Digitais, Arquitetura de Computadores, Sistemas de Automação Industriais, Circuitos Elétricos e Computadores e Sociedade. Os conceitos dessas disciplinas são aplicados para a compreensão do desenvolvimento de lógica de programação, uso de sensores e motores e eletricidade. “Acreditamos que também é possível apresentar a esses alunos o leque de possibilidades acadêmicas e profissionais como uma forma de diminuir a situação de vulnerabilidade social, já que o projeto é destinado a comunidades de regiões carentes”, afirma o professor Alexandre Teixeira.

Em 2016, a iniciativa passou a contemplar também crianças a partir da 3ª série do ensino fundamental de uma escola de Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Graciela Aparecida Ambrósio, moradora do bairro Dom Silvério, soube do projeto através de uma vizinha e prontamente inscreveu o filho Carlos Gabriel Ambrósio, de 12 anos. “Os jovens têm que ocupar o tempo em que não estão na escola e descobrir coisas novas”, justifica Graciela. “Fiz a inscrição e dei a ele a opção de não vir mais se não gostasse. Ele gostou tanto que convidou os primos”. Carlos Gabriel explica que gostou do curso porque achou interessante aprender os conceitos da robótica. “Trouxe hoje minha prima e na próxima semana vou trazer mais gente”.

Nayara Lorraine Alves dos Reis, 11 anos, prima de Carlos Gabriel, também participa pela primeira vez das oficinas. “Quando o Carlos me disse que era sobre robótica, logo me interessei. Sempre gostei de robôs. Quando crescer quero construir um robô e mandar para o espaço”, afirma. Já colegas de escola, Gabriel Chaves de Oliveira Rodrigues e Jhonathan Henrique Correia da Silva, ambos de 10 anos, querem ser engenheiros de robótica. “Estamos aprendendo novas matérias que ainda não vimos na escola e que nossos colegas não sabem”, comemora Gabriel.

O curso tem feito tanto sucesso que atrai alunos de outras regiões mais distantes, como João Victor Lopes da Silva, 12 anos, morador do bairro Caiçara. “Sempre gostei muito de matemática e procurei aprender além da matéria ensinada na escola. Durante o semestre passado aprendi equação de 2º grau, pontos cardeais e outros conceitos mais avançados”, explica. “Com o que estou aprendendo tenho certeza que quero fazer um curso na área de exatas”, completa João Victor.

Além de ter a aprovação dos alunos, o projeto traz ganho aos extensionistas envolvidos, como é o caso do aluno Patrick Roberto dos Santos, do Curso de Sistemas de Informação, que está no projeto desde março deste ano. Para ele, o grande desafio tem sido a preparação das aulas, principalmente para as crianças do ensino fundamental. Mas o desafio torna-se gratificante quando há um retorno efetivo. “Vemos que a grande maioria dos participantes das turmas anteriores adquiriu gosto pela área e estabeleceu maior interação com a tecnologia”, comemora. “Fico feliz em participar porque posso aproveitar a oportunidade de desenvolver conteúdo além da sala de aula e também de realizar um trabalho voltado para a população carente”.

Os robôs utilizados durante a oficina são dos kits didáticos da Lego, montados com miniaturas de parafusos, eixos, rodas, motores e sensores. Eles permitem uma infinidade de formatos de montagem. Dependendo da programação, é possível fazê-los andar, virar, reconhecer distâncias e cores. “O uso deste modelo de robôs favorece muito o aprendizado porque o sistema é muito acessível e a aplicação dos conceitos retorna como resultado imediato. Isto estimula os alunos desde a primeira aula”, garante a professora Simone Nogueira, responsável pela coordenação pedagógica dos alunos extensionistas. Os robôs utilizados são dos modelos Lego Mindstorms NXT 2.0 e Mindstorms EV3.

Matemática divertida

“Eu já queria fazer Matemática, mas ninguém me apoiava. Quando vim ao PUC Aberta, fui direto ao estande do curso e os jogos e atividades do Parque me fizeram ficar ainda mais interessada em ingressar na área.”

Luiza Guimarães Nonaka

Aprender matemática pode parecer assustador quando se pensa em intermináveis equações e operações que demandam raciocínio lógico, mas, se as contas fazem parte de brincadeiras, a disciplina deixa de ser um bicho de sete cabeças. Planejado e executado pela professora Carina Pinheiro, o Parque da Matemática é a concretização de ideias da docente, que sempre valorizou o aprendizado a partir de jogos. “Sempre gostei de jogos, são instigantes e motivadores. No ano passado, antes do PUC Aberta [programa de relacionamento da Universidade com alunos do ensino médio], queria levar algo diferente para o estande do Curso de Matemática e peguei alguns jogos. Quando percebemos que os estudantes se interessaram, ao invés de fazermos fôlder do curso, entregávamos problemas matemáticos aos visitantes do evento, que demonstraram muito interesse na ação”, conta Carina.

Luiza Guimarães Nonaka, do 4º período do Curso de Matemática, afirma que sua experiência com o Parque da Matemática foi essencial para sua escolha profissional. “Eu já queria fazer Matemática, mas ninguém me apoiava. Quando vim ao PUC Aberta, fui direto ao estande do curso e os jogos e atividades do Parque me fizeram ficar ainda mais interessada em ingressar na área. Assim que saí daqui, falei para minha mãe que, com certeza, era aquilo que eu queria para a minha vida”, conta ela, que conheceu o Parque em 2014.

Após o PUC Aberta, a professora deu continuidade ao projeto. “Os alunos adoraram a iniciativa e hoje criam, sob a minha orientação, diversos jogos adaptáveis a todas as faixas etárias, que mesclam o lúdico com o conteúdo mais profundo”, explica a docente, contando também que o grupo se dedica intensamente às atividades externas com o Parque. “Eu fico impressionada com a disposição dos monitores do Parque da Matemática. É um trabalho voluntário e, ainda assim, eles fazem questão de participar de todas as atividades externas”, pontua.

Luiza, que iniciou como estagiária do grupo no semestre passado, já participou de uma edição do PUC Aberta e afirma que irá levar várias atividades do Parque da Matemática para a sala de aula quando começar a lecionar. “É um instrumento muito interessante para chamar a atenção dos alunos que, com certeza, vou adotar para ensinar a disciplina”, afirma.

Texto
Lídia Lima e Michelle Stammet
Fotos
Marcos Figueiredo
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