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Extensão Unindo forças

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Programa de extensão em Brumadinho, em parceria com a Arquidiocese de BH, completa dois anos

O programa de extensão PUC Minas e Brumadinho – Unindo Forças, que tem como um de seus parceiros a Arquidiocese de Belo Horizonte, completa, neste 1º semestre de 2021, dois anos de atuação junto às comunidades atingidas pelo rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho. A iniciativa busca contribuir para o enfrentamento de problemas sociais, econômicos, culturais e ambientais decorrentes da tragédia, tendo como base as diretrizes que norteiam a extensão universitária.

Desde que teve início, em abril de 2019, cerca de mil pessoas – entre alunos, professores, moradores das comunidades, alunos de escolas públicas, integrantes de movimentos sociais e outros públicos – já se envolveram nas atividades do programa, que reúne 10 projetos, em diversas áreas do conhecimento.

“O resultado foi super positivo e culminou em um seminário final com a apresentação dos próprios alunos, em que eles falaram muito não só sobre o trabalho desenvolvido, mas também sobre o impacto na formação deles”, conta a professora Ana Teresa Brandão de Oliveira e Britto, que coordenou o programa até 2020. O referido seminário foi realizado em dezembro, sob o título Protagonismo Discente nas Intervenções Socioambientais: aprendizagens, vivências e perspectivas.

O programa, a partir deste ano, está sob coordenação da professora Sandra Freitas, responsável pela Extensão da Faculdade de Comunicação e Artes (FCA). “Para Brumadinho e suas comunidades, cada um de nós, em cada um dos projetos, precisa dar suas melhores energias, investir o conhecimento que a gente tem e colocá-lo disponível para essas comunidades. Penso que todos nós, mineiros, temos uma dívida enorme com os moradores de Brumadinho, porque por muitos e muitos anos não abrimos os olhos para os perigos iminentes da minério-dependência e também para a atuação das mineradoras”, diz.

Atividades migraram para o regime remoto

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Líder da comunidade quilombola, Antônio Alves da Silva, conhecido como “Seu Cambão”, participou da rádio e contribuiu com uma das publicações do projeto

Ao longo desses dois anos, cada um dos projetos estruturou e desenvolveu diversas ações, com objetivos bem definidos e resultados a serem alcançados. Mesmo com a pandemia do novo coronavírus, os projetos tiveram continuidade e migraram do regime presencial para o remoto. “Conseguimos muito sucesso, mesmo que nessas condições de atuação”, avalia a professora Ana Teresa.

Os projetos Oficinas Psicossociais, coordenado pela professora Márcia Mansur, e Continuidade das Ações de Comunicação da FCA em Brumadinho são exemplos de iniciativas que tiveram resultados positivos em suas ações.

No caso do primeiro, foi realizado um trabalho de socialização, desenvolvimento psicossocial e fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. Com alunos dos cursos de Psicologia, Comunicação Social e da área da Saúde, o projeto elaborou, além de produções editoriais e audiovisuais, uma rádio chamada Vozes de Brumadinho, veiculada por meio de plataformas digitais e carro de som nas comunidades. Esse trabalho foi realizado em parceria com os projetos da FCA e pelo Projeto Integrado de Educação e Saúde, coordenado pela professora Jaqueline do Carmo Reis. O e-book Vozes de Brumadinho foi produzido por extenisionistas, com o apoio do professor Valério Souza, do Curso de Publicidade e Propaganda da Praça da Liberdade.

Já o projeto da Comunicação realizou ações estratégicas em três escolas de Brumadinho, cujas temáticas compreenderam o Dia da Consciência Negra, o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e as redes sociais, este último com uma capacitação voltada para estudantes e professores. A iniciativa contou com a participação de extensionistas e das professoras Lívia Alves Brandão e Tânia Cristina Teixeira, do Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais (Iceg).

A estudante Beatriz Cordeiro Xavier, 21, do 7º período do Curso de Cinema e Audiovisual, conta que, devido à pandemia, várias atividades tiveram que ser repensadas e, depois de uma “longa reflexão”, o programa de rádio ganhou vida. “Para mim foi uma atividade enriquecedora, isso porque foi reinventando um meio de comunicação como uma rádio comunitária em carro de som que conseguimos aproximar de certa forma comunidades que muitas vezes não dialogavam entre si, um processo que talvez nunca aconteceria se fosse presencial”, diz. Como extensionista, ela participou de diversas atividades, entre elas oficinas de fotografia e cinema. De acordo com Beatriz, produzir o programa de rádio possibilitou a ela novos aprendizados, como trabalhar com edição de áudio. Atualmente, ela permanece como extensionista dos projetos Providência na Comunidade e PUC Minas e Brumadinho – Unindo Forças.

Um dos participantes da comunidade é o senhor Antônio Alves da Silva, de 73 anos, conhecido como “Seu Cambão”. Líder comunitário da Comunidade Quilombola de Marinhos, ele conta que participou da rádio e contribuiu com uma das publicações do projeto. “A rádio, quando passava por Marinhos, eu podia ouvir a minha voz, eu cantando, ouvir a voz de amigos meus do Parque da Cachoeira, do Ribeirão, isso foi muito bom, o trabalho da PUC aqui na nossa comunidade“, conta. Sobre a sua participação no livro, ele diz: “É um sonho meu, mas com certeza é um sonho de Deus. É um sonho de eu escrever o meu livro e, quando eu falo meu livro, é o livro da comunidade”. Além de líder comunitário, ele também é presidente da Associação Água Cristalina 2000 e ministro extraordinário da Sagrada Comunhão. Vendedor de verduras, ele se viu impossibilitado de escoar a sua produção depois do rompimento da barragem.

Projeto Paraopeba

Uma outra iniciativa da Pró-Reitoria de Extensão (Proex) que também tem tido uma atuação consistente é o Projeto Paraopeba, desenvolvido pela Coordenação e Acompanhamento Metodológico e Finalístico da PUC Minas, cujas atividades tiveram início em meados de 2020, com atuação ao longo da calha do Rio Paraopeba.

“Trata-se de um projeto de extensão que realiza intervenções na comunidade por meio das assessorias técnicas aos atingidos, ocupando-se também da formação acadêmica e humanística dos alunos participantes, em consonância com a missão institucional da PUC Minas”, explica a coordenadora, professora Fernanda Simplício.

De acordo ela, a atuação da equipe do projeto, composta por professores, extensionistas e funcionários, se dá na perspectiva da reparação integral dos danos sofridos pelas pessoas que tiveram suas vidas “devastadas pela tragédia”.

O projeto é fruto de acordo de cooperação com Assessorias Técnicas Independentes, com a anuência do Ministério Público de Minas Gerais, Ministério Público Federal, Defensoria Pública de Minas Gerais e Defensoria Pública da União.

Romaria pela Ecologia Integral

Para marcar os dois anos do rompimento da Mina Córrego do Feijão, a Arquidiocese de Belo Horizonte, com a participação do programa de extensão PUC Minas e Brumadinho – Unindo Forças e do Projeto Paraopeba, realizou em janeiro deste ano a II Romaria Regional pela Ecologia Integral a Brumadinho. A programação contou com vídeo-cartas, roteiros celebrativos e saraus pastorais, além do lançamento do Pacto dos Atingidos, documento construído coletivamente por atingidos pelo rompimento da barragem de toda a bacia do Rio Paraopeba.

“Queremos fazer da nossa voz um grito por justiça, não pode acontecer isso mais e a vida não pode continuar assim. Queremos que aconteça a reparação integral para todos os atingidos e atingidas e que a gente construa uma ecologia integral”, disse Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, durante celebração pela memória das vítimas da tragédia.

 

Fortalecendo a comunidade

  • Projetos que integram o programa PUC Minas e Brumadinho – Unindo forças;
  • Gestão e Comunicação do Programa PUC Minas e Brumadinho – Unindo Forças;
  • Continuidade das Ações de Comunicação da FCA em Brumadinho;
  • Oficinas Psicossociais – fortalecendo vínculos familiares e comunitários em Brumadinho;
  • Educação Financeira e Geração de Trabalho e Renda;
  • Reciclagem Solidária e Inclusiva na Pós-tragédia-crime de Brumadinho/MG: fortalecimento das cooperativas de catadores na gestão de resíduos sólidos urbanos;
  • Universidade Aberta: fortalecimento da construção compartilhada de conhecimento para a superação da minério-dependência em Brumadinho/MG;
  • Brumas Colabora: discussões colaborativas de planejamento e gestão ambiental urbanos para promoção do constante acompanhamento do Plano Diretor do Município de Brumadinho;
  • Diagnóstico Situacional, Educação para Saúde, Vigilância, Controle Vetorial e Zoonoses;
  • Projeto Integrado de Educação e Saúde;
  • Ecologismo dos Pobres: o cuidado/proteção dos bens da natureza a partir das perspectivas de vida não capitalistas.
Texto
Fernando Ávila
Fotos
1Raphael Calixto
2Lucas Hallel/FUNAI
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