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Deficiência Visual Arte revelada

O professor do Instituto São Rafael Antônio José de Paula (à esq.), que é deficiente visual , elogia o recurso da audiodescrição no Museu de Artes e Ofícios

Quais são as feições da Mona Lisa, do quadro de Leonardo da Vinci? Qual a cor da pele dela, do cabelo? Talvez você, leitor, que tenha visto o quadro ao menos uma vez, mesmo que em fotografia, não se lembre de exatamente todos esses detalhes, mas consiga formar na cabeça uma imagem de como a Mona Lisa é como um todo. Mas será que um dos quadros mais conhecidos do mundo também está no imaginário de muitos deficientes visuais?

Projeto de extensão iniciado no ano passado, realizado por meio de parceria entre três cursos da Universidade e o Museu de Artes e Ofícios (MAO), pretende dar a deficientes visuais maior acesso a bens culturais, nesse caso, a museus, por meio da audiodescrição, recurso que consiste na descrição clara e objetiva de todas as informações que podem ser compreendidas visualmente. O recurso também pode ser utilizado por crianças e pessoas com dificuldade cognitiva.

Coordenado pela diretora do Instituto de Ciências Humanas (ICH) e professora do Curso de História, Carla Ferretti, o projeto na Universidade envolve seis alunos extensionistas dos cursos de Comunicação Assistiva, História e Letras, um funcionário do laboratório de Comunicação Assistiva e as professoras Celisa Carolina Marinho (Departamento de Comunicação Social), Jacyra Antunes Parreira (História) e Paula Branco Morais (coordenadora do Curso de Comunicação Assistiva).

Segundo a professora Carla Ferretti, o recurso da audiodescrição de obras de arte já é utilizado em vários museus no Brasil e no mundo, porém, o projeto com o MAO inclui a audiodescrição do ambiente expositivo de uma forma geral, ou seja, dos cenários. No caso desse museu, o ambiente escolhido foi o Ofício dos Tropeiros e, a partir disso, foram realizadas visitas dos alunos para a criação de um pré-roteiro. “Como o nosso foco não é simplesmente a descrição do objeto, mas somada a ele a informação histórica, foi feita uma pesquisa sobre o tropeirismo e gravamos um piloto de forma experimental”, explica a professora. Neste ano, os alunos estão trabalhando em um novo cenário do MAO.

Abertura cultural

Para a produção do conteúdo, o grupo atua em conjunto com alunos e professores do Instituto São Rafael, estabelecimento estadual de ensino especializado no atendimento de pessoas com deficiência visual, para compreender suas limitações e como se relacionar com eles.

Antônio José de Paula é professor de Geografia do Instituto São Rafael e acompanha de perto esse trabalho. Ele afirma que o MAO já realiza a descrição das obras de arte por meio dos educadores que trabalham lá e o projeto do museu com a Universidade irá somar benefícios. “A audiodescrição é um complemento importante porque não se trata apenas de falar o que se quer, mas dizer o que um cego realmente precisa de informação para suprir o que não está vendo”, ressalta Antônio. Para o professor, que também é deficiente visual e há oito anos leva seus alunos ao MAO, o maior ganho é o acúmulo de conhecimento proporcionado a eles pelas visitas. “Nosso público é carente de cultura. Atendemos diversas pessoas e de vários níveis sociais. Estamos proporcionando a eles uma ascensão cultural e o retorno disso é compensador”, alega Antônio.

Os ganhos também são obtidos por Renata Marques da Silva, aluna do 5º período do Curso de História, umas das extensionistas do projeto: “Fazer parte disso me trouxe amadurecimento e conhecimento que ultrapassam a sala de aula. Também trouxe mais sensibilidade e responsabilidade sobre as questões sociais. Trabalhar com as pessoas que me inspiram acrescentou uma nova perspectiva do ofício do historiador”.

Texto
Tereza Xavier
Foto
Marcos Figueiredo
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