Pesquisa Espaço privilegiado da ciência
Ambiente interdisciplinar, Museu de Ciências Naturais é destaque na paleontologia
“É de se destacar, muito especialmente, a grande quantidade de pesquisadores do Brasil e do exterior que fazem uso das nossas coleções para seus trabalhos”
Professor Cástor Cartelle, idealizador, fundador e curador da coleção de PaleontologiaUma das principais coleções de Paleontologia das Américas, descoberta de novas espécies de animais pelos seus pesquisadores, produção de réplicas de altíssima qualidade e realização de diversas atividades educativas. Ao longo dos seus 35 anos, o Museu de Ciências Naturais PUC Minas vem se consolidando, a cada ano, como um espaço interdisciplinar onde ensino, pesquisa e extensão envolvem públicos diversificados em torno da ciência. Não apenas um depositário de coleções científicas de referência, que incluem mais de 130 mil espécies já catalogadas, o Museu é também um local onde são realizadas pesquisas constantes que enriquecem ainda mais o acervo, contando com pesquisadores de renome, como o professor Cástor Cartelle Guerra, idealizador e um dos fundadores daquele espaço e curador da coleção de Paleontologia.
O pesquisador já descreveu dez novas espécies de animais extintos e coordenou a equipe do Museu que encontrou em uma caverna inundada da Chapada Diamantina (BA) o esqueleto de uma preguiça terrestre de três metros de comprimento, que viveu há 12 mil anos. O animal, cujo crânio está exposto no Museu, recebeu a denominação de Ahytherium aureum (preguiça de ouro), em homenagem aos 50 anos da PUC Minas, comemorados em 2008. É o primeiro esqueleto completo de uma preguiça do Pleistoceno (entre 2,5 milhões e 11,7 mil anos atrás), da família dos Megaloniquídeos (animais com grandes garras), encontrado no Brasil. Entre as descobertas realizadas pela equipe de Paleontologia, destacam-se também três espécies de macacos extintos. Está em fase de publicação artigo que descreve nova espécie de preguiça extinta, cuja denominação homenageia funcionários e professores do Museu.
Vários outros pesquisadores também enriquecem o acervo com suas descobertas e publicações: Cláudia Guimarães (mamíferos), Gilmar Bastos (peixes), Henrique Paprocki (invertebrados), Marcelo Vasconcelos (aves), Luciana Barreto (répteis e anfíbios), Maria de Fátima Starling (botânica) e Meire Pena (moluscos).
Para o coordenador do Museu, professor Bonifácio Teixeira, todo o envolvimento da equipe em torno de novos conhecimentos e descobertas transforma o local em uma grande vitrine. “O entusiasmo e a dedicação dos pesquisadores fazem com que tenhamos cada vez mais credibilidade e aceitação perante os demais museus do Brasil”, assinala. Resultado disso são as diversas pesquisas realizadas no Museu, publicadas nas principais revistas científicas do país e do exterior, e as numerosas palestras que os curadores das coleções realizam em congressos e em colégios.
Segundo o professor Cástor Cartelle, apesar de o Museu da Universidade ser um dos mais jovens do país, possui uma qualidade e quantidade de espécies que outras instituições levam muitos mais anos para atingir: “A nossa coleção de aves, por exemplo, é notável. Eu diria que é a segunda maior do Brasil em esqueletos. A de invertebrados está crescendo cada dia mais. A de répteis e anfíbios é uma das principais do Brasil, hoje”.
Muitas dessas conquistas são atribuídas por ele ao trabalho conjunto realizado entre professor e aluno. “Na coleção de Paleontologia, por exemplo, mais de 130 alunos ao longo de 25 anos me acompanharam nas escavações, algumas com 30 dias de duração. Eu não teria feito nada sem eles. Acho que pouquíssimos museus no mundo têm a peculiaridade desse trabalho de colaboração entre professor e aluno. Também é de se destacar, muito especialmente, a grande quantidade de pesquisadores do Brasil e do exterior que fazem uso das nossas coleções para seus trabalhos”, afirma Cartelle.
Educação não formal
Espaço de educação não formal, o Museu recebe durante todo o ano alunos de escolas públicas e particulares e públicos variados para visitas guiadas. Duas vezes ao ano, são realizadas as Férias no Museu, que atraem elevado público, sobretudo crianças e adolescentes, que participam de atividades educativas e recreativas como pintura e confecção de réplicas, trilha na mata, escavação paleontológica, oficinas de plantio de mudas, experimentos de física e matemática, jogos e brincadeiras, entre outras. As atividades são conduzidas pelos monitores, que são alunos de diversos cursos da Universidade.
Também é realizado no local, em parceria com a comunidade acadêmica, o projeto Tenda da Leitura, de incentivo à leitura infantil, com intensa participação da comunidade, abrangendo troca de livros, conversa com autores e atividades pedagógicas. Outro evento regular é a comemoração do Dia Mundial dos Animais, em outubro, que envolve lojas do ramo, associações de proteção dos animais, comunidade local, alunos e professores do Curso de Veterinária. A programação consta de benção e adoção de animais, concursos e consultoria. Aos domingos, são realizadas no auditório audições da série Concertos Dominicais Peter Lund, com acesso livre. O Museu participa ainda da programação do Primavera dos Museus, do Ministério da Cultura, e do Noturno de Museus, da Prefeitura de Belo Horizonte.
Coleções relevantes e diversificadas
Além das coleções de botânica, fósseis, materiais arqueológicos, animais atuais da fauna brasileira — aves, répteis, anfíbios, peixes e invertebrados, estão expostos no Museu de Ciências Naturais esqueletos de dinossauros de várias épocas, répteis voadores, diversos crocodilos e a maior ave predadora que já viveu no Brasil. Na exposição, além desses, também estão mamíferos e peixes extintos, assim como variadas espécies aquáticas.
Um grande espaço no Museu é dedicado, ainda, ao dinamarquês Peter W. Lund, considerado o pai da Paleontologia brasileira, que explorou diversas cavernas calcárias no Vale do Rio das Velhas e desenvolveu importantes trabalhos. Os destaques nessa exposição são a réplica de Luzia, um dos mais antigos registros humanos já encontrados nas Américas, datado de aproximadamente 11 mil anos, desenhos originais de Lund, cedidos pela família, e a cruz de madeira que, em 1862, ele colocou no local onde seria enterrado. O Museu é o marco zero da Rota Lund, roteiro turístico formulado pelo governo do Estado, que percorre os caminhos do paleontólogo.
Alguns dos animais que morreram no Jardim Zoológico de Belo Horizonte também estão expostos no Museu, como os populares elefantes Joca e Margareth e os gorilas Idi Amin e Cleópatra. Também são recebidas espécies vítimas de atropelamento e oriundas de trabalhos de consultoria profissional.
O Museu possui um dos mais bem equipados laboratórios de Bioacústica do Brasil, com mais de 36 mil horas de gravação em paisagens do Cerrado, Mata Atlântica e Campo Rupestre em Minas Gerais, com vocalizações identificadas de mais de 300 espécies de aves, anfíbios e mamíferos.