Um diagnóstico participativo multidimensional realizado no entorno do Campus Coração Eucarístico da PUC Minas, englobando 12 bairros, identificou necessidades, potencialidades e características dessa região de Belo Horizonte. Entre as demandas, por exemplo, está a criação de um curso preparatório para o Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio. O levantamento foi feito pelo projeto de extensão Diagnóstico Participativo Multidimensional da Região do Campus Coração Eucarístico: oportunidades para projetos de extensão, ensino e pesquisa, coordenado pela professora Jacyra Antunes Parreira, do Curso de História, do Instituto de Ciências Humanas (ICH). Realizado em etapas, o diagnóstico focou, neste primeiro momento, nos aspectos relativos à educação, lazer e cultura.
“Fizemos esse diagnóstico participativo multidimensional exatamente para que questões relacionadas à educação, principalmente, fossem levantadas, sistematizadas, gerando um banco de dados. As atividades de extensão partem de um princípio básico, de um conhecimento prévio, seja de uma situação, grupo ou região”, explica a professora Jacyra. Atenta às oportunidades, ela articulou a oferta de um curso gratuito de apoio ao ensino médio, que vem acontecendo na Paróquia Bom Pastor, no bairro Dom Cabral, vizinho ao Coração Eucarístico.
De acordo com o diretor do ICH, Prof. Dr. Alexandre Magno Alves Diniz, os resultados do diagnóstico permitem a identificação de uma série de forças, que podem ser temas e objetos não só de pesquisas, mas também de ações extensionistas, uma vez que apon tam as grandes potencialidades e carências da região. “Com base nesse diagnóstico abrem-se várias perspectivas para projetos de extensão, para projetos de pesquisa e até projetos de ensino em conexão com esse entorno”, avalia.
Para a coleta dos dados, foram realizadas entrevistas com 16 pessoas, moradoras dos bairros, sendo que 12 delas participaram de um grupo focal, técnica de pesquisa qualitativa para a coleta de informações por meio de interações coletivas. “As nossas primeiras sementes foram os diretores das escolas públicas. A partir daí, eles indicaram outras pessoas, que foram fornecendo informações”, explica. Segundo a docente, os dados estão disponíveis para a comunidade e cursos que venham a desenvolver projetos na região. “É um diagnóstico em que levantamos várias situações problema”, observa.
Além do “cursinho” preparatório para provas e concursos, foi identificada a necessidade de mais esporte e cultura; acesso facilitado aos equipamentos e atividades promovidas pela PUC Minas; tombamento da Guarda de Congado do bairro Alto dos Pinheiros; e a oferta de cursos de formação em cidadania e educação política. O diagnóstico traz ainda informações sobre as principais características de bairros da região e a relação com a Universidade. De acordo com o estudo, ao mesmo tempo em que há um reconhecimento da excelência das ações extensionistas, há a preocupação com o impacto que a instituição exerce no desenvolvimento local.
Para a aposentada Thais Corrêa de Novaes, líder comunitária de 64 anos, moradora do bairro Dom Cabral, a Universidade tem o papel de buscar essa interação com a comunidade, oferecendo educação, cultura e lazer. “Poderia trabalhar no sentido dessa educação para a cidadania, que é uma coisa que o povo brasileiro precisa. Conhecer sua própria história, suas raízes, para construir de forma mais consciente o seu presente e o seu futuro como sociedade”, sugere Thais, que participou do grupo focal. Ela conta que esteve presente na devolutiva para a comunidade, quando a equipe de pesquisadores se reuniu no Campus Coração Eucarístico para apresentar os dados coletados. A luta dela é pela instalação de um novo centro cultural na região, após a transferência do Centro Cultural do Bairro Padre Eustáquio, na Feira Coberta, para o bairro Carlos Prates.
Integrando uma equipe de quatro extensionistas, o estudante Lucas Gabriel Gonçalves Correa, de 19 anos, do Curso de História, comenta os desafios de uma pesquisa como essa: “O projeto de extensão em si já tem o propósito de nos tirar dessa zona de conforto. Você não fica preso dentro de uma sala de aula. Você vai conhecer novos lugares, novas experiências, numa coisa mais prática, o que é um diferencial pra mim.” Depois de participar da extensão universitária, ele conta que passou a enxergar novas perspectivas de atuação. “Quando eu comecei a graduação, a minha ideia era especializar em História Antiga. Com a convivência com o projeto, com as pesquisas, isso me abriu novas possibilidades de uma área histórica que eu não tinha me atentado tanto, que é Belo Horizonte”, revela.
O diagnóstico participativo multidimensional tem continuidade neste ano de 2024, agora com foco na saúde. Para os anos seguintes, envolverá as áreas de assistência social, segurança pública e meio ambiente, com previsão de conclusão em 2026.