Diálogos O verdadeiro papel da política
“Fomentar o exercício concreto da ação cidadã pode significar a construção de novos caminhos e assegurar que a política se destine ao seu real objetivo, que é a garantia do bem comum”
Prof. Dom Joaquim Giovani Mol GuimarãesReitor da PUC Minas
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte
Esta edição da Revista PUC Minas traz em si, de algum modo, uma síntese do atual momento político e social brasileiro. Por um lado, um país com gravíssimos problemas sociais que afligem a vida de dezenas de milhões de brasileiros. O paradigma da Belíndia que considerávamos superado ainda nos assombra e ameaça. Pior ainda, parece ganhar novamente força em um Estado que insiste em viver divorciado da sociedade. Por outro lado, a sociedade brasileira que, a despeito de instituições desacreditadas, tenta traçar seus caminhos e arquitetar as próprias soluções. E há muitíssimo ainda a construir.
É preciso, com urgência, avançarmos em nossa cidadania que, por sua vez, só se concretizará à medida em que as grandes necessidades da população mais empobrecida forem verdadeiramente acolhidas como prioridades pelos representantes eleitos. Mas o momento do voto não pode continuar sendo, praticamente, o exclusivo contato do cidadão com a política institucional. E se a política dita tradicional veta aos eleitores, ao final, possibilidades efetivas de participação na definição e condução dos rumos da vida da cidade e de seu país, talvez o caminho possível seja o de configurarmos e alimentarmos novas alternativas e possibilidades de participação cidadã.
Fomentar o exercício concreto da ação cidadã pode significar a construção de novos caminhos e assegurar que a política se destine ao seu real objetivo, que é a garantia do bem comum. Este é o ponto crucial de nossa política hoje: aquilo que sempre idealizamos em termos de uma experiência democrática – a participação de todos visando o bem de todos – cada vez mais parece desenhar-se como a alternativa possível a um modelo de política institucional em crise, ceivada, especialmente, nas últimas décadas pelo descrédito gerado pela prática da corrupção, pelos privilégios para grupos de poder e o cruel desprezo pelo sofrimento dos mais pobres.
Não é exagero dizer que a corrupção da política, fenômeno histórico e mundial, assim como os graves problemas que ela complexamente produz, talvez encontre menos terreno fértil se os espaços da vida pública forem decididamente ocupados em favor da promoção da justiça social. Somente o envolvimento efetivo e orgânico do cidadão em sua associação de bairro, seu sindicato, as agremiações das mais diversas naturezas – mesmo e, em especial, as partidárias – e organizações de defesa de direitos da sociedade civil fará com que a política se torne novamente salutar e reencontre seu verdadeiro papel.