A universidade brasileira nasceu tardiamente, na primeira metade do século XX, tendo sido criada em 1920 a Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro. E foi só a partir dos anos 1950 e 1960 que as instituições universitárias despertaram para o seu compromisso social, muito por influência dos movimentos sociais. Destaque-se, nesse período, o trabalho de Paulo Freire, criando o Serviço de Extensão Cultural, na antiga Universidade do Recife, hoje Universidade Federal de Pernambuco.
Veio, depois, a Constituição Federal de 1988, que consagrou o princípio da “indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e Extensão” e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, que estabeleceu a Extensão Universitária como uma das finalidades da universidade.
Nessas últimas décadas, o Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas (Forproex) e o Fórum Nacional de Extensão das Universidade e Instituições Comunitárias (Forext) atuaram fortemente para superar o perfil assistencialista da Extensão. Experiências considerando as necessidades da sociedade surgiram em numerosas Instituições de Educação Superior (IES), criando alternativas concretas com base no diálogo universidade-sociedade, construindo consensos em busca da superação da tradição assistencialista e produzindo conhecimento acadêmico e científico de alto nível em favor dos cidadãos, de acordo com Oliveira Neto (2015).
Como afirma Boaventura Souza Santos (2004), “a área de Extensão vai ter no futuro próximo um significado muito especial. No momento em que o capitalismo global pretende funcionalizar a universidade e, de fato, transformá-la numa vasta agência de extensão ao seu serviço, a reforma da universidade deve conferir uma nova centralidade às atividades de Extensão (com implicações no curriculum e nas carreiras dos docentes) e concebê-las de modo alternativo ao capitalismo global, atribuindo às universidades uma participação ativa na construção da coesão social, no aprofundamento da democracia, na luta contra a exclusão social e a degradação ambiental, na defesa da diversidade cultural.”
No texto Extensão nas Instituições Comunitárias de Ensino Superior: Referenciais para a construção de uma Política Nacional de Extensão nas Ices, documento produzido por um grupo de professores de várias Ices, de cuja elaboração a PUC Minas participou ativamente, em 2013, sustenta-se que essas instituições têm, em sua história, “uma trajetória de experiências marcadas profundamente pela atuação de docentes e discentes junto aos movimentos populares e pelo seu envolvimento e compromisso junto a segmentos da Igreja com a população pauperizada e excluída” (Forext, 2013). Nesse sentido, a Extensão é uma atividade-fim das Ices que envolve uma ação pedagógica e cultural, que contribui para a formação de profissionais cidadãos, tecnicamente competentes e comprometidos com uma sociedade mais justa e fraterna.
As ações de Extensão Universitária na PUC Minas tiveram início na década de 1960, a partir de iniciativas isoladas dos departamentos e cursos de graduação que promoviam atividades culturais, conferências, cursos e prestação de serviços às comunidades em situação de vulnerabilidade. Em 1972, foi criado pelo reitor da então Universidade Católica de Minas Gerais, Dom Serafim Fernandes de Araújo, arcebispo de Belo Horizonte, o Centro de Extensão, que passou à Pró-Reitoria em 1983, com a atribuição pelo Vaticano do título de Pontifícia à nossa Universidade.
Estamos, portanto, neste ano de 2022, completando 50 anos de Extensão instituída e reconhecida na PUC Minas, que deverão ser comemorados neste mês de novembro, com outro evento. É tempo de celebrar e agradecer pelo reconhecimento e incorporação da Extensão à vida acadêmica. Nesse tempo, nossa Extensão experimentou um forte amadurecimento e hoje apresenta-se como um espaço privilegiado para a formação profissional que vai além do tecnicismo. Em outras palavras, a Extensão provoca situações concretas de vivência da realidade cotidiana, nas quais apresenta ao aluno desafios teórico-práticos, a serem solucionados. As problemáticas sociais que se apresentam no cotidiano despertam a curiosidade e o desejo para aprender, impulsionados por uma demanda societária que lhes faça sentido, buscando soluções possíveis a partir da construção de projetos coletivos.
Podemos afirmar que a Extensão Universitária luta sempre pela construção de uma sociedade mais justa, mais igualitária e melhor para todos. Acredita-se que a Universidade pode e deve contribuir para essa transformação societária, iniciando pela formação de profissionais mais humanos e solidários, capazes de olhar o outro e para o outro, sem estranhamento ou dificuldade para entender as diversidades, suas individualidades. A Extensão Universitária apresenta essa possibilidade, ou seja, a possibilidade de contribuir para a construção de uma sociedade melhor.
Nas últimas duas décadas, um movimento iniciado, de forma pioneira, na PUC Minas, propôs a introdução de ações de Extensão nos currículos dos cursos de graduação, o que foi sendo feito, de maneira experimental, ao longo de oito anos, em parceria com a Pró-Reitoria de Graduação, até 2018, quando a Câmara de Educação Superior publicou a Resolução nº 7/20218, que foi aprovada pelo plenário do Conselho Nacional de Educação (CNE) e homologada pelo Ministério da Educação. Inicia-se, então, uma nova era para a Extensão Universitária e para toda a educação superior do país, a curricularização da Extensão, para a qual a PUC Minas já está plenamente preparada. Dessa forma, a Extensão Universitária avança e cumpre de maneira mais sistematizada sua dupla função: oferecer oportunidade de uma formação acadêmica e profissional capaz de contribuir para a transformação social e contribuir diretamente para a sociedade na busca de soluções para seus desafios sociais, educacionais, de saúde, e na vivência de práticas realmente democráticas em todas as esferas.