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Saúde Quando o riso é um remédio

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Projeto PUC dá Alegria leva diversão a hospitais da RMBH

Há dois anos, estudantes do Curso de Medicina do campus Betim levam doses de alegria e diversão para hospitais, com o projeto PUC dá Alegria. A iniciativa faz parte do plano políticopedagógico do curso, e a demanda veio dos próprios alunos. “Inspirados por grupos já existentes, em 2014, os estudantes participaram de um curso com palhaços de hospital, em que aprenderam técnicas de mágica, teatro, expressão corporal e, claro, de palhaçadas”, conta o professor Eduardo Carlos Tavares, pediatra que coordena os 22 estudantes que atuam nesse projeto.

Eduardo Tavares leciona desde 1975, mas a mágica está presente em sua vida desde cedo. Ele lembra que, quando criança, seu pai o presenteou com o livro Mágicas, Truques e Passatempos, que ele ainda guarda. De lá para cá, o interesse pelo lúdico ficou cada vez maior e, ao tornar-se pediatra, conseguiu, novamente, usar a mágica a seu favor. “O riso promove a liberação de endorfina, neuro-hormônio que contribui para melhoria do bem-estar geral, fortalecendo as defesas orgânicas do corpo, melhorando a circulação e a pressão sanguínea”, explica.

O objetivo do projeto é amenizar os traumas causados pela condição de internado, uma vez que o ambiente hospitalar, por vezes hostil, por si só, já causa estranhamento e, em muitos casos, obriga o doente e sua família a mudarem suas vidas. Em longa permanência, as crianças param de frequentar a escola, perdem amigos e precisam criar novos vínculos. “Recuperar a saúde emocional do paciente e seus familiares, os laços afetivos e a alegria de viver é fundamental para qualquer tratamento, independentemente de quanto possa durar”, salienta o professor.

Por abranger não apenas o paciente, mas todos a sua volta, o projeto também acontece em ambulatórios, asilos, creches, escolas e outros locais públicos, provando que o riso é um santo remédio. “Quando entramos em ação, outras pessoas se aproximam e acabam entrando na brincadeira”, conta Frederico Luiz Pinto Coelho, do 4º período, conhecido como doutor Badulaque. “Isso mostra outro lado da medicina. Não apenas de atender, mas de entender o paciente e levar alegria e conforto também para a família e os que estão ao redor”, justifica Maria Tereza Batista Miranda, a doutora Tererê, que está no 5º período.

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Na foto com as alunas, o professor e pediatra Eduardo Carlos Tavares, que conhece técnicas de mágica, coordena o projeto

Projeto pedagógico do Curso de Medicina

Já existem vários trabalhos científicos baseados em evidências de que este tipo de ação não só melhora o emocional, mas ajuda também na própria terapêutica do paciente. Antigamente, o médico visitava a família e o atendimento era mais domiciliar do que hospitalar. Com a evolução científica e o crescimento da abrangência da medicina, algumas mudanças estruturais da profissão foram acontecendo. Os médicos deixaram de ser generalistas e cada vez mais as especializações foram se diversificando e ramificando. Na segunda metade do século 20, passou-se a dar mais ênfase à hospitalização, ou seja, o cuidado era voltado ao paciente internado e valorizava-se pouco o atendimento ambulatorial ou domiciliar. Atualmente, já é possível operar pacientes por vídeo e a distância, com a telemedicina e a medicina robotizada.

Para o professor Eduardo Tavares, a tecnologia é fundamental para os avanços dos procedimentos de prevenção e tratamento de doenças, mas tanto o médico quanto os demais profissionais de saúde devem, além disso, preocupar-se com qualidade de vida de seus pacientes e familiares. “O cuidado holístico, sistêmico e, principalmente, humanista não só é uma tendência, mas uma necessidade, e a própria ciência já está provando que este tipo de atendimento funciona”, explica o médico que comanda o mesmo tipo de projeto em outras instituições nas quais leciona. Ele completa: “O PUC dá Alegria está em consonância com o projeto pedagógico do curso, pois visa formar médicos com grande conhecimento tecnológico, mas também preocupados com a humanização, com olhar não somente para os aspectos físicos e biológicos, mas também emocionais, psicológicos e culturais do paciente”.

Brincadeira levada a sério

No início da década de 1990, a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou documento estabelecendo a importância dos cuidados paliativos em tratamentos médicos, que incluem a identificação e alívio de sintomas de dores físicas, psicológicas, sociais e espirituais, somados aos demais cuidados ativos e integrais, a fim de garantir a qualidade de vida do paciente e de seus familiares. Entretanto, essas ações não devem ser indicadas apenas a pacientes terminais, como explica o professor Eduardo. “Uma criança internada por pneumonia ficará cerca de dez dias no hospital e sua chance de morte é pequena, desde que bem tratada. A estada, porém, pode gerar traumas em sua vida, por isso a importância de brinquedoteca dentro do ambiente hospitalar”, exemplifica.

Dada a importância dos cuidados paliativos dentro dos tratamentos médicos, a palhaçada deve ser levada a sério. Por isso, o compromisso e o respeito ao paciente e seus familiares são fundamentais para o trabalho do palhaço de hospital. “Em cada quarto que chegamos, precisamos estar inteiramente ali. Não podemos pensar na prova, no trabalho ou outras atividades. E não é possível, também, fazer a mesma piada, pois cada paciente é único, traz suas experiências e expectativas”, salienta o estudante Frederico. E é justamente por esta entrega que a improvisação é uma característica marcante do palhaço e nada pode passar ileso ao seu olhar. “Quando coloco meu nariz de palhaço é quando me sinto eu. As pessoas pensam que estou fazendo piada porque estou com nariz, mas é porque tenho coragem de ser eu mesma, sem me preocupar com o que vão pensar”, pontua Brunna Moreira Santos, a doutora Bitoca, do 5º período da graduação. “O nariz de palhaço é a menor máscara que existe”, finaliza o professor.

Saiba mais

Contatos do PUC dá Alegria:
facebook.com/pucdaalegria e pucdaalegria.wordpress.com

Texto
Rafaela Angeli
Fotos
Marcos Figueiredo
Os estudantes Frederico Coelho, como doutor Badulaque, e Maria Tereza Miranda, a doutora Têtererê, levam alegria para crianças em hospitais
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