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Engenharia de Software Educação para a tecnologia

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A coordenadora do projeto, professora Soraia Lúcia da Silva, e o aluno do Curso de Engenharia de Software Vinicius George dos Santos defendem que a programação seja ensinada para as crianças desde cedo

Curso realiza oficinas de introdução à programação e ao pensamento computacional para crianças de 6 a 9 anos

Nos dias atuais, o avanço tecnológico permeia todos os aspectos da sociedade. Celulares, tablets e computadores fazem parte do cotidiano de qualquer pessoa, principalmente das crianças. Dados da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2019, divulgada em junho de 2020, constatam que 89% da população de 9 a 17 anos é usuária de Internet no Brasil, o que equivale a 24,3 milhões de crianças e adolescentes conectados, e tudo indica que esse contato com recursos tecnológicos está começando cada vez mais cedo.

O processo de ensino-aprendizagem muda conforme a evolução da sociedade e não se pode ignorar o avanço em que se encontra a tecnologia digital. Com o intuito de capacitar tecnicamente a próxima geração, o projeto de extensão Preparação de alunos para o ambiente de programação educacional, do Curso de Engenharia de Software na PUC Minas Praça da Liberdade, está ministrando, desde 2019, oficinas de introdução à programação e ao pensamento computacional para crianças de 6 a 9 anos da Escola Estadual Bueno Brandão, localizada na região da Savassi, em Belo Horizonte.

De acordo com a coordenadora do projeto, professora Soraia Lúcia da Silva, a iniciativa na escola começou com a empresa Avenue Code e o projeto da Unidade Praça da Liberdade entrou para ajudar a suprir a demanda que surgia na escola. “A empresa atuava na parte da manhã, e os alunos do turno da tarde ficavam à deriva. Diante disso, a coordenadora do Curso de Engenharia de Software, professora Maria Augusta Vieira Nelson, queria ajudar de alguma forma, então pensou em fazer essa parceria e entramos para somar”, conta Soraia.

A iniciativa, que, desde então, é desenvolvida tanto nos turnos da manhã quanto da tarde, realiza atividades no laboratório de informática da escola, adequadas para cada idade. Soraia explica que o projeto usa um ambiente de programação educacional chamado Code.org, organização sem fins lucrativos que tem o objetivo de incentivar o ensino de ciência da computação, para que alunos possam ter a oportunidade de aprender programação de computadores. “Utilizamos a programação pareada, técnica de desenvolvimento de software em que dois programadores trabalham juntos em uma estação de trabalho, mas os alunos não mexem literalmente com códigos, e, sim, utilizam a linguagem de programação visual de fácil compreensão e assimilação”, explica a professora.

Desta forma, os alunos aprendem a programação de forma lúdica, desenvolvendo atividades de programação por meio da manipulação de elementos do programa em forma gráfica e estimulando a criatividade, algo bem semelhante a um quebra-cabeça, formando conexões entre as peças. “A complexidade do desafio aumenta ao longo das fases, em que serão necessários não somente comandos básicos, como também estruturas de repetição e condicionais para alcançar o objetivo. Trabalhamos essa questão lógica de maneira mais divertida, porque se atuarmos com o ensino mais árduo da linguagem, não atingimos o nosso objetivo”, diz a coordenadora do projeto.

As atividades, além de ensinar a programação, desenvolvem diversas habilidades nas crianças, como a atenção, coordenação motora, memória visual e espacial, organização, cooperação, desenvolvimento do raciocínio lógico, leitura e escrita. De acordo com Soraia, todos esses desenvolvimentos são avaliados pela plataforma, que, ao final de cada atividade, emite um relatório com os resultados do aluno. “Com o feedback da plataforma nós podemos ter noção do que o aluno realmente aprendeu e do que ele precisa trabalhar mais. Podemos voltar em alguma atividade que não foi bem desenvolvida e assimilada pelos alunos ou continuar avançando”, explica.

Stefany Mozeli Biaginis Alves, oito anos, estuda na Escola Estadual Bueno Brandão e participou das aulas de programação. “Eu gostava bastante dos professores e das aulas, gostava muito dos joguinhos e aprendi muitas coisas novas, como soma e subtração”, diz a aluna.

Interdisciplinaridade trouxe ganhos

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Helen Camila: “Realizar essas oficinas foi uma experiência única, em que pudemos passar um pouco do nosso conhecimento de ferramentas, que usamos no dia a dia, para outras pessoas”

A vice-diretora da Escola Estadual Bueno Brandão, professora Keila Magali Clementino Mozeli, conta que todas as atividades na aula de programação são realizadas em parceria com os professores da escola e que a grade curricular é montada para que todas as disciplinas sejam contempladas. “Alguns professores traziam para a aula de informática algumas atividades para serem desenvolvidas dentro da plataforma. Como, por exemplo, quando os alunos da PUC Minas trabalharam com as crianças fatos fundamentais. O professor conseguiu perceber que ao invés de ficar pedindo para os alunos decorarem os fatos, os jogos que eram trabalhados dentro da aula de informática ajudaram os alunos no processo de memorização dos fatos fundamentais. Isso foi um ganho muito grande para os professores e maior ainda para as crianças”, conta Keila.

A vice-diretora ainda comenta que as aulas no laboratório conseguiram mobilizar vários professores que eram resistentes à tecnologia, fazendo com que eles descobrissem outros recursos para poder ensinar o conteúdo. “Os professores, estando junto com os alunos no laboratório, perceberam que, hoje em dia, eles não podem ficar desatualizados. Só quadro e giz não irão mais resolver, há outros recursos dentro da informática que podem ajudar na sala de aula”, diz Keila.

Em 2020, por causa da pandemia do coronavírus, as aulas no laboratório tiveram que ser suspensas, mas o projeto de extensão continuou com a parceria com a escola e hoje disponibiliza oficinas virtuais, através do YouTube, juntamente com a disciplina extensionista do Curso de Engenharia de Software, Introdução à Computação. As oficinas ensinam a trabalhar em ferramentas da Google, como o Google Classroom, plataforma usada pelo governo de Minas Gerais para as aulas remotas. “Os professores gostaram muito das oficinas das plataformas. Decidimos passar para eles primeiro, pois precisamos estimulá-los, até para depois poder trabalhar com os alunos”, explica a vice-diretora.

Helen Camila de Oliveira Andrade, aluna do Curso de Engenharia de Software da Unidade, fez parte da disciplina de Introdução à Computação e conta que, para fazer as oficinas, a professora Soraia dividiu a turma em grupos de cinco pessoas, em que cada integrante poderia escolher uma plataforma sobre a qual falar. “Realizar essas oficinas foi uma experiência única, em que pudemos passar um pouco do nosso conhecimento de ferramentas, que usamos no dia a dia, para outras pessoas. Estamos cada vez mais dependentes da tecnologia, e tais ferramentas facilitam muito na organização e aprendizado dentro e fora de sala de aula”, diz a aluna.

Programação nas escolas

Motivado por sua participação no projeto e no ensino da programação para crianças, Vinicius George dos Santos, aluno do Curso de Engenharia de Software, em conjunto com a professora Soraia, desenvolveu o artigo Educação Tecnológica: O ensino da programação para crianças do ensino fundamental através do ambiente Code.org, que relata a sua experiência ao lecionar as oficinas de introdução à programação na Escola Estadual Bueno Brandão. “A principal ideia para fazer o artigo é que ele pudesse ser um documento para orientar professores, pesquisadores e estudantes que desejam aprimorar a programação educacional”, explica Vinicius.

Um dos principais pontos que o artigo aborda é o ensino da programação na educação básica, recomendando para que escolas tenham uma estrutura curricular que contemple o ensino dessa disciplina. Vinicius explica que defender a programação nas escolas não tem a intenção de formar programadores profissionais, mas fazer com que o aluno tenha domínio da tecnologia para utilizá-la ao seu favor. “Programar é criar, é ensinar um dispositivo eletrônico, computador, celular a fazer algo novo. Para atuar neste mundo tecnológico e mais conectado, é imprescindível desenvolver fluência em tecnologia. Tornar-se capaz de usufruir dos recursos tecnológicos disponíveis para ampliar nossas possibilidades de produção, criação e comunicação”, diz o aluno.

Professora Soraia também defende que a programação seja ensinada para as crianças desde cedo e acrescenta que capacitá-las agora é uma vantagem para o seu futuro. “Quantas coisas interessantes a gente vê surgindo nessa pandemia? Temos que ter esse novo olhar, o aluno que está fora dessa, está fora do mundo, pois entender a programação será uma habilidade tão importante quanto aprender a ler e escrever”, comenta a professora.

Por estar dentro de uma escola pública, a professora Keila diz que a tecnologia e a informática está longe de ser a realidade para alguns alunos, entretanto, o ensino da programação na escola está abrindo novos horizontes. “Ensinar informática na escola, agora, é uma necessidade latente. A tecnologia digital veio para ficar, nós vamos ter que nos adaptar e tirar disso o melhor proveito possível. A escola tem que estar aberta a novas tecnologias, a novas ferramentas e isso é um diferencial dentro do nosso ensino. Com a experiência das oficinas de programação, vejo que os pais estão valorizando mais, veem que o filho está se desenvolvendo e isso foi um benefício muito grande para a Bueno Brandão. A nossa parceria com a PUC Minas veio só para agregar valores”, diz a vice-diretora.

Texto
Júlia Mascarenhas
Fotos
1Arquivo Pessoal
2Raphael Calixto
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