revista puc minas

Diálogos Agentes da esperança

foto-dom-walmor-oliveira-de-azevedo

“Infelizmente, sem apropriada contrarreação, a desesperança e a indiferença abrirão caminho para o desprezo pela vida, com a projeção de totalitarismos, de extremismos, o desapreço à fé professada com autenticidade, à ciência e à verdade”

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Grão-chanceler da PUC Minas
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, presidente da CNBB

Muitas ciências têm se dedicado a explicações para a ascensão, mundo afora, de extremismos e totalitarismos, sustentados pela propagação de mentiras, de ataques fratricidas e por diferentes líderes a serviço da banalização do mal. Afinal, por que a humanidade, diante de tantas possibilidades para promover a vida, com mais inclusão e dignidade, desperdiça oportunidades? Na perspectiva da fé, há ainda os que perguntam sobre a razão de Deus permitir sucessivos equívocos dos seres humanos – erros que provocam a morte de muitos inocentes. Santo Agostinho, na sua singular inteligência, explica: o mal não é obra de Deus, mas resultado de inadequado emprego do livre-arbítrio pela humanidade. O mal surge e se fortalece quando o ser humano se distancia de Deus. Desse afastamento emergem dois pilares que sustentam o mal: a indiferença e a desesperança. Pode-se dizer, assim, que extremismos e totalitarismos são frutos destes pilares, a serem permanentemente combatidos.

O Papa Francisco, por diversas vezes, dirigiu-se à humanidade para denunciar as graves consequências da falta de esperança e de compaixão. São suas as expressões “globalização da indiferença” e “câncer da desesperança”, adequadas para denunciar o efeito devastador desses dois fenômenos na existência de cada pessoa e em toda a humanidade. Infelizmente, sem apropriada contrarreação, a desesperança e a indiferença abrirão caminho para o desprezo pela vida, com a projeção de totalitarismos, de extremismos, o desapreço à fé professada com autenticidade, à ciência e à verdade. Um vórtice que tudo devasta.
A ruptura do complexo ciclo que atenta contra a humanidade, multiplicando males, exige superar a desesperança e a indiferença, para reconquistar a força e a coragem sem as quais não se pode avançar, encontrando novos modos de viver e, consequentemente, transformar o mundo. Uma forma de agir “ao sabor do Evangelho”, conforme define São Francisco de Assis, citado pelo Papa Francisco na abertura de sua Carta Encíclica Fratelli Tutti. E sempre é oportuno lembrar: a vida que supera a morte é a que se torna oferta. Trata-se da lição de Jesus Cristo, amado Filho de Deus, que morreu na Cruz e ressuscitou, indicando o caminho para a humanidade.

Neste tempo em que tantos semeiam o ódio, dedicam-se a palavrórios, especialmente nas redes sociais, muitos pensam que o melhor caminho é retribuir na “mesma moeda”. Disseminar fake news para atacar quem propaga mentiras. Ridicularizar, com exposições na internet e em outras plataformas de comunicação, as pessoas que buscam ferir reputações disseminando calúnias. Definitivamente, não são essas reações que irão vencer extremismos, totalitarismos e tantas outras manifestações do mal. “Cada um de nós é chamado a ser um artífice da paz, unindo e não dividindo, extinguindo o ódio em vez de conservá-lo, abrindo caminhos de diálogo em vez de erguer novos muros”, orienta o Papa Francisco.

O amor, a ternura e a compaixão desconcertam cenários configurados pelo ódio, têm força para transformar intolerantes, vencendo as barreiras que impedem muitos de enxergarem o mundo com mais lucidez. Há uma espiral de violência que precisa ser vencida, resgatando seus agentes das trevas que os aprisionam nas irracionalidades. Homens e mulheres que propagam o ódio por não terem algo diferente a oferecer – precisam ser curados do “câncer da desesperança”, instruídos sobre as consequências da “globalização da indiferença”. “Não à cultura do confronto”: eis o pedido do Papa Francisco. Seja, cada pessoa, agente da esperança, para uma efetiva reação aos extremismos que ferem de morte a humanidade.

Texto
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Grão-chanceler da PUC Minas Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, presidente da CNBB
Foto
Gilberto Alves
Compartilhe
Fale Conosco
+ temas relacionados