Ação social Desenhando a própria história

Projeto oferece oportunidade de desenvolvimento artístico e profissional

As cores no muro contrastam com o asfalto e as construções que margeiam o Anel Rodoviário, em Belo Horizonte. A movimentação de crianças e adolescentes com latas de spray nas mãos chama a atenção de quem passa pelo local de carro, de ônibus ou a pé. A cena acontece no muro da Unidade São Gabriel e é um dos resultados das atividades desenvolvidas pelo projeto de extensão Arte na Beira Linha: fotografia, grafite e cia, coordenado pela professora e artista plástica Marta Neves.

O objetivo do projeto é oferecer a jovens de 9 a 18 anos, provenientes do Beira Linha – região formada por comunidades carentes próximas à unidade, na Região Nordeste de Belo Horizonte –, ferramentas que possibilitem o desenvolvimento de potencialidades artísticas por meio de fotografias e outros processos visuais, como o grafite e o sticker, uma modalidade de arte urbana que utiliza desenhos e/ou fotografias colados em muros das grandes cidades. “Queremos alimentar a autoestima desses jovens, envolvendo-os em um processo de cooperação mútua e troca solidária de experiências”, explica Marta.

A demanda pela realização do projeto surgiu também de depoimentos dos jovens que participaram em 2013 do projeto de extensão Beira Linha – Desenhando sua História, também coordenado pela professora Marta Neves. Nas falas ficou clara a carência desses jovens por atividades que ocupem o tempo ocioso. “É preciso que apontemos possibilidades de ocupações como alternativas de vida que inibam a ligação entre essas populações e a violência do tráfico de drogas”, explica o Frei Mário da Paixão Taurinho, coordenador do projeto Beira Linha e da Pastoral na Unidade São Gabriel.

Para chegar à intervenção no muro, os 20 jovens inscritos no projeto desenvolveram durante todo o ano oficinas de fotografia com uso de câmeras feitas com material reciclado como latas de alumínio, caixas de sapato, papelão e caixas de fósforo para compreender o processo de produção fotográfica. Também foram utilizadas câmeras digitais e analógicas. A partir das fotos produzidas, foram propostas colagens e intervenções com desenhos e palavras para compor os stickers.

A importância do projeto

“Procuramos atender às demandas da comunidade que mudam a cada momento. Dessa forma, os cursos encontram espaço de atuação de acordo com a sazonalidade da demanda”

Frei Mário Taurinho

Vinculado à Pastoral, o Beira Linha, que completa neste ano 11 anos de atuação, é um amplo projeto de extensão que se caracteriza pela multidisciplinaridade nas ações, envolvendo, em momentos alternados, todos os cursos da unidade. “Procuramos atender às demandas da comunidade, que mudam a cada momento. Dessa forma, os cursos encontram espaço de atuação de acordo com a sazonalidade da demanda”, explica Frei Mário Taurinho. Atualmente, o projeto atua em quatro frentes: oferta de cursos de profissionalização, atuação em telecentros, socialização e ocupação de idosos e Natal na Comunidade Beira Linha.

O projeto, que já atendeu 2.454 pessoas no período de 2012 a 2014, desenvolve oficinas e cursos de formação profissional com o objetivo de qualificar e impedir que os jovens permaneçam nas ruas em contato com o tráfico de drogas e a criminalidade. As comunidades que integram o Beira Linha se estendem pelos bairros São Gabriel, Ouro Minas, Belmonte, Jardim Belmonte, Ribeiro de Abreu, Conjunto Ribeiro de Abreu, Paulo VI, Conjunto Paulo VI e Capitão Eduardo e abrangem cerca de 13.400 moradores, de acordo com dados levantados pela Pastoral. As comunidades são afetadas pela carência de infraestrutura. Em alguns pontos, a iluminação pública é irregular e a rede de esgoto inexistente.

A PUC Minas iniciou o projeto Beira Linha com o objetivo de qualificar e impedir o acesso dos jovens ao tráfico, já latente na época. Após 11 anos da criação do projeto, o objetivo permanece o mesmo. “O crescimento da região e o desenvolvimento dos novos empreendimentos imobiliários atraíram pessoas vindas de outras regiões. Com o crescimento do público e a chegada de pessoas com uma faixa de renda um pouco maior, o tráfico se tornou ainda mais evidente e o risco mais permanente de envolvimento dos jovens”, afirma Frei Mário.

Beira Linha em novo espaço

Em 2015, o projeto recebe a comunidade em um novo espaço, agora no prédio D, onde é possível integrar todas as ações em uma só estrutura. “Isso sinaliza que a iniciativa não é importante somente para aqueles que usufruem dos benefícios oferecidos, mas também para toda a comunidade acadêmica. O novo espaço possibilita maior atenção e conforto aos usuários e uma articulação diferenciada entre professores e alunos”, comemora Frei Mário.

Nas novas instalações da Pastoral, foi reservado um espaço para a secretaria, o que poderá aprimorar o atendimento.

Apoio à comunidade