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Oportunidade Além da alfabetização digital

O monitor do Curso de Sistemas de Informação, Gabriel Felipe Silva, e o aluno Alexanderson Ribeiro, 16, descobrem juntos os potenciais criativos da Robótica

Projetos levam inclusão e estimulam reflexões sobre os desafios da informática

O acesso aos dispositivos eletrônicos e à internet tem se expandido a cada ano. De um lado, os nativos digitais – aqueles que nasceram e cresceram em meio às tecnologias e ao advento da internet. Do outro, uma parcela da população que teve seu primeiro contato com essas mídias a partir da fase adulta, os chamados imigrantes digitais. Os termos destinados a esses grupos foram criados pelo educador e professor Marc Prensky e retratam o abismo existente no modo com que pessoas de diferentes faixas etárias manipulam as tecnologias.

Buscando levar conhecimento digital a uma população à margem do desenvolvimento e do acesso às novas tecnologias, o Curso de Sistemas de Informação do Campus Betim desenvolve dois projetos de extensão complementares. Um deles é o Inclusão.Betim.br, que atende a crianças, jovens e idosos da cidade e entorno. “Por razões da faixa etária e a consequente afinidade com a tecnologia, o ritmo de aprendizado do público jovem é diferente dos idosos. Isso permite que para o primeiro público as atividades sejam condensadas e realizadas em um espaço de tempo menor e que alcancem âmbito além da alfabetização digital”, explica o coordenador do projeto, professor Álisson Rabelo Arantes. Durante o curso, é possível aprender sobre técnicas da informática, além de dicas de bom uso da internet.

Luan Henrique de Oliveira, aluno do 5º período de Sistemas de Informação, entrou no projeto buscando atender aos idosos. Para ele, este público procura informação, muitas vezes, para interagir melhor com a família. “Os idosos ficam à margem das rodas de conversa dentro de casa quando o assunto é tecnologia e redes sociais. Ao aprender sobre como utilizar computadores, eles perdem o medo de se aventurar nos celulares. Além do uso técnico, também auxiliamos os alunos sobre os riscos da internet em relação aos golpes financeiros e identidades digitais falsas, por exemplo”, afirma Luan.

Este é o caso de Maria da Piedade Silva, 59, aluna do projeto, que não tem computador em casa. Quando iniciou as aulas, há cerca de dois anos, ela não sabia ligar o equipamento. “Hoje, já consigo navegar pela internet. Agora, o próximo módulo vai ser aprender a mexer no celular. Afinal, daqui a algum tempo, tudo será por meio dele”. Para a aluna, o que a motiva a aprender a cada dia mais é o carinho e atenção dos monitores. “Sempre que precisamos, eles têm toda a paciência do mundo para nos ajudar. Eles não julgam que não sabemos algo, simplesmente nos ensinam com amor”, completa.

 

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O aluno Luan Henrique de Oliveira e a participante do projeto, Maria da Piedade Silva

Robótica pedagógica

Outro projeto que busca aproximar jovens de tecnologias, e que também os auxilia na descoberta do potencial criativo, explorando seus conhecimentos e habilidades específicos, é o Robótica Educacional: desafios e aprendizado. Em volta de uma mesa cheia de sensores e conectores, jovens de 12 a 17 anos analisam qual a melhor forma de cumprir uma missão específica com um robô. Parece brincadeira, e é – mas ela acontece de uma forma diferente da qual estamos acostumados: para executar estas tarefas, os alunos têm que utilizar fundamentos matemáticos, físicos e eletrônicos, e abusar do raciocínio lógico.

“A robótica educativa tem se firmado cada vez mais nas escolas como um método de aprendizagem emergente. Sua prática prevê a abordagem de temas considerados complexos, mas de uma forma criativa, lúdica e motivadora. Além disso, trabalha o desenvolvimento das relações interpessoais, do raciocínio lógico, da melhoria das capacidades cognitivas e da ampliação dos conhecimentos técnicos”, afirma o coordenador do projeto, professor Fábio Martins.

Para o desenvolvimento da atividade, são utilizados kits Lego Mindstorm NXT, compostos por blocos de montagem; peças móveis como engrenagens, roldanas, eixos e rodas, por diferentes sensores; e pelo módulo principal, que é um computador. Ao programar os dispositivos construídos, os alunos percorrem diversas etapas que possibilitam o desenvolvimento do pensamento criativo, do pensamento sistemático para a resolução de problemas, da escrita e do raciocínio lógico.

O aluno do Curso de Sistemas de Informação Gabriel Felipe Silva, de 20 anos, conta que aprende e ensina na mesma proporção. Segundo ele, os alunos vivenciam diversos desafios reais em casa, com suas famílias, e, quando são trazidos para as aulas de robótica, aprendem a como lidar também com as dificuldades. “Aqui, aprendem a solucionar desafios robóticos. Acredito que embora as oficinas sejam um momento em que eles se desligam do mundo fora da sala de aula, os jovens saem da instituição dispostos a resolver melhor os seus problemas pessoais”, afirma.

Alexanderson Ribeiro, de 16 anos, morador do bairro Marimbá, em Betim, é estudante do 2º ano do ensino médio e relata a experiência com o projeto. “Quando vi a oportunidade única de aprender sobre algo novo, fiquei muito interessado. Durante as aulas, executávamos tarefas com os robôs. Algumas eram mais complicadas, mas os nossos professores nos mostravam que não eram impossíveis e nos auxiliavam com paciência e com calma, estimulando nosso raciocínio e criatividade”.

O projeto, considerado, extraedital, foi viabilizado a partir de uma parceria entre a PUC Minas, a entidade Missão Ramacrisna e o Rotary. Essa cooperação culminou na disponibilização de cerca de US$20 mil para a execução do projeto na Missão Ramacrisna. Há 57 anos, a instituição desenvolve projetos culturais, educacionais, profissionalizantes, de aprendizagem, entre outros, voltados para comunidades em situação de vulnerabilidade social de Betim e de dez cidades do entorno.

 

Texto
Lorena Scafutto
Fotos
Raphael Calixto
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