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A importância da educação libertadora de Paulo Freire
Mais de 40 títulos de Doutor Honoris Causa concedidos por universidades americanas e europeias, Prêmio Unesco da Educação para a Paz, título de professor emérito por diversas universidades europeias, americanas e brasileiras, livros comercializados em oitenta países. Essa é apenas uma pequena amostra da trajetória de Paulo Freire, o mais importante e destacado teórico da história da educação brasileira, falecido há pouco mais de uma década. Em 2018, ele faria 97 anos e vêm sendo prestadas muitas homenagens a ele, sobretudo pelas entidades representativas dos professores e por diversas universidades.
Paulo Reglus Neves Freire nasceu em Recife, no dia 19 de setembro de 1921 e faleceu em São Paulo, em 2 maio de 1997. Foi alfabetizado pela mãe, que o ensinou a ler e a escrever, no chão do quintal da sua casa, usando galhos pequenos de árvore. Filho de um capitão da polícia e de uma dona de casa, começou a trabalhar muito cedo, para ajudar na manutenção da sua família e, devido à Grande Depressão de 1929 – a crise econômica decorrente da queda da Bolsa de Valores de Nova York, que impactou diversos países, inclusive, o Brasil – , passou fome e, em decorrência dessa experiência, teve uma atenção maior aos mais pobres. Talvez seja esse um dos motivo que o levaram a criar um Método de Alfabetização de Adultos. Embora tenha concluído o Curso de Direito, na Universidade de Recife, não exerceu a profissão, preferindo se tornar professor.
O Método de Alfabetização de Adultos criado por Freire foi, inicialmente, “testado” por ele na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte, em 1963, no início de sua trajetória como educador. Esse método, de cunho eminentemente político, parte do pressuposto de que, primeiro, os alfabetizandos deveriam fazer a leitura do mundo, em uma perspectiva crítica da realidade em que estavam inseridos e, só depois, eles seriam iniciados na leitura das letras, utilizando o Método Silábico.
Um pouco mais tarde, em um contexto marcado pelo Golpe de Estado de 1964, Freire demonstrou grande coragem, ao continuar colocando em prática um trabalho vinculado a uma educação libertadora, embasada nos princípios da conscientização política e, em decorrência, foi preso por 27 dias, se asilando depois no Chile. Nesse país, ele escreveu Pedagogia do Oprimido, publicado em 1968, sendo que no Brasil ele somente foi publicado em 1974, quando os denominados Anos de Chumbo começavam a se arrefecer. Esse livro é considerado como sua obra-prima, sendo, há anos, o terceiro livro mais citado, em termos internacionais, no âmbito das Ciências Humanas, segundo pesquisa realizada pela London School of Economics. Além desse livro, Freire é autor de um grande e consistente acervo de obras que vêm formando gerações de educadores e pesquisadores.
E, neste cenário atual, no qual o Estado Democrático de Direito vem sendo desmantelado no país e, consequentemente, os direitos das pessoas, se faz importante relembrar Freire, ressaltando um dos seus posicionamentos: “Sou a favor da luta constante contra o despudor, o autoritarismo, a licenciosidade e qualquer forma de discriminação, de dominação econômica de indivíduos ou de classes sociais”.
Remontando e analisando a grande e fecunda produção de Paulo Freire, pode-se perceber duas importantes influências teóricas que a marcaram. A primeira, se consubstancia no Idealismo, notadamente presente no pensamento católico moderno, traduzido, especialmente, nas Comunidades Eclesiais de Base. A segunda influência está ligada à Teoria de Marx e Engels, nela se destacando o Materialismo Histórico, que, entre outras questões, promove uma relação dialética entre a educação e a sociedade.
E, tendo como premissa as referidas influências, Freire supera e combate a ideologia liberal e conservadora que subjaz a uma prática educacional retrógrada, acrítica, que deve ser substituída por uma prática consistente, filosófica, política e crítica, sem a qual não se alcança o conhecimento real e necessário.
Em síntese, o educador em pauta defende uma educação centrada na priorização de valores que constroem a justiça social e liberta o homem do preconceito e da discriminação. Assim, a educação, enquanto ato político, desconstrói o discurso da neutralidade, difundindo a primazia da ética e da equalização social como pressupostos indispensáveis para a instauração de uma educação e de uma sociedade mais justas, democráticas e igualitárias.
Diante da grandiosidade da sua vida e da sua obra, Freire foi declarado Patrono da Educação Brasileira, em 2012, por ser considerado como o mais importante e destacado teórico da história da educação brasileira.
Contudo, no decorrer de 2017, ocorreu uma tentativa de retirar de Freire esse título, por iniciativa de um grupo ultraconservador, ligado à denominada Escola Sem Partido. Felizmente, devido à ação de políticos progressistas, o Projeto da Escola Sem Partido foi arquivado no Senado, e retirada de pauta a ideia que pretendia tirar de Paulo Freire o merecido título de Patrono da Educação Brasileira, uma homenagem mais do que justa, tanto por sua dignidade como pessoa humana, quanto por sua obra, que extrapola a instância brasileira, sendo reconhecida e aclamada internacionalmente.
A professora Maria Auxiliadora cita o Método de Alfabetização de Adultos criado por Freire, de cunho eminentemente político, que parte do pressuposto de que, primeiro, os alfabetizandos deveriam fazer a leitura do mundo, em uma perspectiva crítica da realidade em que estavam inseridos e, só depois, eles seriam iniciados na leitura das letras, utilizando o Método Silábico