Ao tempo
Dante Milano
Tempo, vais para trás ou para diante?
O passado carrega a minha vida
Para trás e eu de mim fiquei distante,
Ou existir é uma contínua ida
E eu me persigo nunca me alcançando?
A hora da despedida é a da partida
A um tempo aproximando e distanciando…
Sem saber de onde vens e aonde irás,
Andando andando andando andando andando
Tempo, vais para diante ou para trás?
Publicado no livro Poesias (1948). Poema integrante da série Sonetos e Fragmentos.
In: MILANO, Dante. Poesias. Pref. Ivan Junqueira. Petrópolis: Ed. Firmo. 1994. P.41. (Pedra mágica, 1)
O meu tempo
Arnaldo Antunes
O meu tempo não é o seu tempo.
O meu tempo é só meu.
O seu tempo é seu e de qualquer pessoa, até eu.
O seu tempo é o tempo que voa.
O meu tempo só vai aonde eu vou.
O seu tempo está fora, regendo.
O meu dentro, sem lua e sem sol.
O seu tempo comanda os eventos.
O seu tempo é o tempo, o meu sou.
O seu tempo é só um para todos,
O meu tempo é mais um entre muitos.
O seu tempo se mede em minutos,
O meu muda e se perde entre os outros.
O meu tempo faz parte de mim, não do que eu sigo.
O meu tempo acabará comigo no meu fim.
O tempo envelhece depressa
Antonio Tabucchi
Perguntei-lhe sobre o tempo, quando éramos tão jovens, ingênuos, impetuosos, tontos, despreparados.
Algo disso restou, menos a juventude – me respondeu.
Da natureza das coisas
Lucrécio (96/55 a. C.)
Nenhum olhar, por mais agudo e atento, pode perceber o que vão a pouco e pouco juntando a cada ser a natureza e os dias, nem pode distinguir o que perdem a cada instante as coisas que envelhecem pelo tempo ou de fraqueza, ou as rochas que, mergulhadas no oceano, são roídas pelo úmido sal.
Tempo: essa usina de amnésia
Guillermo Cabrera Infante