Tecnologia Dois em um
Aluno da pós-graduação em Gestão de Resíduos Sólidos desenvolve sistema híbrido, que alia aquecimento solar à microgeração de energia
Mais que encarar o meio ambiente com absoluto respeito, o investimento em eficiência energética tem se tornado, cada vez mais, uma opção econômica estratégica. Buscando aliar a sustentabilidade à economia dentro das casas das famílias brasileiras, Victor Hernane Dias de Brito, aluno da pós-graduação em Gestão de Resíduos Sólidos da Universidade, desenvolveu um sistema capaz de gerar energia elétrica e solar concomitantemente.
De acordo com o último relatório anual sobre evolução das energias renováveis, publicado pela Agência Internacional de Energia (AIE), a projeção mundial de uso dessas energias deve crescer ao longo dos próximos anos, e, em 2021, representarão 28% da produção de eletricidade mundial, contra 23% no final de 2015. Esses dados, como ressalta Victor Hernane, também serviram de estímulo para o desenvolvimento de seu projeto. A ideia de que a eficiência energética possa desempenhar um papel fundamental na redução de emissões relacionadas à energia, somada aos múltiplos benefícios para a economia e saúde pública, faz com que os países invistam cada vez mais em pesquisas que buscam energia verde, observa.
Destes estímulos, nasceu o sistema híbrido, capaz de gerar energia elétrica e solar a partir de um único produto. Além da multifuncionalidade, outro atrativo é o preço no qual o sistema pode chegar às casas. Para o primeiro protótipo, Victor optou por utilizar placas termovoltaicas, que são mais baratas que as de silício, comumente utilizadas no mercado. Inicialmente, as placas possuíam dois geradores cada um com 7 volts. O produto geraria, até então, 200 litros de água e 60 kwh por mês, destaca Victor.
O primeiro protótipo, entretanto, não suportou o sistema e Victor percebeu a necessidade de adquirir um equipamento importado e mais resistente. Desta forma, o sistema utilizaria tubos de isolamento a vácuo em vez das placas termovoltaicas. Decidi oferecer o produto a uma empresa que já trabalha com energia solar no Brasil e que já tivesse a facilidade de importação, afirma Victor.
O aluno apresentou a proposta à empresa Brassolar que, agora, está investindo no sistema híbrido. Com o investimento, o produto final vai contar com aquecimento solar com tecnologia de isolamento a vácuo e poderá gerar, no mínimo, três vezes mais energia que o primeiro modelo. O novo protótipo está passando por testes, e, enquanto isso, a certificação do Inmetro dos produtos da empresa está em processo. Após a conclusão deste procedimento, poderemos saber valores reais de geração de energia elétrica e solar, explica o diretor da Brassolar Sávio Franca.
O sistema híbrido
O produto é composto, basicamente, por um sistema de aquecimento com isolamento térmico a vácuo, um minigerador termovoltaico e um tanque térmico. Desta forma, os coletores solares captam a luz do sol e a concentra em uma câmara térmica. Para obter o outro produto final ao qual o sistema se propõe, um compartimento dos tubos concilia a água fria já existente na casa com a anteriormente aquecida. Esse encontro de diferentes temperaturas produz tensão, que gera a energia elétrica. Explicando superficialmente, é este o caminho da microgeração de energia aliada ao aquecimento de água. Outro resultado deste sistema é, ainda, a conta de água e também de luz mais baratas e, inclusive, de maneira sustentável, afirma Victor Hernane.
O projeto do aluno foi aprovado pelo edital da Incubadora de Desenvolvimento Econômico com Inovação Ambiental e Social (Ideias), um instrumento PUC Minas de fomento, desenvolvimento e integração de programas. De acordo com o coordenador da incubadora, professor Osvaldo Mauricio, o produto tem grande potencial. É inovadora a possibilidade de unificar em somente um sistema a geração de energia solar e elétrica. O baixo custo de um único produto que engloba dois sistemas diferentes, que precisariam de instalações e operacionalidades individuais também é atrativo, afirma o docente. Ainda de acordo com o professor, a inovação alia sustentabilidade à economia de custos e pode aumentar a participação de energias renováveis na matriz energética global. Este é, inclusive, um dos 17 objetivos da agenda 2030 documento estabelecido pela ONU, que corresponde a um conjunto de ações e diretrizes que visam ao desenvolvimento sustentável, destaca.
On-grid e off-grid
De acordo com Victor, após a consolidação do sistema e instalação das placas, ele passará por análise para atender ao armazenamento e à distribuição On-grid mecanismo conectado à distribuidora de rede elétrica e que funciona da seguinte forma: caso haja excedente de energia gerada pela luz solar, a rede elétrica capta este valor remanescente, armazena e desconta na conta de energia. Já o sistema Off-grid, também conhecido por sistemas isolados, não é conectado à rede elétrica. Desta forma, a energia produzida é armazenada em baterias e não na rede elétrica, e garante a geração de energia em períodos sem sol. Não verificamos nenhum empecilho para que seja aderido ao On-grid, mas o produto precisa, por protocolo, passar por uma inspeção do Inmetro. E, a partir disso, o usuário poderá escolher o que é melhor para sua residência, afirma o aluno.
Tipos de placas
- Solar térmica
Produz aquecimento da água por meio dos raios solares - Fotovoltaica
Conversão da energia solar em energia elétrica através de células fotovoltaicas. Não produz aquecimento de água. - Híbridas
Proposta de Victor Hernane, que alia aquecimento solar convencional à geração de energia elétrica.