Diálogos Respeitar a vida, cuidar da natureza
“A grande mudança necessária deve começar com um gesto simples, de cada pessoa, que é
convocada a refletir sobre o seu próprio modo de vida”
Grão-chanceler da PUC Minas Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte
A exploração da natureza, orientada pela lógica do lucro desenfreado, já produz consequências graves. Lugares anteriormente ricos em recursos hídricos estão sofrendo com a falta de água. Outras regiões convivem com a ameaça constante do “desabastecimento”, palavra cada vez mais comum nos noticiários. Há mais de uma década, a Igreja Católica alerta para a necessidade de se unir esforços com o objetivo de preservar a água. Em 2004, a Campanha da Fraternidade, com o tema Fraternidade e Água, buscou ressaltar que a água e a vida são indissociáveis. Por isso, cada pessoa deveria assumir a obrigação de preservar esse bem precioso. No atual contexto, respeitar a natureza, buscar caminhos para o uso racional de seus recursos, não é simplesmente um gesto “altruísta”, que objetiva a preservação das gerações futuras. Todos já estão sujeitos a sofrerem, de alguma forma, com as perdas causadas pelas mudanças climáticas.
Estudos mostram que 2014 foi o ano mais quente em todo o planeta desde o início dos registros, em 1880. Esse aquecimento, provocado em grande parte pela emissão de dióxido de carbono e de outros gases poluentes na atmosfera, é mais que um alerta. Estilos de vida que nos distanciam de nossa própria condição humana estão acabando com a natureza, que é generosa, mas não consegue acompanhar a dinâmica que produz o ilimitado desejo do consumo. Em discurso na Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), o Papa Francisco fez um alerta: “Deus perdoa sempre, os homens às vezes, mas a natureza nunca perdoa”.
O atual cenário exige uma postura diferente de cada cidadão e o investimento de governantes na consolidação de uma consciência ecológica. Todos são responsáveis por cuidar da Criação, dádiva de Deus. Países, povos e culturas devem se unir para buscar uma profunda e clarividente revisão do modelo de desenvolvimento econômico, para que não se esgotem os recursos necessários à vida. Essa revisão deve tocar o núcleo da economia global, o que implica rever prioridades, corrigir disfunções e deturpações. A grande mudança necessária deve começar com um gesto simples, de cada pessoa, que é convocada a refletir sobre o seu próprio modo de vida. Consumismo e desperdício integram a dinâmica de uma produção sem limites, que progressivamente conduz o planeta para o colapso.
O bem-aventurado Paulo VI já advertia que, “por motivo de uma exploração descontrolada da natureza, o homem começa a correr o risco de destruí-la e de vir a ser, também ele, vítima dessa degradação”. A falta de água é claro sinal de que a humanidade, como consequência de seus próprios atos, corre sério perigo. Uma triste constatação, que deve conduzir todos rumo a ações transformadoras. Infelizmente, se somos um mundo mais desenvolvido, com mais facilidades e oportunidades, somos também um mundo mais doente. E nossa vida está mais distante da indispensável proximidade com a natureza.
A grave crise hídrica enfrentada por muitas cidades brasileiras, a fome e os desastres ambientais que vitimam tantas pessoas no mundo, para serem superados, requerem a vivência de uma autêntica solidariedade capaz de fazer com que povos e gerações diversas se reconheçam como uma grande família. Afinal, as mudanças climáticas são prenúncio de que o planeta, a casa de todos, está em permanente ameaça.