revista puc minas

Sustentabilidade Tanque cheio de elétrons

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Carro e bicicletas do projeto Poços + Inteligente passam a compor a paisagem do Campus, onde estão sendo instalados equipamentos de recarga de veículos elétricos

Poços de Caldas desponta na corrida da mobilidade elétrica com iniciativa pioneira da PUC Minas

Transitar pelos espaços urbanos pode parecer, ao indivíduo, uma ação trivial, que compõe o dia a dia de modo quase despercebido. Porém, quando pensamos na mobilidade sob uma ótica coletiva, o simples ato de circular pela cidade pode ser revolucionário. A forma como as sociedades resolvem a equação dos deslocamentos revela os mundos que anseiam construir, articulando trajetos, meios de transporte e fontes de energia.

A energia é, justamente, o xis da questão para as instituições envolvidas em um projeto pioneiro na região de Poços de Caldas, no Sul de Minas Gerais. Por meio de seu Campus na cidade, a PUC Minas figura entre os realizadores do Poços + Inteligente, que busca desenvolver e oferecer à população soluções inovadoras de mobilidade elétrica. Algumas se concretizam agora com a instalação de eletropostos, bicicletários com tecnologia específica para bikes elétricas e aquisição de um carro elétrico utilizado em pesquisas, entre outras ações.

O Poços + Inteligente é fruto de uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Poços de Caldas, Departamento Municipal de Energia (DME), Instituto Federal do Sul de Minas Gerais (IFSuldeMinas) e PUC Minas. Em sua participação, a Universidade mobiliza diretamente nove professores, seis alunos bolsistas de iniciação científica e funcionários de diversos setores do Campus. Um dos seus representantes mais notáveis é Fabiano Costa Teixeira, professor do Curso de Ciência da Computação e coordenador de Projeto e Desenvolvimento na iniciativa.

Fabiano conta que, após ser selecionado em uma chamada pública do DME, o projeto foi submetido à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e tornou-se uma das 30 propostas aprovadas para obtenção de recursos do órgão federal no fim de 2019. Todas elas têm foco no desenvolvimento de soluções em mobilidade elétrica eficiente, premissa desta seleção da Aneel. As atividades do Poços + Inteligente vêm sendo realizadas desde então, superando inclusive os desafios impostos pela pandemia. Os principais avanços, entre eles a instalação de pontos de recarga na cidade, têm repercutido nos últimos meses.

“O projeto tem uma missão importante no que diz respeito às possibilidades de locomoção. Poços de Caldas tem potencial para integrar a rota da mobilidade elétrica no país, propondo formas mais sustentáveis e menos poluentes de deslocamento aos cidadãos, além de atrair viajantes e contribuir com a atividade turística na cidade”, ressalta Fabiano. Ele explica ainda que boa parte da tecnologia aplicada é autossustentável, pois associa energia solar a baterias e eletricidade.

A ampliação da rede de eletropostos e bicicletas possibilitaria uma série de ganhos. O professor aponta que a baixa demanda por veículos elétricos atualmente se deve justamente à falta de soluções eficientes neste campo, sendo a escassez de pontos de recarga um agravante. Por meio do projeto, será possível testar e aprimorar ferramentas tecnológicas a partir da coleta de dados sobre sua utilização e desempenho. Por isso, é fundamental disponibilizá-las à população. Uma delas é o aplicativo que está sendo desenvolvido para organizar as reservas das bicicletas e prevenir furtos – uma ameaça frequente, dado o valor elevado dos equipamentos.

Holanda é um dos países com boas práticas na área

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A poços-caldense Claudia Fregni, que mora em Amsterdã, se dispôs a contribuir com informações para o projeto

A mobilidade elétrica já está fortemente presente em alguns países, como a Holanda. É o que nota a poços-caldense Claudia Maria Migot Fregni, que mora há quatro anos em Amsterdã e atualmente cursa, pelo regime remoto, Psicologia na PUC Minas Poços de Caldas. Ao tomar conhecimento do Poços + Inteligente pela internet, ela fez contato com o professor Fabiano e se prontificou a contribuir com informações sobre as práticas e políticas que observa onde vive hoje.

O relato de Claudia permite ver, refletidas no dia a dia, as ações do governo holandês que visam à sustentabilidade. Amsterdã se destaca ao adotar um modelo de economia circular, que prioriza necessidades básicas alinhadas aos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU), cuja ambição é concretizá-los até 2030. Tais esforços se evidenciam inclusive no setor de mobilidade, dada a ampla difusão do uso de bicicletas na cidade e os robustos incentivos fiscais oferecidos para compra de carros elétricos, por exemplo.

Na paisagem cotidiana de Claudia na Holanda, já são frequentes pessoas carregando automóveis em eletropostos. O Brasil ainda inicia seu percurso na mobilidade elétrica, mas Poços de Caldas assume a dianteira. “O nosso projeto é, de certo modo, um laboratório para a realização de outros estudos na área”, enfatiza o professor Fabiano ao comentar a relevância da iniciativa que entende como transversal, pois transita entre ensino, pesquisa e extensão. Ao passo que integra os pilares da Universidade, o projeto conecta também um presente desafiador ao futuro desejado, ao qual se dirige com o tanque vazio de combustíveis fósseis, mas baterias cheias de energia elétrica.

Texto
Bruno Batiston
Fotos
1Maressa Basso
2Arquivo Pessoal
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