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Energia: a diversificação necessária

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Fontes alternativas na matriz energética têm papel importante em momento de crise de suprimento elétrico

"Apesar do forte crescimento que a inserção de sistemas fotovoltaicos terá nos próximos anos, a principal barreira ainda é o custo elevado deles, causado pela carência de fabricantes nacionais desses equipamentos"

Antonia Sônia Alves Cardoso Diniz
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O Brasil encontra-se, atualmente, frente a um cenário de grandes desafios, porém, muito favorável à utilização em larga escala da eficiência energética e da geração distribuída com fontes renováveis complementares (solar, eólica, biomassa e PCHs – pequenas centrais hidrelétricas), dispondo de um grande potencial a ser explorado, que pode contribuir amplamente, neste momento, na redução do risco de racionamento e consequente redução do custo de geração. As políticas de estímulo à geração descentralizada de energia elétrica promovem uma crescente participação de fontes alternativas na matriz energética nacional e, nesse contexto, a energia solar terá certamente um papel importante a desempenhar.

A experiência do Brasil com a crise de suprimento elétrico no biênio 2001-2002 trouxe lições importantes quanto à necessidade de diversificação da oferta de energia elétrica. O modelo do setor elétrico vigente foi implementado no biênio 2003-2004, tendo sido criado baseado em três pilares: segurança no abastecimento, modicidade tarifária e universalização do atendimento.

Devido às condições climáticas que levaram à não recuperação dos reservatórios no início dos anos 2000, fato que está se repetindo atualmente, houve a necessidade da primeira grande e profunda mudança no setor elétrico brasileiro, com bases no novo modelo, para garantir a segurança no abastecimento – diversificação das fontes de geração, que teve como consequência a transformação da geração elétrica com base hidráulica, para um sistema hidrotérmico, que utiliza também fontes não renováveis, tais como derivados de petróleo, gás natural e carvão mineral, além da biomassa e co-geração. No entanto, não podem ser ignorados os impactos ambientais dos insumos das termelétricas, com o consequente aumento do nível das emissões de gás carbônico (CO2) do setor elétrico brasileiro.

Outra opção para expansão em usinas de base são as usinas nucleares. Atualmente, o Brasil está construindo Angra 3. Apesar de menos poluente do ponto de vista da emissão de gases de efeito estufa, a energia nuclear traz outros problemas, como a destinação a ser dada aos resíduos radioativos e o temor de acidentes pela população.

A segunda mudança importante para aumentar a segurança energética foi a inserção da geração distribuída (conectada à rede elétrica de distribuição e próxima à carga, com até 30 MW) com fontes energéticas complementares, uma vez que as termoelétricas, por si só, não são capazes de suprir as necessidades do sistema elétrico em situações adversas da natureza, tais como carência de chuvas, quando as hidroelétricas podem estar com os reservatórios com níveis de água baixos.

Além disso, o Programa Luz para Todos possibilitou o acesso à eletricidade desde 2005, de aproximadamente 15 milhões de pessoas, alcançando a universalização do atendimento em quase todo o território nacional, exceto a região Norte do Brasil, que, devido às características geográficas, exige soluções diferenciadas do resto do País.

O Plano Decenal de Expansão 2022 do Ministério de Minas e Energia, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética, estima que entre 2012 e 2022 o Brasil necessitará de um acréscimo de cerca de 40 GW de capacidade instalada. Enquanto isso, o referido plano prevê que até 2022 a capacidade instalada do País terá um acréscimo de 63,5 GW. Portanto, os empreendimentos já planejados garantiriam o crescimento da demanda.

Como comprovação da diversificação das fontes de geração, foram viabilizados, recentemente, diversos empreendimentos, a partir da realização dos leilões de energia, sendo 43% de hidrelétricas, 40% de térmicas, 12% de eólicas, 5% de biomassa e 14.870km de linhas de transmissão. Foram realizados 14 leilões de energia nova, dois leilões de fontes alternativas, quatro leilões de energia de reserva, além dos leilões das hidrelétricas de Jirau, Santo Antônio e Belo Monte.

Outra alternativa viável é a utilização de sistemas fotovoltaicos conectados à rede elétrica. Atualmente, já existe mais de 120GW instalados no mundo, sendo 40GW somente na Alemanha. No Brasil, a inserção já possui futuro próximo promissor, comprovado no 6° Leilão de Energia de Reserva, realizado pela Aneel no dia 31 de outubro de 2014, que contratou 1,65 GW em novos projetos de usinas eólica e solar, dos quais 889,7 MW correspondem a usinas solares com sistemas fotovoltaicos conectados à rede elétrica, com o estabelecimento do preço médio final de R$ 215,12/MWh (CCEE, 2014). Apesar do forte crescimento que a inserção de sistemas fotovoltaicos terá nos próximos anos, a principal barreira ainda é o custo elevado deles, causado pela carência de fabricantes nacionais desses equipamentos.

Apesar de todas as iniciativas do modelo do setor elétrico implantadas a partir de 2003-2004, atualmente o País está novamente vivendo um momento crítico. As chuvas atuais são insuficientes para encher os reservatórios das hidrelétricas existentes, aumentando significativamente o nível de risco de racionamento em 2015, apesar das termelétricas estarem funcionando continuamente. Como as fontes das termoelétricas determinam o custo maior de geração, é quase certo que a bandeira tarifária elétrica será vermelha, durante todo o ano de 2015, com previsão de 30% de reajuste médio das tarifas de energia elétrica, para pagar todos os custos do setor.

Texto
Antonia Sônia Alves Cardoso Diniz
Coordenadora do Grupo de Estudos em Energia (Green) e doutora em Engenharia e Ciência dos Materiais pela University of Liverpool, da Inglaterra
Ilustração
Carlos Fonseca
Foto
Marcos Figueiredo
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