Engenharia Civil Mão na massa
Projeto oferece conhecimento técnico em construção civil a moradores de Ribeirão das Neves
"Foi uma forma que encontramos para aumentar a nossa renda porque consigo agora fazer a leitura dos projetos. Podemos tocar mais de uma obra ao mesmo tempo"
Maria Mercês de OliveiraAumentar a empregabilidade de moradores da cidade de Ribeirão das Neves, na área da Construção Civil, é o principal objetivo de projeto de extensão Canteiro Escola. As atividades são desenvolvidas pelo Curso de Engenharia Civil da PUC Minas São Gabriel em parceria com o projeto Vila Fátima, em Ribeirão das Neves, na região metropolitana, com moradores da região com ou sem experiência em construção civil. “Nossa percepção é que há uma grande quantidade de trabalhadores que atuam na construção civil com conhecimento apenas prático. Ao oferecermos conhecimento técnico, aumentamos a qualidade da mão de obra e também as oportunidades de trabalho”, explica uma das coordenadoras do projeto, a professora Elke Kölln.
Para Greice Martins dos Santos, aluna do projeto, a construção civil é uma paixão. “É uma área que ocupa muito a mente da gente. Precisa de muita competência para trabalhar. Um serviço mal feito pode criar um problema grande”, afirma. Greice já trabalhou na área de serviços gerais, mas gosta mesmo é da construção civil. O sonho dela é aprender a fazer de tudo em uma obra. Já Maria Mercês de Oliveira participou da oficina de leitura de projetos para acompanhar o marido, que é mestre de obras há mais de 30 anos. “Foi uma forma que encontramos para aumentar a nossa renda porque consigo agora fazer a leitura dos projetos. Podemos tocar mais de uma obra ao mesmo tempo”, explica. “Quando o projeto chega, sentamos juntos e analisamos. Agora minha intenção é fazer um curso técnico em edificações”, planeja.
Canteiros reais
Em 2018, além de continuar as ofertas das oficinas realizadas em 2017, o projeto está trabalhando na comunidade com a prática de canteiros em situações reais, dentro de moradias. Estão sendo feitos diagnósticos das habitações para avaliar as necessidades de intervenção. Dados do Diagnóstico Socioterritorial, realizado pela Secretaria Municipal de Assistência Social de Ribeirão das Neves em 2013, mostram que a ocupação imobiliária desordenada é um grande problema para a cidade. São mais de 44 mil domicílios distribuídos em 118 assentamentos precários, com deficiência de serviços de saneamento, situações de risco e baixo padrão construtivo. O problema é agravado pelas construções erguidas por pessoas sem conhecimento técnico, e é esta uma das questões com as quais o projeto deseja contribuir. Após um ano de presença na comunidade, já é possível ver a aplicação do conhecimento fazendo a diferença na rotina dos moradores. Greice Santos, por exemplo, já está aplicando seus novos conhecimentos, ajudando nos cálculos de material para a obra da casa da irmã. “Com os cálculos que aprendi, falei para ela a quantidade de telhas de que precisaria para cobrir a laje. O mestre de obras não concordou e falou que a quantidade era menor. Fizeram a laje no fim de semana e a quantidade de telhas não foi suficiente. Choveu no domingo e molhou toda a parte descoberta”, constata.
Além da contribuição para a comunidade, a professora Elke menciona ainda um importante ganho acadêmico. Além de desenvolver o material e ministrar as aulas, os alunos do curso têm a oportunidade de vivenciar a realidade de um canteiro de obras. A extensionista Joyce Brandião confirma o ganho acadêmico, mas destaca que a participação no projeto colaborou também para a sua formação humana. “Eu aprendo muito aqui. A convivência ampliou o meu olhar sobre o mundo e o relacionamento com as pessoas. Neste ano em que estou envolvida no projeto, cresci muito. Estou pensando em adiar a minha formatura em um semestre para poder prolongar a minha participação na Extensão”, explica. “Meu trabalho de conclusão de curso está ligado à aplicação do conhecimento em favor de comunidades carentes. Vou trabalhar em um sistema de drenagem de baixo custo na ocupação Isidora, através do projeto de extensão Articulando Redes”, diz entusiasmada Joyce. Para a coordenadora do projeto Vila Fátima na PUC Minas, professora Luciana Fagundes, os alunos são desafiados pela realidade. “Além de mudar a qualidade de vida da comunidade envolvida, estamos também formando alunos extremamente diferenciados, que estão vivenciando a visão humanista da Universidade”, afirma.
Leitura de Projetos Arquitetônicos
A oferta de uma oficina de Leitura de Projetos Arquitetônicos, destinada a uma comunidade atendida pelo Projeto Providência, realizada durante a Semana de Ciência, Arte e Política (Scap)da Unidade São Gabriel em 2016, foi uma semente para a criação e desenvolvimento do projeto. Com a avaliação positiva dos participantes da oficina, os professores Elke Kölln e Maxiliano Perdigão, coordenador de Extensão da Engenharia Civil, optaram por pensar um projeto mais abrangente. O sucesso da oficina da Scap atraiu a atenção da coordenação do Projeto Vila Fátima, que convidou os professores a pensarem atividades para atender à demanda da comunidade de Ribeirão das Neves. No primeiro semestre de 2017, foi realizada oficina de leitura de projetos com duas turmas de alunos, totalizando 26 participantes. Já no 2º semestre de 2017, foram realizadas oficinas em alvenaria, revestimento e instalações elétricas três vezes por semana, com atividades teóricas e práticas em canteiros de obras. As atividades práticas foram acompanhadas por um mestre de obras da Prefeitura Municipal de Ribeirão das Neves. O material utilizado nas práticas, como areia, cimento e tijolos, foi adquirido pelo projeto Vila Fátima. “Montamos uma metodologia em que dois dias da semana os alunos têm aulas teóricas e um dia de aulas práticas em três canteiros de obra dentro do Vila Fátima”, explica a professora Elke. Nesta fase, participaram 30 moradores da região.
Avaliando a sustentabilidade
O Projeto Vila Fátima é realizado desde 2012 pela Arquidiocese de Belo Horizonte, Providência Nossa Senhora da Conceição e a Pró-Reitoria de Extensão da PUC Minas, com o objetivo principal de fortalecer os vínculos familiares e comunitários, a fim de prevenir situações de vulnerabilidade pessoal e social. O projeto é desenvolvido em Justinópolis, bairro de Ribeirão das Neves, e oferece oficinas aos jovens e seus familiares. Em 2018 passará a ser promovido, em todas as ações no Vila Fátima, o projeto Vila Fátima Educando e Vivendo a Sustentabilidade, que pressupõe a criação de uma cultura voltada para a sustentabilidade. Além da realização das oficinas já existentes, também passam a existir uma oficina específica de horta vertical e captação de água de chuva. “O quadro socioambiental do município impacta diretamente no meio ambiente, sem qualquer cuidado de preservação do patrimônio ambiental, assoreamento e poluição dos cursos d’água”, explica a professora Luciana Fagundes. “Trataremos a educação ambiental de forma transversal em todas as nossas oficinas, juntamente a palestras, passeios e construções práticas de proteção e cuidados com o patrimônio ambiental”, projeta.