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Educação Compartilhando conhecimento

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Professora Carla Ferretti Santiago: “Todos esses ambientes possibilitam interatividade. O usuário pode colocar suas dúvidas, fazer comentários, sugerir conteúdos”

PUC Ensina oferece reforço escolar para a educação básica e média por meio das redes

Qual a diferença entre o DNA e o RNA? E entre os três tipos de triângulos? O que é o Efeito Estufa? E por que a Lua muda de fase? Todas estas dúvidas poderiam ser elucidadas em uma aula de Biologia, Matemática ou Física. Mas, em um ano pandêmico, as aulas convencionais às quais os estudantes estavam acostumados, com dezenas de alunos e um professor compartilhando o mesmo espaço físico, não são uma opção. A pandemia de Covid-19 alterou o funcionamento de diversos segmentos da sociedade no mundo todo. Com a educação não foi diferente. Do ensino fundamental ao superior, instituições de ensino públicas e privadas suspenderam suas aulas presenciais como uma tentativa de conter a disseminação do vírus. Entretanto, os calendários letivos não foram interrompidos. Com atividades online, os cronogramas seguiram. Assim como exames de rendimento e vestibulares.

Buscando contribuir com o aprendizado desses milhares de estudantes, a PUC Minas criou o PUC Ensina, parceria entre os nove cursos de Licenciatura da Universidade com o intuito de compartilhar na web conteúdos em vídeo para que sirvam de material auxiliar de estudos para estudantes dos ensinos básico e médio. Semanalmente, as videoaulas com temas de Português, Inglês, Matemática, História, Geografia, Ciências Biológicas, Ciências Sociais, Física e Educação Física, além de vídeos com dicas de estudos e orientação profissional produzidos pelos alunos do Curso de Psicologia, chegam a milhares de estudantes, e servem de apoio e incentivo a quem precisa superar as adversidades impostas pela pandemia para continuar os estudos. Toda a produção é de autoria de alunos da graduação sob supervisão e orientação de professores.

O conteúdo é disponibilizado na plataforma do projeto, desenvolvida pelo Instituto de Ciências Exatas e Informática (Icei), e em canal no YouTube. O projeto também possui perfil no Instagram, que é utilizado principalmente para divulgar os conteúdos e estabelecer diálogo com os estudantes. Até o início do mês de abril o canal, que foi criado em agosto de 2020, possuía 376 inscritos e 14.132 visualizações nos 140 vídeos publicados. Já o Instagram contava com 470 inscritos. “Todos esses ambientes possibilitam interatividade. O usuário pode colocar suas dúvidas, fazer comentários, sugerir conteúdos”, explica a professora Carla Ferretti Santiago, diretora do Instituto de Ciências Humanas (ICH) vice-presidente da Comissão de Licenciaturas da Universidade.

Aprendizado também para os futuros professores

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Izabely Fernandes Souza, bolsista e aluna do Curso de Geografia: “O PUC Ensina me permitiu uma troca de experiências e conhecimento com diversos cursos de licenciatura da Universidade”

Não são só os estudantes do ensino básico que se beneficiam nessa experiência. Com o fechamento das escolas, essa foi a alternativa encontrada para os mais de 300 alunos dos cursos de Licenciatura da Universidade cumprirem a disciplina de Estágio Obrigatório. “Nós tínhamos a necessidade de criar estratégias para a formação prática dos nossos alunos da Licenciatura. As nossas práticas são os estágios”, explica Carla, que acredita que o setor educacional não será o mesmo após a pandemia e que essa é uma oportunidade para esses universitários, que são futuros professores, de se prepararem para o contexto de fusão entre educação e tecnologia. “Quantos professores não têm canal no YouTube, podcasts, produzem ou trabalham com jogos? Este ambiente da cultura digital tem sido ocupado também pela educação. Esse projeto também é uma oportunidade para que ele possa atuar como profissional nesses ambientes da cultura digital”, afirma.

Além da participação de todos os alunos matriculados em disciplinas de estágio obrigatório, o projeto conta com quatro bolsistas financiados pelo programa Santander Licenciaturas, responsáveis em auxiliar o professor representante de cada instituto da Comissão na execução das tarefas organizacionais do projeto.

Izabely Fernandes Souza, estudante do 5º período do Curso de Geografia é uma das bolsistas. Ela é responsável pela análise dos vídeos que são postados na plataforma e no canal, auxilia os demais colegas na produção dos materiais, organiza o cronograma de postagens, participa de um projeto de pesquisa diagnóstica sobre a Educação Básica e também está envolvida com o PUC Ensina Criança, uma nova demanda para o PUC Ensina.

Com tantas atividades distintas, a sensação é de construção de repertório e acúmulo de bagagem. “O PUC Ensina me permitiu uma troca de experiências e conhecimento com diversos cursos de licenciatura da Universidade, como também me permitiu conhecer e dialogar com professores e alunos de diversas áreas. Creio que todo esse diálogo me fez crescer e evoluir como ser humano, além de me auxiliar na minha formação como futura professora”, conta a estudante, que acredita que a tecnologia não veio para substituir o modelo tradicional de ensino, mas para complementar.

“Creio que depois desta fase o ensino e as escolas precisarão se renovar e se adequar às novas tecnologias, mas não deixando de lado o contato de professores e alunos, que é essencial para o aprendizado. A educação e a tecnologia podem conversar de diversas maneiras, como no auxílio para explicar melhor alguma matéria e na maior participação e interação dos alunos nas aulas. Venho de um curso que utilizamos muito da tecnologia e vejo o quanto isso pode ajudar no ensino de diversas disciplinas, principalmente na educação básica, tornando as aulas mais interativas e atrativas para os alunos”, opina.

Colaboração para ensino mais acessível

Além de ser um espaço para os futuros professores exercerem suas experiências de estágio, o projeto também cumpre a função social de colaborar para que o ensino seja mais acessível e democrático. “Temos quase cem anos de experiência na área da educação e aí nós começamos a nos perguntar o que os cursos de Licenciatura poderiam oferecer neste contexto da pandemia para tentar diminuir estas desigualdades e estas dificuldades para os alunos da educação básica”, explica Carla.

A desigualdade a qual se refere é a discrepância de acesso a bons conteúdos entre estudantes nas redes pública e privada, por fatores socioeconômicos. “Talvez essa seja a principal razão. Nós começamos a observar um agravamento das nossas desigualdades no campo da educação. Muitos alunos, principalmente das escolas públicas, não têm acesso a uma tecnologia que permita acessar uma plataforma de materiais mais robustos para ensino”, argumenta.

O projeto se preocupou em assistir especialmente os alunos que vão prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em um momento tão conturbado como a pandemia e as consequências que ela acarreta. No caso da educação, o afastamento desses estudantes da escola. “É uma oportunidade para que muitos alunos que estão em condição socioeconômica mais vulnerável rompam esse ciclo da pobreza, esse ciclo da vulnerabilidade”, afirma.

A intenção é expandir o projeto para além das redes. O projeto, que foi aprovado na Pró-Reitoria de Extensão para desenvolvimento este ano, segue com o objetivo de estreitar o relacionamento com as escolas e, para isso, desenvolve uma metodologia de pesquisa. “Nós estamos em colaboração com a Secretaria do Estado de Educação, que aderiu à nossa proposta como uma parceira. Vamos aplicar um questionário aos alunos do Ensino Médio da Rede Pública de Educação de Minas Gerais para ouvir qual é o interesse dos alunos, o que eles gostariam de ver publicado, quais são as suas maiores dificuldades”, conta Carla.

Parceria com Jogos Digitais

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Professor Marcos Arrais: "Uma criança hoje não consegue entender como é que as pessoas se deslocavam anteriormente à existência do GPS”

A plataforma do PUC Ensina foi concebida e desenvolvida pelo professor Marcos Arrais, coordenador do Curso de Jogos Digitais da Unidade Praça da Liberdade, e foi pensada para integrar todas as funcionalidades, como o canal, a rede social e um espaço para enviar dúvidas e sugestões. “Pensando que o público que vai consumir os conteúdos do PUC Ensina é um público essencialmente de mídia móvel, o site foi todo construído para ser responsivo. Do mesmo jeito que ele funciona no computador ele funciona no celular. Então, o jovem não precisa ter um notebook ou ter um computador de torre. Pelo próprio celular ele consegue estudar”, explica Marcos Arrais, que levou cerca de um mês para desenvolver o projeto, e conta que uma das melhorias previstas para a plataforma é a incorporação de grupos de estudos via WhatsApp.

“Atualmente as pessoas consomem tecnologia até mesmo sem perceber. Uma criança hoje não consegue entender como é que as pessoas se deslocavam anteriormente à existência do GPS. E era quase que irreversível que esse movimento também chegasse à educação”, opina o professor, que acredita que a pandemia potencializou a possibilidade de entregar bons conteúdos independentemente da barreira geográfica. Para um cenário pós-pandêmico, ele corrobora com a opinião de Izabely de que presencial e virtual caminharão juntos em prol de uma educação cada vez mais acessível. “Eu acredito que o futuro tem essa hibridização entre o remoto e o presencial”.

Texto
Lívia Arcanjo
Fotos
1Raphael Calixto
2Marcos Figueiredo
3Arquivo Pessoal
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