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Diálogos Comunhão e paz

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“Cultivar ações solidárias em um mundo cada vez mais hostil é um desafio, pois, muitas vezes, a violência faz crescer um sentimento de revolta que, não raramente, endurece os corações”

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Grão-chanceler da PUC Minas Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte
Presidente da Sociedade Mineira de Cultura

O papa Francisco, na Carta Encíclica Louvado Sejas – sobre o cuidado da casa comum, lembra que “quando a justiça deixar de habitar a terra, a Bíblia diz-nos que toda a vida está em perigo”. O santo padre recorda a narração de Noé, “quando Deus ameaça acabar com a humanidade pela sua persistente incapacidade de viver à altura das exigências da justiça e da paz: O fim de toda a humanidade chegou diante de Mim, pois ela encheu a terra de violência (Gn 6,13)”. Assim, o texto sagrado ensina que a falta de paz é um mal que ameaça a todos, indistintamente. Coloca em risco o futuro da própria civilização. Por isso, não há outro caminho: é necessário investir na solidariedade e fazer, do próprio coração, lugar para se cultivar a paz.

Diante da violência que cresce, não basta apenas proteger-se, com medo dos riscos e prejuízos que a criminalidade provoca. Reforçar sistemas de segurança e evitar situações perigosas são medidas importantes.  Fundamental, porém, é perceber como a solidariedade pode ajudar na redução da violência. Trata-se de eficaz antídoto, contraponto às dinâmicas contemporâneas que distorcem o sentido verdadeiro da vida e não permitem reconhecer o outro, o irmão, como filhos e filhas de Deus. 

Cultivar ações solidárias em um mundo cada vez mais hostil é um desafio, pois, muitas vezes, a violência faz crescer um sentimento de revolta que, não raramente, endurece os corações. O caos se instala facilmente, comprometendo condutas individuais e, assim, assiste-se à ascensão da cultura da violência. Aceita-se, com certa apatia, um cenário em que tudo vale: corrupção, traficância, exclusão social, agressividade no trânsito, discriminações, atitudes egoístas. Cresce a indiferença diante da dor do outro, sobretudo em relação ao sofrimento de quem é mais pobre. 

Na Carta Encíclica Louvado Sejas, o papa Francisco fala sobre a “comunhão universal” e mostra que todos os seres vivos do planeta estão unidos. O cuidado com a natureza e com as pessoas com as quais se partilha “a casa comum”, tudo está interligado: “Deixamos de notar que alguns se arrastam numa miséria degradante, sem possibilidades reais de melhoria, enquanto outros não sabem sequer o que fazer com o que têm, ostentam vaidosamente uma suposta superioridade. Na prática, continuamos a admitir que alguns se sintam mais humanos que outros, como se tivessem nascido com maiores direitos”. Eis uma grave fonte da violência. Também na Exortação Apostólica Alegria do Evangelho, o papa sublinha que enquanto não se eliminarem a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos, será impossível erradicar a violência que, venenosamente, consome vidas, mata sonhos e atrasa avanços. 

Assim, é muito oportuna a convocação que deve ser acolhida por todos: a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nos convida a viver, em 2015, o Ano da Paz. Oportunidade para iniciar e fortalecer ações que busquem superar as muitas formas de violência. Cada pessoa deve reconhecer que a paz é um dom de Deus e precisa ser cultivada. Somente assim será possível evitar prejuízos, muitos irreversíveis, com a crescente hostilidade que tem marcado o mundo contemporâneo. Responder a violência com gestos de amor e fraternidade é uma atitude com força revolucionária. Reconhecendo que a vida de todos está em comunhão universal, cada pessoa deve ser coração da paz. 

Texto
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Grão-chanceler da PUC Minas Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, presidente da CNBB
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